domingo, julho 7, 2024

Brasil – Yanomamis: Entenda o caso da pior crise humanitária dos últimos tempos e a atuação do Governo Federal

As organizações não governamentais (ONGs) Ação da Cidadania e Central Única das Favelas (Cufa) lançaram campanha de doação para ajudar no enfrentamento à situação de emergência sanitária dos povos que vivem na Terra Indígena Yanomami, em Roraima.

Cerca de 40% da população yanomami teve diagnóstico confirmado de malária em 2022: foram 11.530 casos em um território de cerca de 29 mil habitantes, segundo o Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami, vinculado ao Ministério da Saúde.

Nos quatro anos da gestão de Jair Bolsonaro, pelo menos 570 crianças yanomami morreram, na sua maioria de doenças curáveis como desnutrição, malária e diarreia, informou o governo federal nesta sexta-feira (20/01) – o número pode ser maior, devido a um apagão nos dados da saúde indígena.

O aumento de casos e mortes por desnutrição e malária na reserva indígena yanomami ligou o sinal de alerta do governo federal e motivou um decreto de Emergência de Saúde Pública neste território.

Ao lado de uma comitiva de ministros e secretários, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez uma visita à região no sábado (21/1) e classificou a situação como “desumana”.

O Ministério da Justiça determinou a abertura de um inquérito para “apurar o crime de genocídio” na região. O governo calcula que 570 crianças yanomami morreram nos últimos quatro anos.

O que levou a atual crise?

Segundo o Instituto Socioambiental (ISA), a terra indígena yanomami é habitada por oito povos, possui cerca de 26,7 mil habitantes e compreende uma área de 9,6 milhões de hectares (o equivalente a 13,8 mil campos de futebol). Ela foi homologada e reconhecida pelo governo brasileiro em 1992, por meio de um decreto assinado pelo então presidente Fernando Collor (PTB).

O território está localizado entre os Estados de Roraima e Amazonas ao norte, na divisa de Brasil e Venezuela.

Entre os povos que habitam o local, estão os yanomami, os ye’kwana, os isolados da Serra da Estrutura, os isolados do Amajari, os isolados do Auaris/Fronteira, os isolados do Baixo Rio Cauaburis, os isolados Parawa u e os isolados Surucucu/Kataroa.

O ISA também destaca quatro “riscos potenciais e problemas existentes” na terra indígena yanomami: os garimpeiros, os pescadores, os caçadores e os fazendeiros.

Entre essas ameaças, o garimpo se tornou uma das grandes preocupações dos habitantes da região e de especialistas no tema.

O relatório Yanomami Sob Ataque, publicado em abril de 2022 pela Hutukara Associação Yanomami e pela Associação Wanasseduume Ye’kwana, com assessoria técnica do ISA, faz um balanço da extração ilegal de ouro e outros minérios nessa região.

“Sabe-se que o problema do garimpo ilegal não é uma novidade na TIY [Terra Indígena Yanomami]. Entretanto, sua escala e intensidade cresceram de maneira impressionante nos últimos cinco anos. Dados do MapBiomas indicam que a partir de 2016 a curva de destruição do garimpo assumiu uma trajetória ascendente e, desde então, tem acumulado taxas cada vez maiores. Nos cálculos da plataforma, de 2016 a 2020 o garimpo na TIY cresceu nada menos que 3.350%”, aponta o texto.

O levantamento das associações mostra que, em outubro de 2018, a área total destruída pelo garimpo somava pouco mais de 1.200 hectares. “Desde então, a área impactada mais do que dobrou, atingindo em dezembro de 2021 o total de 3.272 hectares”, continua a publicação. Em resumo, as associações indígenas da região apontam que o garimpo ilegal está relacionado a impactos imediatos na saúde da população.

Em primeiro lugar, “a atividade garimpeira ilegal está associada à maior incidência de doenças infectocontagiosas entre as comunidades indígenas, em especial a malária”. Siqueira explica que os garimpeiros circulam por muitas áreas e costumam usar medicamentos contrabandeados que até minimizam os sintomas de malária, mas não eliminam o parasita do organismo deles.

“Eles acabam se tornando uma fonte de dispersão [do patógeno], pois carregam o protozoário causador da doença para regiões que até têm o mosquito transmissor, mas estavam com a situação controlada”, diz o médico.

Resposta de Bolsonaro:

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) respondeu, neste domingo (22), em seu canal no Telegram, as falas ditas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no último sábado (21) sobre o suposto descaso com os indígenas durante o seu governo.

Bolsonaro disse que as críticas são “farsa da esquerda”, além de citar as medidas feitas para a população indígena.

“Contra mais uma farsa da esquerda, a verdade: os cuidados com a saúde indígena são uma das prioridades do governo federal. De 2019 a novembro de 2022, o Ministério da Saúde prestou mais de 53 milhões de atendimentos de atenção básica aos povos tradicionais, conforme dados do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena do SUS, o SasiSUS”, disse na mensagem, que foi replicada de uma publicação do Ministério da Saúde em dezembro de 2022, durante o seu governo.

Em coletiva, o presidente Lula criticou a gestão de Bolsonaro com os povos indígenas: “Se ao invés de fazer tanta motociata tivesse vergonha e viesse aqui, quem sabe esse povo não tivesse abandonado como está”.

Campanha para ajudar os Yanomami

De acordo com a Ação da Cidadania, é preciso agir urgentemente para levar alimentos para o povo Yanomami: “570 crianças yanomami morreram de fome nos últimos quatro anos e centenas de yanomami idosos e crianças estão em situação de desnutrição aguda, e esse número pode ser bem maior já que os órgãos que deveriam monitorar a situação foram completamente desestruturados”.

A ONG informou que está trabalhando em ação coordenada junto aos órgãos do governo federal, como o Ministério do Desenvolvimento Social e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), entidades militares e locais para levar alimentos para os yanomami.

A Cufa se uniu à Frente Nacional Antirracista para promover um mutirão solidário para arrecadação de alimentos para os yanomami. Algumas lideranças das duas ONGs vão para Roraima acompanhar in loco a mobilização e a distribuição das doações.

“Não podemos ter informação do que está acontecendo com os yanomami e ficar de braços cruzados. Vamos usar toda a nossa capilaridade e capacidade de mobilização, como já fizemos em outras campanhas para ajudar ao máximo possível”, disse, em nota, Kalyne Lima, copresidenta da Cufa.

Quem quiser participar, pode doar nas sedes físicas da Cufa nos mais diversos lugares do país, pois nesta semana, estão saindo caminhões com doações de todo o Brasil rumo a Roraima, pelo pix ou pela vakinha.

“A nossa luta é por todos os povos. Não podemos ver o sofrimento desses irmãos indígenas, tão importantes para a construção da nossa sociedade, e não fazermos nada. A Frente Nacional Antirracista está junto com os yanomami”, afirmou Anna Karla Pereira, coordenadora da frente.


  • Fonte: Da Redação com informações da BBC, CNN, Fiocruz e Agência Brasil
  • Foto: Divulgação

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