Candidato à reeleição ao cargo de presidente da República, Jair Bolsonaro (PL) participou da sabatina do Jornal Nacional, da Rede Globo, realizada na noite dessa segunda-feira (22/8). Durante a entrevista, conduzida pelos âncoras do JN, William Bonner e Renata Vasconcellos, o atual presidente do país falou sobre eleições e urnas eletrônicas, economia, meio ambiente, além de responder sobre as polêmicas envolvendo ministros da Educação e suas ações durante a pandemia da Covid-19.
Entre as declarações que mais repercutiram entre a noite de segunda-feira e a manhã desta terça-feira (23/8), estão o posicionamento de Bolsonaro em relação ao “Centrão”, além do fato de o presidente ter imitado pacientes de Covid com falta de ar em mais de uma ocasião. A seguir, confira os principais pontos da entrevista de Jair Bolsonaro ao JN.
Ataques ao Sistema Eleitoral e Fake News
Logo no início da entrevista, Bonner citou os ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral brasileiro, o mesmo que o elegeu nas eleições de 2018. “O que é que o senhor pretende ou pretendeu com isso? Criar um ambiente que, de alguma forma, permitisse um golpe?”, questionou o jornalista. O âncora ainda destacou momentos em que o presidente teria xingado ministros durante as críticas.
Sobre isso, Bolsonaro negou e acusou Bonner de espalhar fake news. Além disso, o político citou as eleições de 2014 e 2018, dizendo que possíveis hackers das urnas eletrônicas foram reconhecidos pelas autoridades do sistema eleitoral. O candidato, no entanto, não apresentou nenhuma evidência disso.
Em contrapartida, Bonner negou a acusação de espalhar mentiras, mencionou o momento em que Bolsonaro chamou um dos ministros de “canalha”, e reforçou, “em nome da verdade”, que órgãos competentes já atestaram que as urnas eletrônicas são confiáveis e seguras.
Eleições 2022
Em seguida, o âncora questionou Bolsonaro sobre a presença das Forças Armadas nas eleições, o que, segundo o jornalista, geraria “uma intranquilidade”. Sobre isso, o Chefe do Executivo respondeu: “Fique tranquilo. Vão ter eleições limpas e transparentes”. De acordo com Bolsonaro, em manifestações em prol de seu governo, seus apoiadores não derrubam nem uma lata de lixo.
Além disso, o candidato afirmou que respeitará os resultados das eleições, desde que essas se comprovem limpas, auditáveis e confiáveis.
Comportamento diante da pandemia
O próximo tópico da sabatina foi a pandemia da Covid-19 no Brasil. Neste momento, Renata Vasconcellos disse que o Presidente imitou pacientes da doença com falta de ar, desacreditou das vacinas, desencorajou a população sobre a imunização e levantou manifestações contrárias ao combate sério da pandemia, além de fazer divulgação de um tratamento precoce que, de acordo com a ciência, não existe, com medicamentos sem eficácia.
Em resposta, Bolsonaro afirmou que o governo “fez sua parte”, se defendeu sobre a compra tardia das vacinas, dizendo que a Pfizer não se responsabilizava sobre os efeitos colaterais do imunizante. O político garantiu que o Brasil se destacou com a vacinação em frente ao resto do mundo, ainda que a farmacêutica Pfizer tenha informado que esperou 93 dias por uma resposta sobre a compra dos imunizantes para iniciar a vacinação da população brasileira contra o vírus que matou mais de 680 brasileiros até o momento.
Tratamento precoce e ‘fique em casa’
Renata mencionou as falas de Bolsonaro, sobre a defesa de médicos que receitaram cloroquina como tratamento precoce – o que ele, na noite desta segunda-feira, seguiu defendendo, como liberdade de atuação médica -, menções de que a vacina contra o novo coronavírus transmitia AIDS e que quem se imunizasse se transformaria em jacaré. Nesta última afirmativa, Bolsonaro respondeu dizendo que o termo seria figura de linguagem.
