domingo, outubro 6, 2024

Meio ambiente – Amazônia registra 3,3 mil focos e tem pior dia de queimadas em 15 anos, aponta Inpe

A atual temporada de queimadas na Amazônia registrou, na segunda-feira (22/8), um recorde negativo de 3.358 focos de incêndio no intervalo de 24 horas. De acordo com dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com base no ‘Programa Queimadas’, que monitora os incêndios no bioma, essa é a pior marca registrada em 15 anos.

Até então, a data mais recente a registrar um recorde de queimadas havia sido 30 de setembro de 2007, quando o satélite que monitora a região flagrou 3.936 focos em 24 horas.

Desde aquela data em 2007 não houve período de 24 horas com número maior do que o desta segunda-feira 22 de agosto. De acordo com o próprio Inpe, os números deste dia são compatíveis com valores dos “anos de ocorrências de queimadas mais críticos da série, de 2004 a 2007”.

Quase três vezes mais que o ‘Dia do Fogo’

Os 3.358 focos recentes representam ainda quase três vezes aquilo que foi visto em uma data emblemática na história de destruição do bioma: o “Dia do Fogo”.

O nome foi dado ao 10 de agosto de 2019, quando fazendeiros no Pará se articularam criminosamente para provocar queimadas ilegais em diversos pontos da região. Ao todo, foram 1.173 registrados no “Dia do Fogo”.

Aquele mês de agosto de 2019 foi marcado por queimadas recordes no bioma, fazendo até mesmo que a cidade de São Paulo visse o dia virar noite por causa da fumaça vinda de queimadas na região da Amazônia.

O coordenador do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Alberto Setzer, explicou em entrevista ao g1 que há diferenças importantes entre as duas datas.

“No Dia do Fogo em 2019 houve um evento específico principalmente no sul do Pará que contribuiu para este estado ter o maior número de focos na ocasião. Em 22 de agosto de 2022 os focos estão mais distribuídos em três estados”, analisa Alberto Setzer.

Amazonas (35%), Pará (33%) e Mato Grosso (22%) respondem pela maioria dos focos.

“De qualquer forma, os 3.358 focos em 22 de agosto equivalem a quase o triplo dos 1.173 em 10 de agosto de 2019 no bioma Amazônia”, explica o coordenador do programa.

Situação atual na Amazônia

Apesar do pico na segunda, os dados não apontam um “aumento significativo” em relação aos patamares verificados recentemente e que são considerados alarmantes pelos ambientalistas.

“De 1º de janeiro a 23 de agosto de 2022, o satélite de referência indica 34.555 detecções (de focos de incêndio) no bioma Amazônia, com aumento não significativo de 2% em relação ao mesmo período de 2021, e inferior aos 37.733 focos registrados em 2020 e 41.331 focos em 2019”, analisa Setzer.

Em relação somente aos dias do mês atual, temos 21.649 focos contra 22.301 em 2021, ou seja, redução de 2,9%.

“Embora os valores diários de focos sejam indicadores corretos da extensão do uso do fogo na vegetação, comparações temporais e espaciais devem considerar períodos maiores, de pelo menos duas semanas e idealmente mensais”, explica Setzer.

Mais degradação x série histórica

Para Ane Alencar, diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), os dados corroboram todos os alertas que estão sendo feitos por ambientalistas: a degradação ambiental na Amazônia voltou a aumentar na atual gestão Bolsonaro.

Analisando a série histórica, ela explica que os anos com datas no topo deste ranking acima foram marcados por uma combinação de seca de alto desmatamento.

“Tem uma questão muito importante que é revelada por essa tabela: 2007 foi um dos anos secos na Amazônia, assim como 2005, isso ajuda muito a aumentar o número de focos de calor. Nos anos 2002, 2003, 2004, o desmatamento estava altíssimo e isso ajuda também a aumentar e muito o número de focos”, explica Ane Alencar.

Ex-presidente do Ibama e especialista sênior em políticas públicas do Observatório do Clima, Suely Araújo, lembra que o sistema Deter tem mostrado números elevados de desmatamento. Conforme mostrou o g1, os alertas de desmate verificados pelo Deter caíram 2% na temporada 2021/2022, mas passaram pela 3ª vez de 8 mil km² de área sob devastação durante a gestão Bolsonaro.

“Na situação deixada por esse governo, em termos de desmonte da política ambiental, de descontrole completo, nós não tínhamos o que esperar além de mais um desastre”, afirma Suely.

Tempestade perfeita

O coordenador técnico do Observatório do Clima, Tasso Azevedo, aponta a confluência de três fatores para que a marca tenha sido registrada.

“A gente tem seca se aprofundando, o aumento do desmatamento, que gera mais material seco inflamável, e ao mesmo tempo um uma tendência de usar o fogo para terminar as fases do desmatamento. Então essas três coisas estão atuando juntas na região gerando essa quase tempestade perfeita nesse ano”, analisa Tasso.

Perspectivas para a temporada de queimadas

Para o coordenador do programa do Inpe, ainda é cedo para fazer uma análise da atual temporada, sobretudo por que os meses de setembro, outubro e novembro também costumam apresentar picos no uso de fogo na vegetação.

“Os resultados irão depender principalmente da meteorologia, sendo que no presente a previsão de precipitação para os próximos meses é de neutralidade no sul da Amazônia. E também dependerão da fiscalização e punição. Em 2019, tivemos o outubro com menor número de focos nas regiões onde a Operação Verde-Brasil atuou. Vai depender da efetividade da Operação Guardiões do Bioma/TamoioTatá”, analisa Setzer.


Da Redação com informações do G1
Foto: Divulgação | Capa: Neto Ribeiro

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