Nesta última terça-feira (29), a apresentadora do Portal Manaós, Letícia Barbosa, entrevistou o cientista político e advogado, Helso Ribeiro. A pauta selecionada foi o voto impresso e processo eleitoral para 2022.
Recentemente, o grupo mais bolsonarista (que apoia o presidente da República Jair Bolsonaro) da Câmara Federal, liderado pelo deputado Filipe Barros (PSL-PR), apresentou um relatório a favor da adoção do sistema de voto impresso. Em contrapartida, Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), voltou a defender a lisura da urna eletrônica – utilizada no Brasil desde 1996.
Letícia inicia a entrevista indagando o professor, se realmente ele acredita, em concordância com o presidente do TSE, que o voto impresso seja um retrocesso para o sistema eleitoral brasileiro.
“Eu discordo do presidente do TSE, Letícia. O admiro muito, leio todas suas obras, e realmente, possuo profunda admiração. Mas isso não significa que vou concordar com tudo que ele afirma”, introduz o professor.
“Vejo que essa questão do voto impresso se tornou uma bandeira político-eleitoral. Faço a pergunta ao webnauta, o seu celular de 10 anos atrás, é o mesmo de hoje? Claramente não, seu celular se modernizou. Então, as urnas seguem a mesma linha, é normal que elas se modernizem. São 25 anos de uso das urnas, para mim é uma ferramenta exitosa, nunca houve uma comprovação de fraude. Mas, não é por isso que não podemos pensar em moderniza-la. Acredito que vamos avançar no processo eleitoral, que usaremos apenas nossa biometria, sem precisar do documento com foto, que poderemos votar de qualquer lugar no Brasil, então, nesse sentido, discordo de algumas decisões do TSE. Igualmente, para mim, acontece com a questão do voto auditável. Então, nesse aspecto, discordo de Luís Roberto Barroso, mesmo que eu seja muito fã dele”, complementa.
Baseada nas perguntas de seguidores do Portal, enviadas pelas redes sociais, a entrevistadora questiona ao professor: “Quais seriam os principais prós e contras da implementação do voto impresso?”
“Eu vejo muito pouco contra. Esta questão está sendo partidarizada, eleitoralmente. Acredito que daqui a vinte anos, vamos rir desse cenário, por estar discutindo tudo isso, visto que será dessa forma [uso do voto impresso nas eleições]. Vale lembrar que a maioria dos países que adotam o sistema de votação como o nosso, já possui esse voto impresso. Vale explicar como está esse projeto da utilização do voto impresso. Você continuaria usando a urna eletrônica, digitando o número do candidato e ao lado teria uma impressora, em que seu voto cairia diretamente em uma urna. Caso houvesse alguma reclamação, você faria a auditagem naquela sessão eleitoral. Acredito que ele proporcione uma segurança maior às eleições”, respondeu Helso.
Por conseguinte, Letícia traz o fato de que, mesmo sendo proibido, algumas campanhas eleitorais para o ano de 2022 já foram iniciadas. Destacando que, mesmo em cenário de piora da pandemia e das condições econômicas, é observada a persistência de uma certa popularidade do presidente Jair Bolsonaro. Helso Ribeiro, em seguida, comenta a situação:
“Eu acompanho presidente Bolsonaro desde quando ele foi eleito vereador no Rio de Janeiro. Com um discurso muito polêmico, sempre com aquela bandeira do ‘bandido bom é o bom bandido morto’. Dois anos depois, abandonou a Câmara dos vereadores, ao ser eleito deputado federal. A partir dali, acredito que ele foi eleito 4 ou 5 vezes, a cada eleição com mais votos. Eu diria que o presidente defende uma política radical, extremada, e muitas pessoas se identificam com isso”, opinou.
“Em relação ao Brasil, temos há muitos anos o PT em primeiro ou segundo colocado na eleição presidencial. E nos 14 anos de presidência do partido, 8 com Lula e 6 com Dilma, acredito que houve um desgaste da imagem do Partido dos Trabalhadores. Pessoas de uma política refratária a do PT queriam um nome novo, e Jair Bolsonaro, apesar do extremismo, surgiu como essa ‘diferença’. Insistindo naquele discurso de segurança, sem citar reforma da previdência ou qualquer política econômica. Mesmo assim, ele ainda possui essa certa popularidade”, complementou.
Em seguida, a entrevistadora introduz, nessa questão do processo eleitoral, a tentativa de parte da população em estabelecer uma “terceira via”, na qual o país fugiria deste processo de “polarização” entre Esquerda e Direita. Helso responde, segundo sua convicção:
“Letícia, o que eu vejo, é uma postura muito maniqueísta. Primeiro, é importante lembrar, que os 14 anos do PT não podem ser etiquetados apenas como governos de esquerda. Lula, ao ganhar a primeira eleição, estabelece como presidente do Banco Central, o empresário Henrique Meirelles, que foge muito desse posicionamento ‘esquerdista’. O que vejo, ainda muito forte, é essa questão petista e antipetista. Adoraria ver a diluição dessa ideia maniqueísta, ‘ou está de um lado, ou está de outro’. Temos aí nomes já sendo colocados; Ciro Gomes, João Doria, Tassio Jereissati, Eduardo Leite, entre outros. Mas por enquanto só enxergarmos esse confronto, ex-presidente Lula contra o presidente Bolsonaro”, afirmou.
Ademais, Letícia traz o questionamento: “Seria reversível essa queda de popularidade do presidente da República Jair Bolsonaro, bem visível nas últimas pesquisar? E o ex-presidente Lula, você acha que ele conseguirá se unir à oposição para se eleger novamente?”
“Na minha visão, tudo é possível. Acho que o Lula vai buscar um parceiro de esquerda, e acredito que ele tem condições de seguir nessa crescente. Em relação ao presidente Bolsonaro, enxergo um núcleo muito forte, o qual defende o presidente. Essa questão da CPI da Covid acaba sendo positiva, para o presidente e seus seguidores, visto que regionaliza a discussão, trazendo governadores, deputados e descentralizando a problemática de cima dele. Acredito que uma alavancada na economia possa trazer de volta uma popularidade ao presidente. Mas a pesquisa do Ipec traz bastante esse processo de queda, realmente”, comentou Helso.
Por fim, em um contexto mais regional, a apresentadora expõe o contexto da pandemia no Amazonas, a crise do oxigênio e o processo de vacinação. Sobre o último, Letícia pergunta, ao professor, se ele acredita que estas recentes campanhas vêm sendo usadas como palanque político.
“Acredito que a campanha política já tá na rua, ainda que de forma maquiada. A partir de agora, cada passo vai ter uma visão eleitoreira. Acredito que o governador, o prefeito e seus concorrentes vão usar a questão da vacina como moeda eleitoral. Só lastimo muito, que no final do ano, naquelas retrospectivas de dezembro, as pessoas vão lembrar de pessoas que morreram asfixiadas no pulmão do mundo [Amazônia]. Eu adoraria que isso não ficasse impune, mas aparentemente tudo será atropelado por interesses eleitoreiros”, finalizou Helso Ribeiro.
- Fonte: da Redação.
- Foto: Marcus Reis.