domingo, julho 7, 2024

Meio ambiente – Por causa de desmate, Amazônia está perdendo potencial de se recuperar de secas, diz estudo

A Amazônia está perdendo sua capacidade de se recuperar de perturbações como secas e mudanças de uso de terra, reportaram cientistas na segunda-feira, 7, o que aumenta a preocupação de que a floresta tropical esteja se aproximando de um limite crítico para além do qual ela terminará substituída por pradarias, o que teria enormes consequências em termos de biodiversidade e para a mudança do clima.

Perder a floreta tropical poderia resultar em uma liberação de até 90 bilhões de toneladas de dióxido de carbono, que aprisiona calor, na atmosfera, o equivalente a diversos anos de emissões mundiais de poluentes. Isso tornaria mais difícil limitar o aquecimento global.

Entre os estudos anteriores havia grau considerável de incerteza quanto ao momento em que o limite poderia ser atingido. Mas algumas pesquisas concluíram que o desflorestamento, a seca e outros fatores poderiam levar a uma significativa retração florestal (“dieback”), na Amazônia, até o final deste século.

Desmatamento e fumaça de queimada em área próxima a Porto Velho, em Rondônia (Mauro Pimentel/AFP)

Cobrindo mais de 5,1 milhões de quilômetros quadrados, no Brasil, e países vizinhos, a Amazônia é a maior floresta tropical do planeta e serve a um propósito crucial na mitigação da mudança no clima, ao absorver mais dióxido de carbono da atmosfera do que ela emite, quase todos os anos — em áreas onde a floresta já está mais degradada e destruída, ela já emite mais carbono do que absorve. Em sua diversidade de espécies de plantas e animais, a Amazônia é tão rica quanto ou mais rica que qualquer outra região do planeta. E ela injeta tamanha umidade na atmosfera que tem a capacidade de afetar o clima muito além da América do Sul.

Mas a mudança do clima, combinada ao desflorestamento generalizado e a queimadas para agricultura e pecuária, vem prejudicando a Amazônia, e a torna mais quente e mais seca a cada ano. A região, uma das mais úmidas do planeta, experimentou três secas do ano 2000 para cá.

A maioria dos estudos anteriores sobre a resiliência da Amazônia dependia de modelos, ou simulações, de como a saúde da floresta podia mudar ao longo do tempo. Na nova pesquisa, os cientistas utilizaram observações reais: décadas de dados de sensoriamento remoto de satélites que medem o volume de biomassa em áreas específicas, um dado que oferece uma correlação com a saúde da floresta. Observando apenas partes intocadas da floresta tropical, os pesquisadores constataram que, de 2000 para cá, essas áreas perderam resiliência. Por exemplo, as áreas de floresta vêm demorando cada vez mais para recuperar a saúde depois de sofrerem secas.

Perdas

Os pesquisadores constataram que mais de três quartos da floresta tropical intocada perdeu resiliência no período em estudo, e que a perda era maior em áreas mais secas ou mais próximas da atividade humana, como a exploração madeireira. O estudo foi publicado pela revista científica Nature Climate Change.

Chris Boulton, pesquisador na Universidade de Exeter e principal autor do estudo, disse que a Amazônia era como uma rede gigantesca de reciclagem de água, com a evaporação e transpiração das árvores carregadas pelo vento. Com isso, a perda de parte da floresta, e de parte de sua umidade, conduz a secas em outros lugares.

“Pode-se imaginar que, à medida que a Amazônia começar a secar, veremos uma perda mais e mais rápida de resiliência”, disse Boulton. As florestas podem, então, declinar e morrer com relativa rapidez, e se tornarão mais parecidas com savanas, recobertas por grama e com muito menos árvores.

A perda de árvores da floresta não só devolveria à atmosfera o carbono aprisionado em seus tecidos, como as savanas absorveriam muito menos carbono do que as grandes árvores, de ramas largas, que elas substituiriam. Um habitat como a savana também ofereceria sustentação a um número muito menor de espécies.

Cerca de 17% da Amazônia foi destruída, nos últimos 50 anos, e, embora o ritmo de desmatamento tenha desacelerado por alguns anos no Brasil, voltou a crescer recentemente. Os pesquisadores disseram que seu trabalho demonstrava que os esforços para controlar o desflorestamento não só protegeriam áreas específicas como teriam efeito sobre a resiliência da Amazônia como um todo.


  • Fonte: Agencia Cenarium
  • Foto: Divulgação

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