Na última segunda-feira, o programa Saia Curta do Portal Manaós recebeu a pesquisadora da Amazônia, professora e Dra. em sociedade e Cultura na Amazônia/Ufam, Iná Isabel, para uma conversa sobre mulheres e processo educacional.
Desde os primórdios vemos a dificuldade da mulher em se inserir em qualquer campo, seja ele profissional ou pessoal. A história do reconhecimento do valor da mulher é recente e continua sendo escrita a cada dia. No Brasil, não havia escolas para elas até 1863. Hoje, elas já são maioria no ensino médio, profissional e superior, mas ainda enfrentam barreiras em algumas áreas, principalmente as exatas.
No país, atualmente, a única área de docência na qual as mulheres não são maioria é o ensino superior, apesar da variação entre os cursos ser semelhante no caso dos estudantes. São quase 35 mil homens a mais lecionando nos cursos de graduação, o que é compatível com a maior presença deles nos cursos de doutorado. Aos poucos essa situação vai se revertendo, já que elas tomaram a dianteira nos mestrados.
Com isso a convidada iniciou contando que não é novidade pensar na mulher como aquela provedora do lar e no ambiente acadêmico não é diferente.
“É uma realidade que está muito longe de ser o real cenário das universidades. […] a mulher, hoje em dia, ela está trabalhando 4 vezes mais para poder dar conta de seus afazeres”, iniciou.
Evidentemente, a inclusão das mulheres no sistema de educação formal resultou em importantes modificações em nossa sociedade. A possibilidade de escolarização, além de ser uma conquista em si, deu mais poder e visibilidade a muitas mulheres para os seus apelos fossem ouvidos e novas demandas surgissem, apesar de haver ainda muita resistência de determinados grupos sociais. Especificamente no que diz respeito às estruturas familiares, retirou a mulher do papel limitado de ser apenas mãe, filha, avó e esposa e a possibilitou ir além, a ter acesso a conhecimentos antes reservados apenas aos homens.
Cargos e posições
Se antes eram atribuídos a elas somente os trabalhos domésticos ou de cuidados, como enfermeiras, costureiras, professoras ou cozinheiras, hoje as coisas são bem diferentes.
As mulheres estão presentes em praticamente todos os setores do mercado. Muitas já assumem cargos de liderança.
Apesar dos direitos já conquistados pela mulher no mercado de trabalho, ainda há muitos desafios pela frente.
De acordo com dados do IBGE divulgados em 2019, 65% da mão de obra geral do mercado ainda é masculina, em comparação com 45% feminina.
Ainda segundo a mesma pesquisa, as trabalhadoras brasileiras podem receber até 20% a menos que os homens. Mesmo quando têm ensino superior e exercem a mesma função.
“Isso a gente chama de preconceito estrutural, ou seja, é aquele preconceito que já vem ao longo da história, ao longo do desenvolvimento da humanidade. E aqui no Brasil nós temos essa questão muito forte, principalmente sobre esse subjulgamento da mulher”, contou Iná.
Jornadas duplas de trabalho
Outro grande desafio ainda enfrentado por muitas mulheres é a jornada dupla de trabalho.
Como os serviços domésticos ainda são atribuídos quase exclusivamente à elas, as mulheres precisam dividir o seu tempo entre o trabalho de dentro e fora de casa. E não é pouca coisa!
São elas as responsáveis por limpar, cozinhar, fazer compras, administrar as contas e cuidar dos filhos. E ainda cumprir as jornadas externas do mercado de trabalho.
“Até nisso, a nossa autonomia pode nos trazer malefícios. Pois a mulher poderia chegar em casa, assim como o marido e descansar, porém há atividades no ambiente familiar que não permite esse descanso”, pontuou.
O resultado são mulheres mega sobrecarregadas e sem tempo para si próprias.
Por fim Iná pontuou que as mulheres, por muitas vezes, danificam emocionalmente outras mulheres, por não oferecer uma ajuda, um conselho, uma conversa. E ponderou que a mulher precisa descobrir o seu potencial, fazer um investimento em si e naquilo que se quer fazer, para que consiga alcançar seus objetivos.
Elas ocupam cargos importantes, tomam decisões e contribuem para o desenvolvimento das empresas e para a economia do país
Apesar dos desafios, que ainda são muitos, elas seguem firmes na luta por direitos, provando a sua potência profissional.
Da redação
Foto: Divulgação/Narel Desiree