“Toda essa destruição não é nossa marca, é a pegada dos brancos, o rastro de vocês na terra” Davi Kopenawa Yanomami
Conforme informações levantadas com base nos boletins das Secretarias Estaduais de Saúde sobre a pandemia e compiladas pela iniciativa Brasil.io. Para os casos indígenas, a fonte é a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), subordinada ao Ministério da Saúde (MS).
O atendimento aos indígenas que vivem nas cidades está sendo feito nas estruturas de saúde municipais e estaduais – fora do sistema de saúde indígena. Não há um monitoramento oficial desses casos.
Dados atualizados em 25/05/2020 20:11:33
Acesse o Mapa de vulnerabilidade nas Terras Indígenas a COVID-19=>https://covid19.socioambiental.org/
Estudos em várias partes do mundo e no Brasil atestam, no entanto, que os índios são mais vulneráveis a epidemias em função de condições sociais, econômicas e de saúde piores do que as dos não índios, o que amplifica o potencial de disseminação de doenças.
Condições particulares afetam essas populações, como a dificuldade de acesso aos serviços de saúde, seja pela distância geográfica, como pela indisponibilidade ou insuficiência de equipes de saúde.
O Subsistema de Saúde Indígena
Desde a criação da Fundação Nacional do Índio (Funai), em 1967, diferentes instituições e órgãos governamentais se responsabilizaram pelo atendimento das populações indígenas.
Em 1999, essa política mudou, resultando na criação do subsistema de saúde indígena do Sistema Único de Saúde, organizado em 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dsei).
Em 2010, graças à pressão do movimento indígena, foi criada a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), vinculada ao Ministério da Saúde.
Os DSEIs são responsabilidade da Sesai, e foram delimitados a partir de critérios epidemiológicos, geográficos e etnográficos. Nos DSEIs são realizados atendimentos de baixa complexidade.
As ocorrências de alta complexidade ficam a cargo de hospitais regionais, implicando, para isso, um aparato para remoção dos doentes. Os DSEIs ainda possuem unidades menores, os Polo Base, subdivisões territoriais que funcionam como suporte para as Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena se organizarem técnica/administrativamente. Para atendimento dessa população existem 528 unidades básicas de saúde indígenas, segundo dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde.
O subsistema do Sistema Único de Saúde
Para caso de Covid-19 dos povos indígenas, O subsistema do Sistema Único de Saúde criado para atender a saúde indígena sofre com a falta de estrutura e de recursos para tratamento de complicações mais severas como a Covid-19.
Além disso, os modos de vida de muitos povos criam uma exposição às doenças infecciosas a qual as pessoas nas cidades não estão submetidas. Grande parte dos povos indígenas vive em casas coletivas, e é comum entre muitos deles o compartilhamento de utensílios, como cuias, tigelas e outros objetos, o que favorece as situações de contágio.
A dificuldade e escasses para acesso aos serviços de saúde aos povos indígenas, está acarretando a morte de muitos índios de etnias que já se encontram históricamente enfrentando dificuldade para existir.
Conforme BBC news Brasil em Brasília, profissionais de saúde com covid-19 circulando em aldeias indígenas, médicos fazendo vaquinha para comprar oxigênio para pacientes intubados, comunidades inteiras apresentando sintomas da doença.
As cenas, descritas à BBC News Brasil por médicos e enfermeiros que atuam no município de São Gabriel da Cachoeira, ilustram a gravidade da pandemia no interior do Amazonas, onde ficam 13 das 20 cidades brasileiras com a maior proporção de moradores infectados.
Sem qualquer caso de covid-19 até 26 de abril, São Gabriel da Cachoeira já é a 15ª da lista, com 999 registros por 100 mil habitantes. Desde então, morreram, ali, ao menos 15 pessoas de covid-19.
Líderes comunitários afirmam que o número de mortes é provavelmente maior, pois nem todos os doentes que apresentaram sintomas foram examinados antes do óbito. Foi o caso, por exemplo, do artista plástico Feliciano Lana, de 83 anos, que morreu na comunidade São Francisco em 12 de maio.
O avanço da doença pelo município, localizado na fronteira do Brasil com a Colômbia e a Venezuela, expõe ainda a chegada da epidemia a uma das etapas mais temidas por especialistas: o espalhamento do vírus entre comunidades indígenas.
Segundo o Censo de 2010, 76% dos moradores de São Gabriel são indígenas – a maior proporção entre todos os municípios do país. Mais da metade dos 45 mil habitantes de São Gabriel da Cachoeira vive fora da cidade, em comunidades nas Terras Indígenas Alto Rio Negro, Balaio e Yanomami. Só se chega de barco ou avião ao município, que tem área equivalente à de Portugal.
- Fonte: Instituto Sócio Ambiental.
- Imagem: Divulgação.