A Polícia Federal (PF) já está com 90% do inquérito do duplo assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips concluído. A fase final aponta que o mandante intelectual do crime é Ruben Villar, conhecido como Colômbia.
A informação foi confirmada pelo superintendente da PF do Amazonas, Eduardo Fontes, em coletiva de imprensa nesta segunda-feira, 23, na de sede da PF, localizada no bairro Dom Pedro, Zona Oeste de Manaus.
De acordo com a PF, as investigações mostraram que “Colômbia” forneceu as munições e embarcações para a execução do crime motivado por conta da fiscalização para combater a pesca ilegal na região.
“Nós tivemos as provas dele fornecendo as munições, temos uma ligação dele com um dos suspeitos de cometer o crime na antevéspera dos assassinatos. Nós estamos conscientes de que há indícios veementes de que ele é o autor intelectual do crime”, disse Eduardo Fontes.
“Colômbia” já vinha sendo apontado como o mandante do crime pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). O delegado afirmou que nunca tinha descartado o envolvimento do suspeito.
“Nunca descartamos nenhuma linha investigativa, e toda estratégia se revelou exitosa. Não tenho dúvidas, nós temos um mandante. Indícios veementes apontam para Colômbia como mandante”, afirmou o delegado.
O duplo homicídio também teve, ainda, a participação de Edivaldo da Costa, irmão de Amarildo, que segundo a polícia, forneceu a arma de fogo usada no crime. Quatro pessoas foram indiciadas pelos assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips. São eles:
Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como “Pelado”; Oseney da Costa Oliveira e Jefferson da Silva Lima, conhecido como “Pelado da Dinha”. Os três são apontados como sendo os executores do indigenista e do jornalista.
Denúncia
O Ministério Público Federal denunciou Amarildo da Costa Oliveira (conhecido pelo “Pelado”), Oseney da Costa de Oliveira (“Dos Dantos”) e Jefferson da Silva Lima (“Pelado da Dinha”) por duplo homicídio qualificado e ocultação de cadáver pelos assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips.
Apresentada ao juízo da Subseção Judiciária Federal de Tabatinga (AM), onde o processo tramita, a denúncia do MPF já foi recebida pelo juiz, que levantou o sigilo dos autos (número 1000481-09.2022.4.01.3201). Com isso, os três deixam de ser investigados e se tornam réus.
No documento, o MPF explica que Amarildo e Jefferson confessaram o crime, enquanto Oseney teve a participação comprovada por depoimentos de testemunhas. A denúncia traz, ainda, prints de conversas e cita os resultados de laudos periciais, com a análise dos corpos e objetos encontrados.
De acordo com o MPF, já havia registro de desentendimentos entre Bruno e Amarildo por pesca ilegal em território indígena. O que motivou os assassinatos foi o fato de Bruno ter pedido para Dom fotografar o barco dos acusados, o que é classificado pelo MPF como motivo fútil e pode agravar a pena. Bruno foi morto com três tiros, sendo um deles pelas costas, sem qualquer possibilidade de defesa, o que também qualifica o crime. Já Dom, foi assassinado apenas por estar com Bruno, de modo a assegurar a impunidade pelo crime anterior.
Flagrante
No dia 8 de julho, Ruben Villar foi detido em flagrante por uso de documentos falsos, quando era ouvido na delegacia de Tabatinga sobre suposta participação nos homicídios. Ele negou envolvimento com o crime. Ao ser preso, afirmou à PF que conhecia Amarildo da Costa Oliveira, o “Pelado”, também envolvido nas mortes do indigenista e do jornalista. Na ocasião, o suspeito relatou existir apenas “relação comercial” com o pescador e outros da região de Atalaia do Norte.
À época, “Colômbia” compareceu à delegacia de forma espontânea, acompanhado de um advogado. Segundo o superintendente da PF, Eduardo Fontes, a prisão em flagrante ocorreu por conta de falsificação de documentos, cuja pena para esse tipo de crime é de quatro anos e não cabe pagamento de fiança. Por isso, conforme o delegado, o suspeito deve continuar preso.
Perícia
Conforme o exame médico realizado pelos peritos da PF, a morte do jornalista britânico Dom Phillips foi ocasionada por “traumatismo toracoabdominal” provocado por disparo de arma de fogo com munição “típica de caça, com múltiplos balins, ocasionando lesões, principalmente, sediadas na região abdominal e torácica”, informou a PF em nota.
Já o indigenista Bruno Pereira morreu em decorrência de “traumatismo toracoabdominal e craniano” acometidos também por disparos de arma de fogo típica de caça e vários projéteis que ocasionaram “lesões sediadas no tórax/abdômen (2 tiros) e face/crânio (1 tiro)”, detalhou a perícia da PF.
Caso Dom e Bruno
O jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira desapareceram na região do Vale do Javari, no Amazonas, em 5 de junho deste ano, após serem ameaçados em campo. Os dois foram vistos, pela última vez, quando seguiam trajeto da Comunidade São Rafael ao município de Atalaia do Norte. Somente em 15 de junho, os remanescentes humanos das vítimas foram localizados.
- Fonte: Revista Cenarium
- Fotos: Divulgação