“É desonesto e anticientífico você atribuir, praticamente, todo o caos de Manaus e do Amazonas a essa nova variante. Para fazer essa afirmação você tem que ter provas e não temos provas.” disse o epidemiologista Jesem Orellana, da Fiocruz/Amazônia.
O cientista critica a FVS-AM (Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas), por permitir a flexibilização das medidas de distanciamento social em Manaus e ignorar os avisos da ciência, o que, segundo ele, vem ocorrendo desde a primeira onda da epidemia.
No dia 21 de janeiro, o biólogo Lucas Ferrante, do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia) avisou pessoalmente ao prefeito da cidade sobre o risco de uma nova onda de casos da Covid-19.
“Foi uma reunião rápida, de menos de 30 minutos. Acompanhado de três assessores, o prefeito chegou a sinalizar que poderia adotar o lockdown para salvar vidas. Mas o discurso logo mudou, e o aviso do cientista foi ignorado.” Conforme relato ao Portal The Intercept.
Lucas e outros sete pesquisadores elaboraram uma pesquisa que aponta os motivos do caos: a falta de políticas públicas e a omissão de órgãos do Estado em relação ao isolamento social, as altas taxas de transmissão da nova variante do vírus e a reinfecção por perda de imunidade, analisada em pacientes seis meses após a primeira infecção.
Por isso, os cientistas defendem um lockdown mais severo e não um “faz de conta”, como Orellana avalia as medidas tomadas.
“A alternativa é o lockdown com mais de 90% de isolamento e a vacinação de toda a população de Manaus. Se não for tomada nenhuma iniciativa uma terceira onda será mais longa e matará muito mais gente […] Ou fecha toda Manaus, agora, ou Wilson Lima [governador] e o presidente Bolsonaro serão responsáveis pelo impacto de mais contaminações e mortes”, afirmou Ferrante.
- Fonte: The Intercept / De Amazônia
- Imagem: Jeff Pachoud/AFP