A vitória depende de uma estratégia de comunicação bem elaborada que considere as expectativas, desejos e demandas dos eleitores e eleitoras antes, durante e depois da campanha eleitoral. E a pesquisa qualitativa, especialmente os grupos focais, são ferramentas muito utilizadas para a definição de temas, propostas, imagem e discurso dos candidatos e candidatas.
Os resultados dos grupos focais servem para nortear a estratégia de comunicação de uma campanha eleitoral e para subsidiar as criações dos publicitários que desenvolvem o Marketing Digital Eleitoral.
Não é sem razão que Shakespeare (1994), Maquiavel (2006), La Boétie (2009), Foucault (2014) entre tantos outros deixaram suas contribuições sobre o discurso. Naquela época, como nos dias atuais, o domínio da oratória, da retórica e do discurso são produtos “vendáveis” em diversas situações.
Sendo assim, as pesquisas qualitativas servem para desvendar as motivações, as atitudes e as razões que levam a construção das opiniões. Não basta apenas quantificar a intenção de voto, é importante compreender suas motivações e os aspectos subjetivos que levam os eleitores e eleitoras a definirem suas preferências e/ou rejeições.
Neste material, o Instituto de Consultoria em Ensino e Pesquisa do Amazonas (ICEPAM) apresenta, com exclusividade, os dados oriundos de algumas pesquisas realizadas com grupos focais durante a pandemia, no período de 2020 e primeiro semestre de 2021. É certo afirmar que ao longo dos últimos quatro anos o perfil dos eleitores está mudando, e que a velocidade da informação e as redes sociais mudam em tempo real o pensamento, o discurso e a prática das pessoas.
As eleições para 2022 devem ser percebidas como um dos momentos mais significativos
nas democracias representativas, especialmente no Brasil, que ainda conserva o voto
obrigatório e tem sua história marcada por períodos de ditadura, de repressão a ativismos e por manifestações populares. O marco fundamental de análise é o cenário pandêmico da Covid-19, impactos, medidas e expectativas. Em Manaus, fomos o epicentro da pandemia, a falta de oxigênio, a nova cepa, o isolamento social e a ansiedade à espera pela vacinação trouxeram um misto de sentimento como decepção, desamparo e angústia sobre a política nos cenários nacional e local.
O foco no voto confere aos cidadãos eleitores e eleitoras, mesmo aos que não participam das discussões políticas cotidianamente, a oportunidade de votar. A confiança destes eleitores e eleitoras deveria conduzir, do modo mais eficiente possível, o conjunto das políticas públicas e influenciar a direção política das mesmas. Um dos principais aspectos apresentados nos discursos dos dados de 2020 e 2021 é que os eleitores e eleitoras estão em busca de outras vias, sendo que não identificam força política com perfil de inovação para o momento atual. A falta de líderes nos estados brasileiros não oferece opção para transferência de votos, sendo assim, a polarização entre direita e esquerda tende a esquentar durante a largada da campanha eleitoral.
Por isso, é muito importante entender a dinâmica e identificar quais são os elementos presentes neste processo, uma vez que a população tem sido cada vez mais afetada, através das avalanches de notícias estrategicamente equivocada e fake news propagadas nos grupos de WhatsApp. As mídias virtuais tem oferecido em grande velocidade a propagação de informação tendenciosa, especulativa e sem uma regulação legislativa atuante. E acompanhar o discurso do eleitor e da eleitora é fundamental na corrida do caça-votos.
Mesmo com o papel crescente que as mídias sociais têm ocupado na esfera do marketing eleitoral, o avanço de novas tecnologias e a mudança na maneira como as pessoas interagem com as mídias eletrônicas e virtuais, a propaganda na TV ainda é capaz de exercer muita influência. Sua presença nas residências dos brasileiros e brasileiras é muito maior que o acesso domiciliar à internet, principalmente nos municípios do Estado do Amazonas, onde o WhatsApp é mais utilizado.
Os dados obtidos por meio dos grupos focais trazem a compreensão do “humor” do eleitorado, suas demandas, seus sentimentos, suas expectativas e suas decepções, além de testar os materiais, as propostas e a estratégia que serão utilizadas nas campanhas. O perfil da amostra utilizada nestas pesquisas foi posta da seguinte maneira: grupo; sexo; idade; classe; escolaridade; profissão; bairro/zona e intenção de votos. Grande parte da amostra é referente a classe C e D.
PRINCIPAIS ACHADOS:
Principais problemas
Foi observado, a partir da análise do discurso, que a principal reclamação dos participantes estava relacionada diretamente à questão da saúde, geração de emprego e renda, incentivo financeiro a pequenos negócios e segurança pública. A vacina e a testagem em massa também foram pontos bastante apresentados no discurso. Com a falta de oxigênio ocorrida logo no início de janeiro, a questão da saúde passa a ganhar comoção novamente e, posteriormente foi substituída pelo problema da segurança pública, após vários atentados ocorridos na capital; infraestrutura, desemprego, pobreza, aumento na cobrança dos preços de produtos alimentícios, remédio, água, energia, gás de cozinha e combustível norteiam a urgência sobre os problemas presentes em todas as zonas da cidade atualmente.
