Os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, em junho passado, no Vale do Javari, no Amazonas, chamaram a atenção para a violência no Norte do Brasil.
O relatório Amazônia no Alvo, do Instituto Igarapé, mostra que a criminalidade na chamada Amazônia Legal é agravada pelo aumento de armas em circulação na região.
O estudo aponta que as facilidades criadas pelo governo federal na política de acesso à armas ampliou em 130% as licenças para pessoas físicas no país.
Na Amazônia Legal esse acesso chegou a 219%, no mesmo período, entre dezembro de 2018 e novembro de 2021.
A Amazônia Legal é formada por nove estados: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão. A região tem 772 municípios e ocupa pouco mais de 5 milhões km², correspondentes a cerca de 58,9% do território brasileiro, que tem 8,5 milhões de km².
Número de mortes
Na contramão do país, as mortes por arma de fogo na Amazônia Legal cresceram 4% entre 2012 e 2020 — o número passou de 5.537 para 5.780.
Enquanto isso, no Brasil, houve queda de 15% no mesmo período. Passou de 40.071 para 33.993 mortes.
Armas registradas
Em 2018, o Brasil contava com 696.909 mil armas registradas por pessoas físicas nos sistemas de controle do Exército e da Polícia Federal. Passados três anos, mais um milhão de armas foram registradas, totalizando 1.605 milhão.
Na Amazônia Legal, o número de armas passou de 57.737 armas registradas em 2018 para 184.181, em 2021.
Aumento de armas e conflito na região
Para Melina Risso, diretora de pesquisa do Instituto Igarapé, há um ambiente propício ao conflito na região.
“No lugar onde você tem baixa presença do estado, onde você tem um ambiente conflitivo muito grande, a arma de fogo é uma receita para o desastre”.
Em 2012, 14% dos homicídios com arma de fogo registrados no Brasil foram cometidos na Amazônia Legal. Oito anos depois são 17%.
A pesquisa também chama a atenção para a disparada do número de armas nas mãos de caçadores, atiradores e colecionadores, os chamados CACs.
Atiradores esportivos, por exemplo, podem ter até 60 armas — metade delas de uso restrito como os fuzis semiautomáticos.
Entre 2018 e 2021, os registros de armas para os CACs cresceram 464,4% nos estados do Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia. Foi a maior variação dentro da Amazônia Legal. Em todo o Brasil esse aumento foi de 126%.
A caça é proibida no Brasil. A exceção é o javali, animal com pouca presença na região amazônica.
Segundo Melina Risso, ativistas e profissionais que trabalham denunciando crimes na região são as pessoas mais expostas à violência na Amazônia Legal que acontece tanto no campo quanto nas cidades.
“Nesse ambiente da Amazônia, com baixa presença do estado, com grande vulnerabilidade, o que a gente observa é um encontro de diversas redes criminosas. Então, o cenário é muito preocupante especialmente quando a gente começa a fazer um grande derramamento de armas de fogo, a violência só tende a ser mais letal”, explicou Melina Risso.
Até o momento, o Exército e o Ministério da Justiça e Segurança Pública não se pronunciaram sobre o assunto.
*G1
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