Em carta, o ex-presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Sydney Ferreira Possuelo, afirmou que recebeu com “imensa surpresa e natural espanto” a notícia da entrega de ‘Medalha do Mérito Indigenista’ concedida a Bolsonaro e disse que irá devolver a medalha que também recebeu, por acreditar que esta “perdeu toda a razão pela qual, em 1972, foi criada”. A carta foi divulgada pelo Correio Braziliense.
Sydney recebeu a honraria há 35 anos. Nesta quinta-feira, 17, a carta foi deixada na sede do ministério e o texto endereçado ao ministro da Justiça Anderson Torres, autor da medalha para Bolsonaro e vários ministros.
Sydney, que é etnógrafo, inicia a carta dizendo que os povos autóctones tornaram-se vítimas de toda sorte de atrocidades cometidas por representantes de sociedades que se acreditam civilizadas e tementes.
“Os povos originários do continente americano – do Alaska à Patagônia – tiveram os territórios, onde milenarmente viviam, invadidos e drasticamente reduzidos”, diz um trecho. Possuelo lembrou do episódio que recebeu a medalha, em suas palavras ao ministro.
“Há 35 anos, vivia a honra de receber a ‘Medalha do Mérito Indigenista’. E como é de público conhecimento, delegou-me, em 1991, coronel Jarbas Passarinho, então ministro da Justiça, a tarefa de demarcar, em nome do governo brasileiro, a Terra Indígena Yanomami”, lembra.
Em outro trecho, Sydney lembra que quando deputado federal, Bolsonaro, em breve e leviana manifestação na Câmara, afirmou que “a cavalaria brasileira foi muito incompetente. Competente, assim, norte-americana, que dizimou seus índios no passado e hoje em dia não tem esse problema no País”, destacou.
“Dediquei minha vida ao trabalho de defender os direitos humanos de uma parcela da humanidade que vive em um outro tempo histórico, mais que compartilhar com a sociedade envolvente mesmo tempo cronológico”, salienta o ex-presidente da Funai.
Indígenas repercutem
Líderes e organizações indígenas repercutiram a medalha dada a Jair Bolsonaro. Uma das maiores representantes das mulheres indígenas, no País, Sônia Guajajara classificou o prêmio como retrocesso e disse que a premiação é absurda.
Se já não bastasse todos os retrocessos que estamos enfrentando, mais uma vez esse des-governo truculento acaba de criar mais um, uma medalha ao mérito a Jair Messias Bolsonaro e aliados, por seus "relevantes'' serviços aos povos indígenas. Absurdo!
— Sonia Guajajara (@GuajajaraSonia) March 16, 2022
Para lideranças do movimento indígena, a honraria foi concedida a todos os “inimigos dos indígenas brasileiros” e faz do Brasil o País da “piada pronta”.
“Ministro da (in)Justiça está concedendo a ‘Medalha do Mérito Indigenista’ a todos os inimigos dos indígenas brasileiros. Dizem e dizem certo: o Brasil é o País da piada pronta. Se os inimigos são amigos, os amigos dos inimigos também são amigos? Égua!”, escreveu o escritor e professor Daniel Munduruku, no Twitter.
- Fonte: Agencia Cenarium
- Foto: Divulgação