Seis comunidades indígenas do município de Tefé e Japurá, no Médio Solimões, distante 521 quilômetros de Manaus, no Amazonas, estão realizando diversos tipos de denúncias a respeito da coordenação do Distrito Sanitário Indígena (DSEI-Tefé), atualmente gerido por Ercília Vieira Tikuna, nomeada em abril pelo Ministério da Saúde (MS).
Entre as reivindicações, estão a defesa de um diálogo mais amplo com as comunidades indígenas Barreira de Cima, Aldeia Pau Pixuna, Morada Nova, Maraã Jubara, Polo Barreira e Polo Bua-Bua, em Japurá. Além disso, os indígenas alegam que a gestora supostamente usa do cargo para se beneficiar e demitir as pessoas e, ainda, que Ercília Tikuna também nunca teria se deslocado até as aldeias que estão sobre a coordenação do DSEI-Tefé.
As comunidades já fizeram, inclusive, abaixo-assinados, bem como gravaram vídeos, encaminhados ao Portal O Convergente, pedindo que sejam ouvidos pela coordenação do DSEI quanto às ações do distrito em face aos indígenas do Médio Solimões.
Vídeos com a reivindicação dos indígenas também foram gravados, nos quais eles relatam as dificuldades de diálogo com a coordenação e buscam estreitar o laço na tomada de decisões aos povos indígenas.
Vídeos com a reivindicação dos indígenas também foram gravados, nos quais eles relatam as dificuldades de diálogo com a coordenação e buscam estreitar o laço na tomada de decisões aos povos indígenas.
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Mais diálogos
Um destes representantes é o cacique Márcio dos Santos, da comunidade Betel, que repudiou, junto a outras lideranças indígenas, essa falta de diálogo entre o DSEI-Tefé e as comunidades.
“Viemos juntamente com um grupo de lideranças, aqui do município de Tefé, repudiar ações tomadas por parte da nova coordenadora do Distrito Sanitário Indígena do Médio Rio Solimões e Afluentes (DSEI-MRSA), que, ultimamente, tem massacrado nós, desrespeitando o nosso direito da prévia consulta. É uma parente, mas quando se trata do nosso direito, nós vamos bater de frente, porque nós não vamos permitir que ninguém jamais venha denegrir a imagem dos direitos que nós construímos”, comenta o líder indígena no vídeo.
O cacique Márcio disse, ainda, nos vídeos, que os indígenas são destratados pela atual coordenadora. “Estamos aqui com os nossos caciques na mesma dor, na mesma dificuldade, atravessando esse momento que não era para nós estarmos atravessando, até porque somos nós que nos apoiamos, nós defendemos para que o distrito tivesse uma coordenação indígena, mas, infelizmente, ao ponto que ela nos destrata, ao ponto que ela nos desrespeita”, disse.
Ao Portal O Convergente, Márcio disse que a atenção básica de saúde também carece de um olhar mais amplo nestas comunidades. “A saúde indígena, ela é saúde básica e, assim, quando se estabelece esse conceito de saúde básica, ela tem muitas falhas, porque aí, se a gente destaca a questão da falta da assistência, porque quando a equipe entra, ela vem para fazer as ações de saúde dentro das aldeia, só que, muitas das vezes, ela se encontra com dificuldade, porque ela não pode fazer todo o tratamento, toda a cobertura só com o atendimento da saúde básica. Às vezes, o paciente precisa de uma assistência mais solutiva, porque, quando alguém vem num polo – digamos assim – com uma dor no estômago e precisa de um buscopam injetável, a saúde indígena, ela não cobre, e aí o paciente, às vezes, fica irritado por não haver esse insumo dentro da unidade. Nesse aspecto, a gente começa a falar das dificuldades que a gente se depara dentro da aldeia, mas, se eu colocar que a coordenação não está dando assistência, eu posso falar pela dificuldade de relacionamento pela gestão”, comentou.
Quem também reivindicou pelos mesmos motivos e em vídeos foram os caciques das comunidades indígena Barreira de Cima, Ivo da Silva Gomes; Josias Cardoso dentre outros, que também repudiam a falta de diálogo com as comunidades indígenas.
Retornos
O Portal O Convergente buscou mais informações sobre as denúncias feitas da gestão da nova coordenadora nos Ministérios Públicos do Amazonas (MPAM) e do Federal (MPF) para saber se foram procurados pelas comunidades indígenas a respeito da falta de gestão no DSEI-Tefé. No entanto, o MPAM apenas respondeu que o caso, por se tratar de indígenas, deve ser levado ao MPF, que não respondeu os questionamentos feitos pela reportagem.
A coordenadora Ercília Tikuna também foi procurada para responder sobre as denúncias pelo contato (92) 994*-*29, por meio de mensagens via WhatsApp, e o único retorno foi de que a demanda já havia sido encaminhada ao núcleo de comunicação do DSEI-MRSA, mas não houve retorno.
O Ministério da Saúde, responsável pelos DSEIs, também foi procurado para dar mais informações sobre a gestão e os questionamentos dos indígenas. No entanto, não houve retorno das informações até o fechamento desta matéria. O espaço segue aberto para quaisquer pedidos de direito de respostas posterior à publicação.
- Por Redação Convergente
- Revisão textual: Vanessa Santos
- Foto: Arquivo de denúncia / Ilustração: Marcus Reis