quinta-feira, novembro 21, 2024

Meio Ambiente – Segundo Especialistas, desmatamento na Amazônia pode manchar imagem do Brasil na COP-26.

Garimpo ilegal, grilagem e desmatamento: estes são apenas alguns de uma enorme pilha de retrocessos ambientais que contam a história do Brasil e que podem manchar a imagem do País durante a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-26).

É o que apontam especialistas ouvidos pela Revista CENARIUM na quinta-feira, 21, citando, especialmente, o pior índice de desmatamento registrado no território da Amazônia Legal nos últimos 10 anos, desastrosamente atualizado mês a mês.

“A intensificação do desmatamento na Amazônia Legal, que nós estamos acompanhando nos nossos monitoramentos mensais, não favorece a imagem do Brasil em relação à COP-26. Para atender as medidas propostas, é necessário que o Brasil adote urgentemente medidas eficazes e significativas para diminuir o desmatamento e consequentemente reduzir as emissões de gases do efeito estufa”, pontuou a pesquisadora do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Larissa Amorim.

A COP-26 está prevista para ocorrer entre os dias 31 de outubro e 12 de novembro, em Glasgow, na Escócia, sob a presidência do Reino Unido.

Ao todo, participarão 200 países, sendo que todos eles têm o dever de apresentar planos de corte de emissões de combustíveis fósseis – causadores do efeito estufa – até o ano de 2030.

Na última terça-feira, 19, o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), declarou, ao lado de Iván Duque, presidente da Colômbia, após uma reunião, que os dois países estão “unidos” em defesa da Amazônia e que esta deve ser a conduta adotada pelos líderes das duas nações na COP-26.

“Chegaremos a Glasgow unidos para tratar de um assunto muito importante e caro para todos nós: nossa amada, rica e desejada Amazônia”, declarou Bolsonaro. Apesar da promessa, a fala soa controversa, tendo em vista o quanto a política ambiental do governo de Jair Bolsonaro é criticada.

Para o geógrafo e diretor da Associação Conservação da Vida Silvestre (WCS Brasil), a realidade será bem diferente da expectativa. Na avaliação do especialista, o presidente do Brasil deve esperar por puxões de orelha.

“Considerando que o Brasil tem regredido nas ações de combate à degradação ambiental e consequentemente não tem avançado na redução de emissões de gases de efeito estufa, e hoje figura como o 4º País mais emissor, o que podemos esperar é uma forte pressão internacional”, disse.

Para o geógrafo e diretor da WCS Brasil, por causa da conduta de Bolsonaro, o País perdeu a oportunidade de ‘limpar’ a má-fama mundial.

“Também devemos ficar apreensivos com as propostas que o governo pode apresentar, pois se depender do que vem fazendo de fato, há uma tendência que suas posições negacionistas e apartadas da realidade acabem por dar o tom e isso certamente irá causar ainda mais motivos de vergonha para nós brasileiros”, alertou o diretor da WCS Brasil.
Desmatamento desenfreado

Uma das causas para a imagem negativa formada por países afora em relação ao Brasil é o desmatamento na Amazônia.

Para se ter uma ideia, apenas em setembro, a maior floresta tropical do planeta que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cobre quase 59% de todo o território nacional, perdeu 1.224 km². Os dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), do Imazon, apontam que a redução de área vegetal foi superior a 4 mil campos de futebol por dia durante todo o mês passado, ou seja, o pior índice para o mesmo período desde 2012.

Desta maneira, setembro foi o sexto pior mês em desmatamento para o bioma amazônico e o acumulado desde o início do ano fechou em 8.939 km²: índice 39% mais elevado do que o observado de janeiro a setembro de 2020, tornando-se o pior em 10 anos.

Larissa Amorim explica que o desmatamento avança, principalmente, em alguns Estados como no caso do Pará, Acre e Rondônia.

“Ele avança nas áreas de florestas públicas que ainda não possuem um uso definitivo e em territórios protegidos. Porém, nos nossos últimos monitoramentos, nós percebemos um avanço da fronteira do desmatamento que está localizada na parte sul do Amazonas, do Acre e de Rondônia. Parte disso pode ser explicada devido à localização de um polo de agronegócio nesta região”, detalhou a pesquisadora.

Consequências socioambientais

A especialista do Imazon avalia que uma das principais consequências do avanço da destruição ambiental é, justamente, a piora das mudanças climáticas, intrinsecamente ligada às emissões de dióxido de carbono (CO²) na atmosfera terrestre, por exemplo.

“O mês de setembro é o quarto mês do ano de 2021 que apresenta um desmatamento superior a mil quilômetros quadrados. E entre as consequências desse desmatamento, nós podemos citar o aumento da emissão de gases do efeito estufa, que contribui para a intensificação do aquecimento global e o surgimento de eventos extremos, como, por exemplo, secas e tempestades mais frequentes”, destacou Larissa Amorim.

Amorim alerta ainda que o desmatamento altera o ciclo de chuvas, pode resultar em perdas agropecuárias, crises hídricas, energéticas e econômicas.

“Já a perda de biodiversidade de fauna e de flora, pode também contribuir para o surgimento de novas pandemias e dificultar o estudo das propriedades medicinais que poderiam ser utilizadas para tratar e combater essas doenças”, complementou.

É possível mudar a imagem negativa?

“Sim, claro”, afirma Durigan sobre a possibilidade de uma “virada de jogo”. “Mas a tendência não é essa”, adverte o especialista.

“O governo brasileiro tem ficado famoso nos debates internacionais por apresentar discursos afastados da realidade dos fatos. Temos diversos estudos e recomendações apresentadas ao governo por diversos grupos de pesquisa e instituições que se debruçam sobre a questão da mudança climática, mas infelizmente não temos visto o governo trabalhar de forma articulada e participativa com estes setores. Uma pena, poderíamos fazer parte dos esforços globais de forma mais efetiva e nos beneficiaríamos disso”, completou.

Um caminho, porém a longo prazo, seria impedir o avanço da destruição das florestas. Mas seria necessário que o governo federal realmente se importasse com o maior bioma brasileiro e não o usasse apenas como bandeira de campanha em eventos internacionais.

Na visão de Larissa Amorim, do Imazon, também haveria a necessidade de investir em ações de fiscalização, “principalmente naquelas áreas que sofrem maior pressão em relação ao desmatamento”, além de embargar áreas desmatadas ilegalmente e punir os responsáveis.

“Um estudo do Imazon indicou que 30% da Amazônia Legal é referente a áreas que ainda não possuem um uso definitivo. Então, para reduzir o desmatamento, é necessário destinar essas áreas para territórios protegidos, como, por exemplo, para novas Terras Indígenas, Unidades de Conservação e Territórios Quilombolas”, concluiu Larissa.


  • Fonte: Revista Cenarium.
  • Foto: Divulgação.

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