A China vive a onda de calor mais intensa de sua história recente, segundo o monitoramento do Centro Climático de Pequim, um órgão governamental.
O fenômeno começou no dia 13 de junho, e é considerado o mais severo com base em três diferentes critérios:
- Intensidade do calor
- Área geográfica atingida
- Duração
A onda de calor já se estende por 75 dias, 12 a mais do que o recorde anterior, de 2013. O Centro Meteorológico Nacional diminuiu o grau de intensidade do alerta de vermelho para laranja, após 12 dias no nível máximo, mas ainda assim as temperaturas seguem acima de 40ºC em diversas regiões do país.
Qual a dimensão da seca?
Quase 1.500 observatórios climáticos na China registraram temperaturas acima de 37ºC. A quantidade de registros de mais de 40ºC bateu recordes também.
Neste ano, o número médio de dias seguidos de altas temperaturas na China é de 12 dias — em períodos normais, essa média é de 6,9 dias.
Uma das regiões mais atingidas foi Chongqing, no sudoeste do país. Na quarta-feira, imagens publicadas em redes sociais mostraram residentes dessa área desmaiando por causa do calor intenso durante os testes obrigatórios de Covid-19.
A cidade de Chongqing chegou a registrar 45ºC (foram 11 dias com temperaturas acima de 40ºC).
Por que o país atravessa uma onda de calor?
Cientistas já disseram que eventos climáticos extremos no mundo inteiro têm se tornado mais frequentes devido às mudanças climáticas.
A média de temperatura da China subiu mais rapidamente do que a do mundo nos últimos 70 anos, e vai continuar significativamente alta no futuro, de acordo com o governo local.
O departamento de clima do país afirmou em uma avaliação publicada no começo de agosto que a região é sensível para mudanças climáticas, e que as temperaturas subiram 0,26ºC por década desde 1951 (o resto do mundo registrou uma alta de 0,15ºC por década).
“No futuro, o aumento da temperatura média regional da China vai ser significativamente mais alto do que no resto do mundo”, disse Yuan Jiashuang, vice-diretor do Centro Nacional de Clima da China.
Quais os efeitos da onda de calor?
A seca resultante do calor foi responsável por deixar navios encalhados, por uma crise de fornecimento de energia hidrelétrica e obrigou as principais cidades a usar menos luz elétrica.
Por causa da falta de água nos reservatórios para geração de energia hidrelétrica, foi preciso acionar usinas a carvão, que são mais poluentes.
As temperaturas altas atrapalharam o plantio e desenvolvimento de produtos agrícolas, ameaçam o gado e forçaram indústrias a fechar em algumas regiões do país para garantir o fornecimento de energia elétrica às residências.
O lago Poyang, o maior corpo de água doce do país, encolheu em mais de dois terços de seu tamanho.
O país também sofre com incêndios, especialmente em regiões centrais do país próximas do rio Yangtze (esse rio é a hidrovia mais longa da Ásia).
Lin Zhong, professor da City University, de Hong Kong, que estuda o impacto da mudança climática na agricultura, diz que os problemas causados pela falta de água na lavoura podem se alastrar para outros setores ligados à produção de alimentos e que pode haver uma alta de preços de comida ou até mesmo uma crise de oferta de comida, se a situação se tornar mais severa.
O que o governo está fazendo?
Um dos planos para resolver os problemas mais imediatos é tentar “semear” chuvas com o lançamento de artefatos que transportam produtos químicos para o céu.
Mas a falta de cobertura de nuvens atrapalhou essas iniciativas em algumas regiões do país.
Os dirigentes pediram para que as pessoas não exagerem no uso de ar-condicionado. Os trabalhadores do governo de algumas províncias foram orientados a usar escadas em vez de elevadores, sempre que possível.
O governo de Chongqing implementou medidas para proteger o gado e as fazendas de suinocultura, que enfrentam problemas.
O que a China tem feito contra emissões de gases estufa?
A China é o maior emissor de gases do efeito estufa do mundo (os principais são gás carbônico e metano). O país se comprometeu a diminuir a quantidade de emissões a partir de 2030 e se tornar neutro em emissões de gás carbônico em 2060.
A intensidade dos fenômenos climáticos recentes fez com que as pessoas começassem a discutir mais mudanças climáticas no país. O governo do país já reconhece há anos a necessidade de diminuir o aquecimento global, e há uma transição para energias como a solar e a eólica, no país. O governo debate como e com que velocidade trocar a geração por carvão por essas outras, mais limpas.
Portal G1
Fotos: Divulgação | Capa: Neto Ribeiro