Nesta última segunda-feira (5), a apresentadora do Portal Manaós, Letícia Barbosa, conversou com a psicóloga Katherine Benevides sobre “distúrbios alimentares e a luta contra o padrão de beleza”.
Letícia introduz a entrevista pedindo que a doutora explique para os seguidores o que é o transtorno alimentar, como identifica-lo, qual a diferença entre distúrbio e transtorno, entre outras dúvidas frequentes da sociedade acerca do assunto
“Bom, transtorno e distúrbio são a mesma coisa. A gente precisa refletir sobre tudo isso, porque por exemplo a anorexia já tá sendo considerada um problema de saúde pública, vem crescendo muito, tanto nos homens quanto nas mulheres. Isso se deve a toda essa cobrança social”, introduz.
“Esses transtornos são caracterizados por perturbações do caráter alimentar, ou seja, poder ser um exagero ao não querer se alimentar, no qual no início a pessoa corta algumas coisas, mas depois corta tudo. Ou pode ser o excesso também, que acarreta na obesidade. A primeira situação pode ser classificada como anorexia ou bulimia. Ambas são um medo exagerado de engordar, uma preocupação exacerbada com o peso e proporcionam uma visão completamente distorcida de si próprio”, complementa.
Em seguida, a apresentadora contextualiza o assunto junto ao cenário de pandemia que vivenciamos há mais de um ano. Desta forma, ela questiona: “Neste período atípico em que vivemos, com as pessoas mais em casa, pedindo fast-food, alimentando seu entretenimento de redes sociais, onde se impõe padrões quase utópicos, como tudo isso gera impacto na sociedade?”
“Gera um impacto muito grande, e que chega a ser maléfico. As pessoas não entendem que por trás de tudo isso estão inúmeras indústrias. O Brasil é um dos países que mais tem farmácias, salão de beleza, em 2018 foi o país que mais realizou cirurgias plásticas no mundo. Essa glorificação, essa busca pela perfeição não pode existir. Esse corpo não existe. E muitas vezes tudo isso começa desde casa, não só do meio social em si. Na pandemia, todos nós engordamos. Todos tivemos ansiedade, entre outros transtornos. Então nessa questão toda que passamos penso muito nas crianças e nos adolescentes, é muito importante verificar o que o seu filho vem consumindo nas redes sociais, do que ele vem se alimentando. Vivemos uma época de cobrança exagerada. Isso é muito ruim, e a mídia fortalece tudo isso”, afirma.
Letícia destaca que muitas jovens seguidoras pediram para este tema, este debate para entrevista, visto que ainda é classificado como um tabu na sociedade. Seguindo todas as dúvidas que foram enviadas ao programa, ela indaga como pode funcionar esse processo de identificação do problema, como a família e os amigos podem ajudar.
“Então dessa forma, vou falar sobre os adolescentes e jovens, a faixa etária que mais tudo isso acontece, entre 12 e 25 anos. Primeira coisa, os pais precisam ficar muito atentos, porque a maioria destes distúrbios vem desde a infância ou adolescência. Logo de cara, vem a questão do isolamento afetivo, começa a se isolar das pessoas. Outras coisas é que começam a se esconder, vestindo roupas frouxas, não quer comer perto de família, não ir pras festas. Começa a ter interesses repetitivos, procurando muita dieta, muito a questão da academia, tudo muito exagerado. E soltar piadas, brincadeiras não vão ajudar essas pessoas”, diz a psicóloga.
“E nesse ponto, vale falar sobre a diferença da anorexia e da bulimia, para ser identificado. O ‘anorexo’ tem fome, mas se sente bem por conseguir não comer. Já quem tem a bulimia, só come em excesso aquilo que não pode comer, coisas não saudáveis, é a péssima alimentação”, explica.
Envolvendo essa questão explicada pela doutora, a necessidade de um grupo de apoio que possibilite à pessoa sair dessa situação, tem o fator socioeconômico da população brasileira. “Por exemplo os jovens que identificam esses problemas, mas que não possuem boas condições financeiras, que dependem da saúde pública, o que fazer?”, questiona a entrevistadora.
“O Brasil até tem, no Ministério da Saúde, uma secretaria e uma coordenação para isso. Um psiquiatra e um psicólogo até pode atender gratuitamente a população. Mas precisamos de mais centros especializados para isso, são muitos poucos, e estão concentrados no Sudeste. Esses casos tão aumentando muito, e vale ressaltar que não deve ser só um profissional para resolver o problema, tem que ter toda uma equipe”, responde.
Por conseguinte, Letícia pede que a doutora fale sobre ações que familiares e amigos podem fazer para auxiliar todos que passam por essas complicações.
“Esses problemas, a ansiedade, a anorexia podem levar ao suicídio, e isso é muito sério. A família tem que apoiar, não julgar, não criticar. Tem gente que está ‘gordinha’ e está feliz, precisamos aceitar a diversidade, aceitar as pessoas. E temos que fortalecer isso dentro de casa, porque temos uma mídia que sempre está impulsionando o contrário. Procurar sempre profissionais, nutricionistas, para tratar realmente da situação”, fala a psicóloga.
Por fim, é colocado em pauta o relato de uma amiga da apresentadora, a qual afirmou que estava feliz por ter feito uma postagens nas redes sociais aparecendo todo o seu corpo, o que ela nunca gostou de fazer, por medo do julgamentos das pessoas. E a doutora opina sobre isso:
“Isso as pessoas não valorizam, é como se fosse vitória só perder 10 kg, 20 kg. Qualquer pequena coisa é um degrau nessa escada bem alta. E temos que subir degrau por degrau. É como se ela derrubasse uma porta, com um efeito dominó, e vai derrubando todas as outras portas. Rompendo com padrões que criaram pra ela. A pessoa tem que apenas se sentir bem”, finaliza.
- Fonte: da Redação.
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