sábado, novembro 23, 2024

Covid-19 – “Apolíticos” – Assistentes Sociais do Amazonas estão de mãos “atadas” por falta de representatividade política.

“Por gentileza, alguém poderia informar se tem algum lugar que tenha oxigênio para vender? Pergunta o Assistente Social na linha de frente da Covid-19 em Manaus.

“Alguém conhece a assistente social […], meu primo está internado lá e não consigo ter nenhuma informação sobre ele, há mais de dois dias”. Pergunta a Assistente Social desempregada e desesperada por notícias sobre o primo. (O primo foi encontrado morto no corredor do hospital).

É o Serviço Social contra o Coronavírus e em defesa do direito à vida.

Esse slogo de propaganda é contraditório, comparado as vidas perdidas e ao descaso e abadono que milhares de profissionais de saúde estão passando, atuando na linha de frente no combate à Covid-19 nos minicípios do Estado do Amazonas. Por aqui, as coisas acontecem muito devagar! 

Nossas condições de trabalho e de saúde significam proteção também para cada um de nós! 
verdade! mas a atual condições de trabalho enfrentadas pelos profissionais de serviço social, denunciam o cotidiano histórico de problemas como:

  • Falta de articulação entre as redes de serviços e os profissionais (cada um trabalhando no seu quadrado);
  • Falta de dialógo e medo de denunciar;
  • Falta de representação política e crescente movimento negacionista e de descrédito do Projeto Ético Político Profissional.
  • Crescente troca de favores e práticas assistencialistas executadas nos municípios como moeda de troca de votos e blocos de manobras políticas de influência negativa junto as lideranças comunitárias e de movimento sociais.
  • Permanência de conduta estática, (in) coletiva e de continuidade de práticas tradicionais conservadoras e religiosas nos ambientes de atuação profissional, ferindo a liberdade, democracia, pluralismo, justiça social e o combate à toda forma de preconceito.

Acima, foram citadas algumas das situação problemas que culminam na falta de respeito com os assistentes sociais do Amazonas. Essas são algumas das questões que respondem o atual cenário “precário” e vergonhoso que essa profissão se encontra, por conta também da própria “omissão”. Apesar da luta histórica dessa profissão, grande parte dos assistentes sociais que hoje atuam no Amazonas estão “calado”, “neutralizados”, “imobilizados”, e “apolíticos”, seja pelo medo de perderem seus empregos, seja pelo medo de não conseguir a promessa de um emprego. Temos nos avaliado por baixo e não estamos conseguindo perceber, ou reconhecer as posibilidades e a capacidade de mobilização de massa que esta profissão possui. 

Sobre os Determinantes Sociais e a Questão Social na Saúde Pública do Amazonas 

Na linha de frente do combate à Covid-19 no Estado do Amazonas e prioritariamente na  cidade de Manaus, ficou invisível a atuação dos assistentes sociais. Quem nunca ouviu: “o que faz mesmo o serviço social?”. Para os usuários, essa pergunta consegue ser respondida facilmente, logo após um encaminhamento recebido para acesso ao serviço do SOS Funeral,  através do olhar aflito e depois pelo fraco sorriso de agradecimento em meio à lágrimas que insistem a cair.

Essa profissão exerce um papel fundamental ao atuar diretamente na “questão social”, naqueles problemas que afeta diretamente o dia a dia das pessoas sobre a concepção da saúde comprovamanete percebida nos aspectos complexo do biopsicossocial.

A dimensão complexa do biopsicossocial, está intrissicamente relacionada a definição da Organização Mundial de Saúde (OMS), sobre os determinantes sociais da saúde, que estão relacionados às condições em que uma pessoa vive e trabalha. Também podem ser considerados os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos, comportamentais e que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e fatores de risco à população, tais como moradia, alimentação, escolaridade, renda (benefícios) e emprego. Por isso, os determinantes sociais não podem ser avaliados somente pelas doenças geradas, pois vão além, influenciando todas as dimensões do processo de saúde das populações, tanto do ponto de vista do indivíduo, quanto da coletividade na qual ele se insere.

Esse é o maior desafio! Como prestar uma competente e crítica atuação do Serviço Social na área da saúde em tempos como o de hoje, em uma pandemia, onde a capital mundial da Covid-19 é Manaus, e aqui, as descontinuidades e precariedade das políticas públicas são maiores?

Colocar em prática a sintonia, mobilização, articulação e operacionalização do trabalho em condições tão precárias, desmotiva, fragiliza e desqualifica a atuação do Serviço social.

Vários grupos de whatsApp voltados para a categoria profissional, desaguam todos os dias uma avalanche de denúncias, de desespero, de sentimento de impotência, de desamparo e de tristeza. Dos muitos profissionais de saúde e assistência social, não reconhecidos durante esse caos na saúde, os assistentes sociais são os mais esquecidos. Das categorias profissionais contratadas emergencialmente para atuar na pandemia, esses profissionais por muitas vezes, se quer são lembrados.

Sobre a atuação voltada para a população em situação de vulnerabilidade social, a Assistência Social neste período de pandemia, mostrou a importância da força profissional dos assistentes sociais, no esforço para realizar o acolhimento provisório de pessoas em situação de rua na primeira onda, porém, nesta segunda onda, não se percebe mais uma atuação coordenada, articulada e colocada em prática como em 2020. A assistência social estadual e municipal não apresentam ações precisas e de impactos emergênciais positivos nesse novo cenário chamado como “segunda onda”. 

A corda está solta! É necessário que os gestores dos municípios do Amazonas respeitem as competências técnicas da categoria profissional do Serviço Social, onde ainda, repudia-se a escolha de cargos comissionados sem nenhuma competência técnica exigida para assumirem pastas como o da Assistência social nos municípios do Estado do Amazonas. Quando existe a competência exigida, os profissionais colocados para assumirem tais cargos, apresentam por vezes uma vergonhosa atuação profissional, articulada e comprometida com a “politicagem”, e com isso, é a população “usuários” do serviço que sofrem na pele o prejuízo.

“Estamos em um novo tempo, que exige uma definitiva quebra com o passado tradicional e conservador, um novo compromisso com o presente e uma verdadeira mudança de pensamento e de conduta com o futuro dessa profissão. Estamos em tempos de uma necessária postura de inovação, que faça valer o potencial extremo e invisível da força desta categoria profissional do serviço social, onde possamos conseguir fazer valer a luta legítima e abnegada da liberdade de todos, inclusive de nós, assistentes sociais” .Erica Barbosa.

  • Para todos os que atuam e atuaram na linha de frente do combate à Covid-19;
  • Para todos os que perderam entes queridos e amigos;
  • Para todos os Assistentes Sociais que partiram!

 


Artigo de Opinião 

Erica Barbosa – Formação em Serviço Social; Mestre em Saúde, Sociedade e Endemias na Amazônia pela Fiocruz/Ufam; especialista em História da Saúde e Educação. Atuou como Professora Universitária. Atalmente atua como pesquisadora e apresentadora do Portal Manaós.
  • Imagem: Divulgação

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1 COMMENT

  1. Muito obrigada pelo artigo. Me sinto representada nessas palavras. Mas ao mesmo tempo, sinto tristeza pela constatação já conhecida, dessa realidade que “insiste em permanecer”, entre aspas porque nao sei se nao muda pela nossa permissão. Mas como você relata, é o que se percebe. Mesmo assim, é uma Mudança que eu anseio.

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