A primeira infância compreende os anos iniciais da vida de uma pessoa, sendo delimitada, em linhas gerais, pelo período que vai desde a concepção até os seis anos de idade. Boa parte do perfil de um indivíduo se define na primeira infância – da agilidade do pensamento à forma de se relacionar com os outros, passando também pelas características emocionais. Nada mais justo, então, que a sociedade olhe para esta etapa da vida de maneira especial, garantindo aos diferentes grupos populacionais oportunidades iguais de desenvolvimento.
De acordo com o Censo Demográfico 2010, existem 19.632.111 crianças de zero a seis anos no Brasil, o que corresponde a pouco mais de 10% da população do país. O Brasil possui mais indivíduos na primeira infância do que a população inteira do Chile. Dentro do conjunto de crianças de zero a seis anos contadas pelo Censo 2010, 10.938.914 estão no que a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV) chama de “primeiríssima infância”, a faixa etária que vai de zero a três anos. A etapa dos quatro aos seis anos soma 8.693.197 crianças, sendo 2.867.819 de quatro anos, 2.933.764 de cinco anos e 2.891.614 de seis anos.
Com isso, o programa ‘Vem Com a Gente’, trouxe para debate o tema ‘Primeiríssima infância e seus desafios para pais e profissionais sob o olhar da psicanálise’ e para esse bate-papo a psicóloga Katherine Benevides e Rhamilly Amud receberam Adriana de Melo Lima, que é mestra em psicologia clínica pela Unb e psicanalista.
“Para o bebê ter um bom desenvolvimento, é preciso que a mãe esteja bem acompanhada. […] a depressão materna, pode acarretar no desconforto do bebê. Pois isso pode gerar um risco no desenvolvimento infantil”, iniciou Adriana.
Questionada por Rhamilly Amud sobre as emoções sentidas durante a gestação, a psicanalista disse:
“O bebê ele vai guardando memórias […] é muito importante o olhar. O bebê tá no seu colo, tá sendo amamentado, não olhar para o celular, não tirar a atenção, o pai estar junto, porque o olhar do pai sobre a mãe e da mãe sobre o bebê é muito lindo, é enriquecedor. Pois mais do que ele estar sendo alimentado, ele está sendo alimentado de amor”, pontuou.
O pai estar presente durante todo o vínculo desde a concepção é de extrema importância para o desenvolvimento do bebê.
“Quando a gente vai ter bebê é o momento em que a gente resgata o nosso bebê interno e o nosso bebê interno fica aflorado junto com os hormônios, junto com o estado de preocupação materna”, disse.
Todo o caminho percorrido pelo bebê e depois pela criança, é em direção à aquisição de autonomia, à possibilidade de fazer escolhas. As brincadeiras são “aliadas” importantíssimas no desenvolvimento do vínculo, da possibilidade de a criança explorar o ambiente, fazer escolhas e elaborar os sentimentos resultantes de situações vividas, por vezes, bastante intensas.
“O bebê ele precisa ficar no seu colo o máximo possível. Vai chegar uma hora em que ele vai precisar ir para o chão. Os primeiros 3 meses é uma gestação fora do útero, ele ainda está se constituindo e precisa do aconchego e do quentinho […] . Chega no 8º mês, o bebê tem muito medo de ‘perder’ essa mãe e é quando as brincadeiras são fundamentais. A brincadeira de esconde-esconde é essencial, pois imita a ausência e a presença durante aquele ‘some e aparece’”, comentou.
Katherine Benevides pontuou sobre a importância da amamentação e tempo que seria o ideal para este vínculo e Adriana respondeu:
“Essa questão de tempo é bem complicada, mas é preciso ver até que ponto aquela amamentação no peito esta sendo eficaz ou se esta sendo uma fuga. Uma dificuldade dessa mãe deixar o bebê ou vice-versa”.
Por fim a psicanalista pontuou que a criança entende a ‘conexão’ materna e familiar. E é na primeiríssima infância que o desenvolvimento infantil desde essa fase, é que vai definir o comportamento adolescente.
“A saúde mental na primeiríssima infância é fundamental, juntamente com a ajuda de um profissional pode ajudar no desenvolvimento desse bebê na sua naturalidade”, finalizou.
Da redação
- Foto: Marcus Reis