O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, participou na manhã desta quarta-feira, 27/5, de uma reunião virtual com o prefeito de Miami, Francis Suarez, e o vice-prefeito de Segurança Pública de Los Angeles, Jeff Gorrel, para trocar experiências sobre o combate à Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus.
O encontro foi promovido pela Frente Nacional de Prefeitos (FNP) e mediado pelo prefeito de Vitória, Luciano Rezende, vice-presidente de Relações Internacionais da FNP. Eles debateram sobre as medidas adotadas durante a pandemia, as relações com os demais entes federativos, a influência dos processos eleitorais e o que o futuro reserva a esses municípios, suas economias e populações.
“Eu não estou convencido de que reabertura das atividades econômicas sejam benéficas neste momento. O governador do Amazonas, Wilson Lima propõe a reabertura a partir de 1º de junho, mas eu considero uma decisão prematura. Não houve preparação para isso”, afirmou o prefeito, que teme uma retomada na curva de contágio em proporções maiores e mais letais em todo o Estado, com reflexos muito negativos para Manaus.
“Se fosse uma realidade isolada, eu diria que Manaus está controlada. Mas não é. O interior é desvalido, não tem estrutura. E tem as populações tradicionais, como os povos indígenas. Então, temo que, em Manaus, soframos uma segunda onda, que poderia ser muito mais grave que a primeira”, reforçou. “No momento, vivemos uma contradição: o número de mortes caiu, mas o número de pessoas infectadas aumentou”, frisou.
As três cidades representadas na conferência coincidem em ter apresentado números grandes de infectados e de mortalidade e de terem adotados medidas rígidas para o isolamento social.
“Tivemos que adotar medidas drásticas, criar a cultura do isolamento. Fechamos escolas, comércio, convencemos as pessoas que era necessário ficar em casa, que era necessário usar máscaras”, disse Gorrel, cuja cidade – Los Angeles – é um destino turístico importante. O mesmo ocorre com a cidade de Miami, cujo fluxo de turistas é de 15 milhões de pessoas, três vezes mais que a população de todo o Estado da Flórida.
Arthur Virgílio, como os demais prefeitos, defendeu que o isolamento social é a principal medida no combate à Covid-19 e lamentou a falta de entrosamento entre os entes governamentais para combater a pandemia.
Ele voltou a fazer críticas ao presidente Jair Bolsonaro, que adota “uma pregação incessante contra o isolamento social, minimizando a Covid-19 como uma gripezinha”, citou.
Embora os prefeitos das cidades americanas também tenham afirmado que houve uma “mensagem truncada” vindo da Casa Branca, eles listaram uma série de ajudas financeiras para o enfrentamento da pandemia. “Aqui, tivemos uma reunião com o Ministério da Saúde e foi sinalizado uma verba para ajudar Estados e municípios, e até agora, nada”, afirmou o prefeito de Manaus.
Outro ponto do debate foi sobre a influência dos processos eleitorais no enfrentamento da pandemia. Nos Estados Unidos, este ano será realizada a eleição presidencial, enquanto no Brasil, serão realizadas as eleições para a escolha dos mais de 5,5 mil prefeitos municipais. O TSE e o Congresso Nacional avaliam a possibilidade de adiar a data das eleições, mas não há, até o momento, a possibilidade de estender os atuais mandatos.
Os prefeitos americanos temem que os reforços financeiros destinados à recuperação das economias locais pós-pandemia venham contaminados pelas cores partidárias.
O mesmo que pode ocorrer no Brasil, com municípios “amigos” sendo privilegiados e os adversários relegados.
“O governo Central não está se preocupando tanto com destino das pessoas. Nós tivemos uma queda de 5% a 7% do PIB e não sei o que será no próximo ano. Eu tenho pena dos próximos prefeitos, porque eles pegarão uma severa recessão, seguida de uma outra que durou 30 meses”, advertiu Arthur Virgílio.
Quanto à restrição de voos entre os países de maior contágio, como Brasil e Estados Unidos, o prefeito de Miami defendeu que “todos se beneficiam se impedirmos voos entre pontos com muita Covid-19. Além disso, é temporário e nos permite focarmos somente nas questões internas sem termos que nos preocupar também com as externas. É uma via de mão dupla”, avaliou Francis Suarez.
Em sua mensagem final, Jeff Gorrel foi enfático. “Quem tem o poder para resolver essa situação é o povo, fazendo o isolamento, usando as máscaras. Se as pessoas entenderem isso sairemos dessa situação. Mas, se não entenderem, será necessário voltar às regras rígidas e a retomada da normalidade vai demorar ainda mais”, concluiu.
Para Arthur Virgílio, é preciso cautela. “É uma ilusão achar que reabrir a economia vai gerar emprego. O que vai acontecer, se não houver cautela, é mais pessoas doentes e uma segunda onda de casos”, encerrou.
- Redação/Fonte: Jacira Oliveira / Semcom
- Imagem: Alex Pazuello / Semcom