Passadas mais de 30 horas desde que o resultado do segundo turno das eleições, atestou a vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), permanece sem fazer uma manifestação pública sobre a derrota. Situação, que segundo especialistas no cenário político, pode ter, além do resultado não favorável ao presidente, ajudado a incitar as diversas manifestações que ocorrem pelo país desde a segunda-feira, 31/10.
A situação, conforme informações de bastidores da política em Brasília, fez com que aliados próximos ao candidato derrotado tentem convencê-lo a reconhecer a vitória do petista o mais rapidamente possível para evitar o clima de acirramento político no país. O que, segundo alguns especialistas de âmbito nacional, é uma estratégia que pode acabar sendo um sinal verde para inflamar a militância bolsonarista e causar uma espécie de “convulsão social”.
O cientista político André Rosa, disse ao Metrópoles, que vê na postura adotada uma repetição do comportamento adotado por Donald Trump nas eleições americanas, que culminou com a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021, e uma grande agitação com seus adeptos. Na visão dele, essa atitude é errônea.
“Bolsonaro erra ao adotar a estratégia trumpista que deu errado nos Estados Unidos, e, mais do que isso, estimula a militância mais radical a tumultuar o país. O movimento dos caminhoneiros que ameaça fechar estradas, já é um reflexo do ato antidemocrático ao não reconhecer a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva”, analisa.
Para o cientista político e professor de direito constitucional Nauê de Azevedo, na verdade, o silêncio do mandatário pode acabar servindo para deixar a militância sem comando.
“Esse contexto é perigoso, sobretudo para setores mais inflamados, como os caminhoneiros que estão paralisando rodovias pelo país. É importante o presidente Bolsonaro se posicionar o quanto antes para evitar conflitos e mais violência política”, avaliou.
Para o sociólogo e analista político, Carlos Santiago, os insatisfeitos com o resultado das eleições podem expressar seus sentimentos, mas sem atrapalhar a coletividade e que os setores de segurança de cada estado bloqueado pelas manifestações devem buscar a normalidade.
“A integridade do processo de votação foi confirmada. Um pleito bem fiscalizado com participação de observadores nacionais e internacionais. E, na democracia, quem define quem governa e quem deixa o poder é o eleitoral. Cabe aos órgãos competentes a homologação dos resultados e empossar os eleitos. São obrigações constitucionais. Agora, cabe ao presidente da República facilitar o processo de transição de governo e reconhecer a decisão popular. Os insatisfeitos podem expressar seus sentimentos. Porém, não podem atrapalhar a coletividade. Neste caso dos caminhoneiros, os setores de segurança dos estados devem buscar a normalidade. Isso é o respeito ao resultado do pleito”, opinou o Santiago.
Reunião e posicionamento
Ao que se sabe, até então, é que o presidente fez uma reunião de emergência, na manhã desta terça-feira, 1º/11, com ministros militares e aliados para discutir o fim dos bloqueios nas estradas brasileiras, feitas por caminhoneiros e apoiadores de Bolsonaro. Os manifestantes estão inconformados com o resultado das urnas e estão interrompendo o trânsito em diversas rodovias federais.
Também teriam participado da reunião no Palácio da Alvorada o ministro da Justiça, Anderson Torres; o chefe da AGU, Bruno Bianco; e o ex-ministro da Defesa e candidato a vice Braga Netto. O comandante da Aeronáutica, o Tenente-Brigadeiro do Ar Carlos de Almeida Baptista Junior, o ex-ministro Rogério Marinho, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, também estão com o presidente.
A expectativa é que Bolsonaro fale ainda nesta terça, sobre o resultado das urnas e sobre as manifestações.
Ministros STF
Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) foram “convidados” a ir ao Palácio da Alvorada, para se reunir com o presidente Jair Bolsonaro, mas teriam decidido não comparecer.
Em conversas reservadas, integrantes da Corte teriam defendido que, em caso de comparecimento a um encontro no Palácio da Alvorada, isso ocorra apenas depois de o presidente reconhecer publicamente o resultado do segundo turno.
Os magistrados devem se reunir ainda nesta terça-feira, 1º/11, para decidir uma posição conjunta sobre a conduta de Bolsonaro, que ainda não se manifestou desde a derrota nas eleições para o presidente eleito Lula.
- Fonte: O Convergente
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