Sobre as imitações de pacientes com falta de ar, o presidente negou e pediu para que colocasse no ar um vídeo onde ele faz tal imitação. Mais à frente, Renata pergunta se ele se arrepende de ter “tirado sarro” de tantas pessoas que sofreram com o vírus, e Bolsonaro desconversa. Além disso, o presidente ainda reforça a ideia de que a campanha do “fique em casa” foi o maior malefício durante a pandemia, e que governos estaduais, ministérios e a imprensa, como a Globo, foram os grandes responsáveis.
Economia
Depois do tópico “pandemia”, Bonner levantou a questão da economia brasileira. O apresentador citou as propostas do governo Bolsonaro no momento de sua eleição, que não foram cumpridas, além de citar a pandemia como problemática e a guerra na Ucrânia – ambas situações que permanecer ativas até hoje.
Sobre isso, o presidente admitiu que suas propostas e planos traçados para a economia em 2018 acabaram frustrados por esses obstáculos, assim como outros problemas enfrentados pelo país, como a seca em 2021. Ainda assim, Bolsonaro classificou os resultados da economia em seu governo como “sensacionais”.
“O auxilio emergencial fez com que pequenos municípios não colapsassem. Problemas nós tivemos, mas fui na Rússia negociar fertilizantes com Putin para garantir a próxima safra”, falou Bolsonaro.
Renata Vasconcellos ainda questionou sobre a fala do ex-Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sobre aproveitar a atenção da imprensa na pandemia para criação de medidas que prejudicariam a preservação ambiental do país. Ademais, sobre os recordes de desmatamento da Amazônia.
“Eu tentei nos primeiros 2 anos de mandatos fazer a regulamentação fundiária, mas o congresso não ajudou. Mas agora porque não falamos da França que está pegando fogo há vários dias”, respondeu o presidente do Brasil. Bolsonaro ainda afirmou que o Brasil pode ser, em breve, um grande exportador de hidrogênio verde como fonte de energia.
Aliança com o ‘Centrão’
Os apresentadores seguiram a entrevista, mencionando a relação de Bolsonaro com o chamado Centrão. Bonner relembrou que em 2018, em sua primeira candidatura para presidente, Bolsonaro se apresentava contra o Centrão. “Hoje, a verdade é que o centrão é a base do seu governo. Por que eleitores como aqueles que se sentem traídos pelo senhor, votariam no senhor agora?”
Sobre esse questionamento, Bolsonaro respondeu que o apresentador estaria o “obrigando a ser ditador”. “Os países de centro fazem parte do governo para que possamos avançar em reformas”, completou. Em seguida, Bolsonaro defendeu que na época de sua eleição, dizia que não era do centrão porque, de acordo com ele, naquela época o centrão “não existia”.
Bonner respondeu, incrédulo, “Como assim, presidente?”, mas não teve uma resposta completa. Bolsonaro ainda negou que haja qualquer corrupção e reforçou a honestidade em seu governo.
Escândalos com ministros
O Governo Bolsonaro teve, no total, cinco ministros da Educação. Assim, Renata questionou o presidente sobre qual a dificuldade de escolher um ministro, citando as polêmicas das saídas de cada um dos escolhidos. A isso, o presidente respondeu que “as pessoas só se revelam quando chegam”.
Quando Bonner mencionou o escândalo relacionado ao ministro Milton Ribeiro, que afirmou desvio de dinheiro da educação para pastores – e que Bolsonaro sabia disso -, Bolsonaro minimizou a situação, dizendo que o caso não foi um “escândalo”, e teve um momento em que se alterou, levantando a voz.
Bolsonaro disse, em sua defesa, que a troca de ministros com o passar dos anos é normal, minimizando novamente a situação.
Além disso, o presidente ainda afirmou que a saída de Sérgio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública melhorou “muito” a Polícia Federal. William Bonner lembrou a afirmação do órgão sobre o desgaste na posição, gerado pelos posicionamentos do presidente. Sobre isso, Bolsonaro reforçou, mais de uma vez, que não houve interferências na PF.
Da Redação
Fotos: Divulgação | Capa: Neto Ribeiro