Em artigo publicado no ano de 2005 o Antropólogo brasileiro Gilberto Velho já dizia que “Seria muito pretensioso e levemente insano munir-me de uma bola de cristal para lançar profecias mais ou menos obscuras sobre o futuro das ciências sociais. Certamente, essa não é a minha intenção, mas parece saudável, reavaliando o passado e pensando o presente, indicar algumas questões”. Aqui o autor desse texto já apontava alguns presságios. No Brasil atualmente o presidente Jair Bolsonaro divulgou em seu Tweeter que o governo estuda reduzir os recursos destinados a filosofia e sociologia, na área de Humanas, e concentrar as verbas em cursos “que gerem retorno imediato ao contribuinte, como veterinária, engenharia e medicina”. Também acrescentou dizendo que segundo ele, o Ministro da Educação, Abraham Weintraub, está estudando a alteração. “A função do governo é respeitar o dinheiro do contribuinte, ensinando para os jovens a leitura, escrita e a fazer conta e depois um ofício que gere renda para a pessoa e bem-estar para a família, que melhore a sociedade em sua volta”. Conforme Gilberto Velho, não podemos falar no futuro das ciências sociais sem atentarmos para sua dimensão institucional. Sabemos perfeitamente que a nossa atividade se dá dentro dos limites e possibilidades e diante de pressões da sociedade abrangente por meio de diferentes agências, grupos e redes de interesse, em que variáveis econômicas e políticas são determinantes. Nesse sentido, a situação da universidade é particularmente crucial, assim como de centros e institutos voltados para a pesquisa científica. De vários modos, a vida universitária tem perdido em quase todo o mundo parte de sua “aura”. As demandas produtivistas, a massificação, o utilitarismo tecnocrático e o enfraquecimento, em vários níveis, do Estado e do poder público têm colocado as instituições educacionais de ensino superior e pesquisa sob fogo cruzado e pressões dos mais variados tipos. Cobra-se da universidade uma abertura maior para atender um volume crescente de alunos, ao mesmo tempo que se solicitam dela resultados práticos e rápidos de suas atividades, os quais devem reverter em benefício de “interesses sociais” mais amplos. Embora os termos e categorias estejam um tanto desvalorizados, o fato é que tanto setores da “esquerda” quanto da “direita”, variando de país para país, e mesmo de momento para momento, questionam a tradição da vida universitária. As acusações de elitismo, de indiferença social e de afastamento do mundo prático e real misturam-se e têm resultado em cobranças que chegam a se efetivar em termos de políticas mais gerais. Portanto, descaracterizar e desqualificar a importância da Filosofia e da Sociologia é considerado como um total autoritarismo e falta de entendimento político e social. lembrando, que quando me refiro a política, eu quero dizer a política de Aristóteles.No ensino médio, uma das responsabilidades do professor de Sociologia é desenvolver, no aluno, a capacidade de problematizar o mundo a sua volta. Incentivá-lo a perceber situações que fazem parte de sua convivência como, por exemplo, a falta de interesse do governo local em atender às demandas de sua escola ou de seu bairro, ou ainda, a violência física, praticada, cotidianamente, no ambiente escolar. Provocar o estranhamento e a desnaturalização é desenvolver
a sensibilidade do aluno para enxergar sociologicamente o mundo, a partir de diferentes questões que o cercam diariamente (GUIMARÃES, 2014). O estudo da Sociologia no Ensino Médio pode despertar e potencializar, nos estudantes, a capacidade para uma leitura racional e coerente do mundo em que vivem. Ainda nos resta algum fio de esperança que num mundo marcado pela massificação em série, ainda seja possível a formação de jovens capazes de refletir e deliberar com autonomia e liberdade. Eis aqui a relevância do ensino da Sociologia e da Filosofia para uma educação que se propõe a construir consciências críticas e éticas, ao invés de meros autômatos programados para produzir e consumir.