segunda-feira, julho 8, 2024

Manaus – “Perdi uma amiga, uma confidente” – Mãe de Manuela Otto pede justiça pelo assassinato da filha.

A repórter Érica Barbosa entrevistou Hilma Santos, mãe de Manuela Otto, a mulher trans que foi brutalmente assassinada no sábado passado. A entrevista faz parte do projeto Por Elas, uma iniciativa para dar voz à mulheres em discussões sobre temas diversos.

A morte de Manuela chocou a cidade por conta da violência e da impunidade que sondam o caso. Sua mãe, Hilma, fala sobre a filha.

 

Justiça por Manuela Otto

Dona Hilma conta que Manuela era sonhadora, trabalhadora, sempre amou as artes e se sentia realizada trabalhando no ramo do teatro. Trabalhava com crianças sempre com um coração puro.

A mãe de Manuela pede justiça pelo crime cometido contra a filha para que ela não seja mais uma estatística.

“Meus dias nunca mais serão os mesmo, mas eu sigo com muita fé em Deus, pedindo que seja feita a justiça e ele (o polícia militar acusado) pague pelo crime que ele cometeu. (…) Ele era uma pessoa que deveria nós dar total segurança.

 

O dia do crime

Dona Hilma conta que sentiu uma angústia muito grande momentos antes de Manuela sair naquela noite de sábado e chegou a pedir para a filha ficar em casa. Na manhã do dia seguinte, quando percebeu que Manuela ainda não havia chegado, a mãe preocupada ligou e mandou várias mensagens, sem obter retorno.

Ao decorrer do dia, a angústia de dona Hilma apenas aumentou. Por volta de 20h30, ela recebeu uma ligação do IML informando que haviam encontrado o celular de Manu em um quarto de pousada.

“Naquele dia o chão se abriu pra mim e até hoje eu to nesse pesadelo. Parece que a qualquer hora eu vou acordar e tudo não vai passar de um terrível pesadelo.”

 

O direito à fala

Dona Hilma falou sobre a importância de trazer o caso a público e exigir justiça pelo crime cometido contra a filha

“Muitas mães que já passaram pela mesma situação se calaram por não terem apoio. Hoje eu só peço justiça, igualdade e respeito”

 

A violência póstuma

Muitos portais de notícia vêm alegando que o acusado teria assassinado Manuela após ela ter anunciado viver com HIV. No entanto, dona Hilma afirmou que, segundo os autos obtidos por sua advogada, o acusado permaneceu calado, afirmando que falaria apenas em juízo.

Durante a investigação, foram realizadas busca e apreensão na casa do policial e ele também passou por perícia para reconhecimento da tatuagem. O delegado afirmou que ele mesmo era o autor.

 

Família e aceitação

Diferente de tantos casos, Manuela era amada e aceita em sua família, sua mãe conta que a apoiou durante seu processo de transição.

“Sempre comprei as brigas dela, sempre procurei estar com ela, apoiando em todos os momentos.”

Segundo dona Hilma, ela sempre viu Manu com verdade, por quem ela era. Com o tempo, aos 12 anos, sua mãe encontrou uma cartinha guardada em uma caixa que ela chamava de “caixinha do amor”, onde guardavam fotos do finado pai e cartas para ele.

“Eu já sabia, então quando eu li a cartinha, a chamei e falei: Eu amo você por quem você é, não precisa você mudar nada. Só que você seja uma pessoa digna, honrada, não faça mal a ninguém e no resto eu to com você”

Contando com o apoio da família, aos 20 anos, Manuela iniciou a transição para se assumir Manuela Otto. Sua mãe ficou preocupada com o preconceito da sociedade mas afirma ter ficado feliz com felicidade da filha.

“Todos nós amamos muito a Manu, todos (da família) respeitaram ela.”

“Pais e mães, respeitem seus filhos. Quem ama cuida, protege, aceita do jeito que é, não precisa ninguém mudar para ser amado.”

O crime gerou grandes debates sobre a impunidade, a violência e o preconceito contra a comunidade LGBTQI+. O Brasil é o país que mais mata pessoas trans em todo mundo, acumulando histórias de pessoas reais em estatísticas. Justiça por Manuela Otto e a todas as vidas perdidas pelo preconceito.


  • Fonte: Beatriz Trindade – Redação Portal Manaós
  • Imagem: Divulgação

 

 

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