Palavras – Chave e significados
Com base nas palavras-chave, o conceito de valorização e esperança se sobrepôs ao conceito de mudança, em vista da decepção e frustração com o conceito do novo.
Todos os participantes apresentaram em comum o desejo e o sonho de ter estabilidade financeira, seja passando em concurso público, seja abrindo seu próprio empreendimento. Os que não possuem casa própria sonham em adquirir sua casa para que tenham mais qualidade de vida e prosperidade, consequentemente serem mais felizes. Grande parte dos participantes dos grupos focais trabalham como autônomos, o que justifica um discurso que anseia por oportunidade de regularizar o próprio negócio, através da regularização jurídica da empresa com menos burocracia e apoio dos governos Federal, Estadual e Municipal para facilitar, flexibilizar e ajudar por meio da diminuição do valor da cobrança das taxas de tributos e impostos cobrados atualmente.
Cenário Eleição 2022: Bolsonaro X Lula X Moro X Ciro
Os participantes dos grupos focais, com a idade entre 20 a 35 anos, percebem como negativo as ações do presidente Jair Bolsonaro sobre a pandemia e a falta de cumprimento de propostas, principalmente na área de segurança. O WhatsApp e o Instagram exercem maior influência.
Já os participantes dos grupos focais, com a idade entre 36 a 60, estão indecisos e apresentam menor rejeição ao presidente Bolsonaro. A ideia do novo ainda pode influenciar o voto, por isso a possibilidade de transferência de votos para Sérgio Moro, Ciro Gomes e Lula é consistente. O WhatsApp e o Facebook exercem maior influência.
Os discursos quanto aos temas de política e economia demonstram uma grande decepção por parte da maioria absoluta dos entrevistados e entrevistadas. Predominou uma avaliação bastante negativa da situação do país. Em todos os grupos houve referências a um contexto de corrupção acentuada, má administração, aumento do desemprego e da inflação. Associado a isto, um sentimento de incerteza.
A responsabilidade sobre o quadro tanto da crise política quanto econômica, que todos os entrevistados e entrevistadas afirmavam vivenciar, recai ainda principalmente sobre o PT, porém, boa parte dos discursos apresentam um sentimento de decepção e desesperança em relação ao governo Bolsonaro.
As menções recorrentes, em todos os grupos entrevistados, quando se
referiam ao governo Bolsonaro foram: “Brasil está quebrado”, “crise”, “pobreza”, “fome”, “pandemia”, “imposto”, “genocida”, “desmatamento” e “vacina.
Cenário Eleição 2022: Wilson X Amazonino Mendes X Eduardo Braga X David Almeida
Os participantes dos grupos focais apresentaram uma boa avaliação sobre a atual gestão de David Almeida. Sobre o político, percebem carisma e forte influência através de engajamento nas redes sociais, assim como credibilidade junto aos jovens por conta da vacinação contra Covid-19.
Wilson Lima diminuiu consideravelmente a rejeição por conta das ações de vacinação, assistência social nos municípios do Estado do Amazonas e integração com a Prefeitura de Manaus. A aproximação com a população em eventos sociais e esportivos viabilizou empatia e atenuou a culpabilidade dos problemas na saúde que até então haviam recaído sobre ele, onde a CPI da Pandemia corroborou para transferir parte dos problemas para o Governo Federal.
Os participantes dos grupos focais buscam um perfil de um candidato que possua experiência, competência em gestão, liderança e influência política. Amazonino Mendes agrega todos os requisitos, porém a idade é o fator preponderante da rejeição. Uma possibilidade de vitória depende, prioritariamente, da escolha do vice.
Eduardo Braga é considerado um político que usa o cargo em benefício próprio. Porém, apresenta crescimento de transferência de votos nos municípios do Estado. As obras do PROSAMIM ainda fortalecem a sua imagem e o legado político no Amazonas.
Cenário Eleição 2022: Senado
Arthur Neto foi o mais bem avaliado por sua atuação anterior como senador e pelo trabalho de pavimentação na gestão passada como prefeito de Manaus. Coronel Menezes apareceu como uma nova opção (aposta) e Omar Aziz apresentou maior rejeição e associação a ideia da velha política e corrupção.
É sobre esperança e sociabilidade!
A eleição de 2022 está configurada no contexto de busca de esperança e sociabilidade. Os impactos da pandemia, o isolamento, os projetos inacabados, o desemprego, o retorno tímido da volta as aulas presenciais, a reestrutura do processo e modo de trabalho home office, a inserção empreendedora sem o romantismo e o aumento do nível de desigualdade social e fome no país é um cenário desafiador.
A polarização desta vez está diretamente associada a necessidade de sociabilidade. E a vontade de voltar ao “normal”. Tanto no cenário nacional quanto local, os impactos econômicos estão influenciando a percepção da classe C e D (Perfil em vulnerabilidade econômica), sendo assim, a busca pela terceira via, sobre a ideia de uma nova opção, ainda é preponderante.
O discurso é a força da materialidade
que comunica a imagem do candidato com o objetivo exclusivo de alcançar a vitória.
Erica Lima
Pesquisadora do Instituto de Consultoria em Ensino e Pesquisa do Amazonas (ICEPAM)
- Fonte: Por Erica Lima para O Convergente.
- Foto: Divulgação.
