Porta de entrada para a população em situação de vulnerabilidade social, a Assistência Social exige dos profissionais um esforço diário em tempos de pandemia.
Sob o comando do Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Assistência Social (Seas), os 200 trabalhadores do Sistema Único de Assistência Social (Suas), entre assistentes sociais, psicólogos e técnicos de outras áreas, têm se dedicado a fortalecer a garantia de direitos, condições dignas de sobrevivência e autonomia à população em situação de rua nas três bases emergenciais de acolhimento provisório.
As bases funcionam na Arena Amadeu Teixeira, no Centro Estadual de Convivência da Família (CECF) Miranda Leão e no Centro Educacional de Tempo Integral (Ceti) Áurea Pinheiro Braga. Juntas, têm a capacidade de atender 270 pessoas em situação de rua e compõem o Plano de Intervenção para População em Situação de Rua como estratégia de prevenção da Covid-19.
O plano institui a oferta de refeições, higienização, triagem médica e atendimento psicossocial, além de informações sobre inserção no Cadastro Único e acesso a benefícios emergenciais governamentais.
A titular da Seas, Márcia Sahdo, explica que, a partir do momento em que o governador Wilson Lima decretou estado de calamidade pública no Amazonas, por conta do novo coronavírus, a Seas criou estratégias para que atender esse segmento social destacando suas necessidades prioritárias.
“Nosso Plano de Contingência Emergencial Intersetorial como medida preventiva diante da pandemia do novo coronavírus a pessoas em situação de rua envolve todos os entes da rede socioassistencial. Temos obtido bons resultados nas várias frentes de trabalho em que estamos atuando e nossa equipe tem sido exemplar”, assinalou.
Estar na linha de frente do atendimento tem sido desafiador para a gerente de Alta Complexidade do Departamento de Política de Proteção Social Especial (DPSE), da Seas, Ana Paula Angiole. A assistente social, que coordena a base do Ceti Áurea Braga, avalia que a Covid-19 expõe a fragilidade das pessoas e mostra os invisíveis na sociedade, o que requer dos gestores respostas rápidas.
“Estamos diante de uma situação anormal que excede a capacidade de resposta do município ou do estado atingido, por isso a população precisa compreender seu papel para evitar a disseminação do coronavírus”, assinala.
Angiole explica que, assim como a área da saúde e segurança, a Assistência Social compõe os serviços essenciais. Os profissionais destas áreas continuam atuando em situações de emergência, deixando o medo para o segundo plano.
“Não é que não tenho medo. Tenho sim, e o medo maior reside na possibilidade de passar o vírus para meus filhos, que são de grupo de risco, mas não podemos negar atendimento à população, mesmo numa situação de calamidade pública, em que nossas vidas também correm riscos”, assinala, destacando que o artigo 3º do Código de Ética do Serviço Social institui ser dever do assistente social participar de programas de socorro à população em situação de calamidade pública.
Uma das coordenadoras da base emergencial da Arena Amadeu Teixeira, em funcionamento desde o dia 25 de março, com capacidade para 120 pessoas, Adriana Pellin explica que o público em situação de rua, assim como a população em geral, requer um trabalho de sensibilização constante sobre as recomendações de higienização para prevenir a Covid-19. Além disso, trata-se de um segmento exposto a riscos e vulnerabilidades, abrangendo muitos egressos do sistema prisional, dependentes químicos, soropositivos e pessoas de saúde mental fragilizada.
“Nenhum deles está saudável o suficiente e diante de tantos desafios para sobreviver, a Covid-19 não parece ser um grande problema. Cabe a nós sensibilizá-los, o que é desafiador para todos”, explicou ela.
A psicóloga Evelyn Albuquerque está desenvolvendo, juntamente com o psicólogo Ednaldo Gomes, escutas emergenciais, rodas de conversa, musicoterapia, doação de livros, incentivo a leituras e resolução de conflitos entre os abrigados do Ceti Áurea Braga e da Arena Amadeu Teixeira.
“Ao acolhermos esta população, pôde-se perceber que a necessidade deles está para além do ‘sentir-se seguro’ em um ‘lar’”.
A psicóloga assinala que, se esse trabalho fosse realizado fora do momento de pandemia, seria uma atividade em que todas as técnicas desenvolvidas na psicologia seriam utilizadas, e os resultados percebidos de forma mais rápida.
“Mas, ao se tratar de uma pandemia, temos vivenciado junto com eles o sentido literal da frase ‘um dia de cada vez’”. Mesmo assim, ela acredita que é possível realizar um bom trabalho: “Explicamos para eles a dimensão deste mal que nos assola e percebemos que, para eles, o Covid-19 é só mais uma dentre as inúmeras dificuldades que enfrentam no dia a dia de luta nas ruas”.
Considerando que as pessoas em situação de rua são mais sujeitas a riscos sociais, pessoais e de saúde, a Seas colocou em prática o Plano de Contingência Emergencial Intersetorial como Medida Preventiva diante da Pandemia da Covid-19 para esse público. As ações estão sendo articuladas em parceria com as secretarias estaduais de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejusc), de Saúde (Susam), de Educação e Desporto e de Segurança Pública (SSP-AM), e com o Fundo de Promoção Social e Erradicação da Pobreza (FPS). Orgãos municipais e Organizações a Sociedade Civil, fomentadas pelo Governo do Estado, também participam das ações intersetoriais.
O plano abrange ofertar espaços descentralizados de higienização e alimentação, bem como um bases emergenciais de acolhimento provisório para a população em situação de rua. Prevê também atendimento psicossocial, triagem médica, campanhas para arrecadação de gêneros alimentícios, roupas e itens de higiene pessoal e de ambientes para manter os serviços em funcionamento. Neste sentido, o apoio da população tem sido fundamental para os bons resultados.
Confira as bases emergenciais de acolhimento provisório para a população em situação de rua coordenadas pela Seas
- • Arena Amadeu Teixeira (Alvorada)
- Capacidade de atendimento: 120 pessoas
- • Ceti Áurea Pinheiro Braga (Compensa)
- Capacidade de atendimento: 120 pessoas
- • Centro de Convivência da Família Miranda Leão (Alvorada)
- Capacidade de atendimento: 30 pessoas
- Fonte: Secom
- Imagem: Miguel Almeida/Seas