sexta-feira, novembro 22, 2024

Com voto contrário de Amom, analista político não vê surpresa em posicionamento de bancada do AM sobre redução de cotas femininas

Sete dos oito deputados federais do AM votaram a favor da minirreforma eleitoral, que reduz as candidaturas femininas

Nos últimos dias, o posicionamento da bancada federal do Amazonas na Câmara dos Deputados em relação à votação da minirreforma eleitoral tem repercutido. Isso porque sete dos oito deputados votaram a fazer do texto-base, na última quarta-feira (13), que tem como um dos pontos a redução das cotas femininas. O único deputado que votou contra a minirreforma foi Amom Mandel (Cidadania) e afirmou que a aprovação traz um “retrocesso na legislação eleitoral”.

O Projeto de Lei nº 4438 de 2023, que agora segue para o Senado, institui uma série de modificações e flexibilizações em normas eleitorais. Entre os pontos, os partidos podem deixar de cumprir a disposição de cotas para candidaturas femininas. Se aprovado, a redução para as mulheres na política pode ser inferior a 30%, porcentagem disponibilizada atualmente.

Para o deputado federal Amom Mandel, é “inadmissível” que o Parlamento aprove a minirreforma que, na opinião dele, traz uma série de retrocessos para o Brasil. Em relação à redução das cotas femininas, o parlamentar destacou que é necessária representação e diversidade nas Casas Legislativas, o que pode mudar com a aprovação da minirreforma.

“É um retrocesso descomunal. É inadmissível que o Parlamento aprove esse tipo de coisa, porque nós precisamos, por definição, que no Parlamento Brasileiro tenhamos representações proporcionalmente ao que a população pensa. Ou seja, precisamos de diversidade de opiniões de pessoas”, disse.

Ainda, segundo ele, a minirreforma abre uma brecha para que parlamentares que usam ‘caixa 2’ possam sair impunes.

Com o voto contrário de Amom, o requerimento de urgência da minirreforma eleitoral teve o voto a favor dos deputados Capitão Alberto Neto (PL), Sidney Leite (PSD), Saullo Vianna (UB), Silas Câmara (Republicanos), Atila Lins (PSD), Fausto Júnior (UB) e Adail Filho (Republicanos).

Retrocessos

Para a ativista política Michelle Andrews, a minirreforma também é um retrocesso. “A chamada “minirreforma eleitoral” é tudo, menos “mini”. Ela traz consigo retrocessos significativos, especialmente para mulheres negras, LGBTQ+ e outros grupos minorizados”, disse. De acordo com ela, o posicionamento da bancada amazonense na votação reflete “a falta de sintonia com a contemporaneidade”.

“É lamentável que esses representantes não estejam dialogando com a realidade atual, apesar das estatísticas, relatos, pesquisas, grupos de estudo e trabalho que evidenciam o baixo nível de representação política de mulheres e questões étnicas no país. A política ainda carece de diversidade”, afirmou.

Andrews ainda comentou ao O Convergente que a minirreforma, no geral, “é um reflexo da mentalidade arcaica de muitos políticos, que ignoram a necessidade de cotas para mulheres e minorizados e ferramentas para uma participação mais inclusiva”.

Em relação aos votos a favor dos políticos do Amazonas, a ativista não se surpreendeu. “[Na semana] do Dia Internacional da Democracia, essa votação simboliza retrocessos significativos. São homens que não estão se adaptando à realidade diversificada que um parlamento deveria representar em termos de gênero e questões étnicas”, finalizou.

Sem expectativas para defesa feminina

Para o analista político Helso Ribeiro, o posicionamento da maioria dos deputados federais do Amazonas não é surpresa, uma vez que não há mulheres na bancada do Estado, tanto na Câmara quanto no Senado.

“Em relação específica da nossa bancada [do Amazonas], não dá para esperar você pegar mamão na goiabeira. A nossa bancada é composta só de homens, não é muito fácil encontrar homens que defendam os interesses das mulheres. Você encontra, mas não é isso. Dos oito deputados, sete votaram favoráveis à aprovação da reforma”, disse.

Ribeiro ainda comentou que “não dá para esperar milagre”, uma vez que, na prática, a defesa dos direitos das mulheres não é exercida. “Se você for ver, todos vão dar uma justificativa, mas, na prática, é isso. O Amazonas tem 11 parlamentares em Brasília, 3 senadores e 8 deputados, todos homens. Então não dá para esperar milagre daí”, pontuou.

O especialista também explicou ao O Convergente que, apesar da repercussão, é necessário manter a calma, uma vez que o texto seguiu para o Senado e ainda deve ser analisado, por isso, é necessário acompanhar como a Casa vai tratar a minirreforma eleitoral. “A gente não sabe se no Senado vai ter regime de urgência ou não. Se não tiver, não tem como promulgar essa reforma ou esse puxadinho até o dia”, disse.

Em relação às cotas femininas, Ribeiro acredita que não será positiva para o Brasil, que deve ficar na última posição do continente em representatividade feminina no Parlamento, caso o PL seja aprovado.

“O país que tem menos mulheres nos Parlamentos é o Brasil. Eu acho que essa reforma está vindo, no que tange ao dinheiro destinado às mulheres e à possibilidade das federações e não dos partidos membros das federações indicarem mulheres, ela está fazendo com que o Brasil permaneça nessa última colocação”, afirmou.

Caixa 2

Outro ponto que foi bastante debatido pelo deputado do Amazonas, Amom Mandel, foi a utilização do caixa 2, que passaria a ser “normalizado” com a aprovação da minirreforma.

Em explicação para O Convergente, Helso Ribeiro pontuou que qualquer parlamentar diz ser favorável sobre o uso, mas que não acredita que a minirreforma vá ajudar no caixa 2.

“Eu não vejo que essa reforma tem ferramentas para ajudar o caixa 2. Inclusive, a prestação de contas parcial que, atualmente, os partidos e candidatos têm que fazer, com essa minirreforma, ela acaba. Então, ela facilita ainda mais que você utilize lá na frente dinheiro que você não tinha, o então caixa 2”, afirmou.

Positivo X Negativo

Ao Convergente, o analista ainda falou sobre os prós e contras da minirreforma eleitoral aprovada por grande parte da bancada do AM. Conforme ele, em 2021, o Brasil também passou por uma reforma, no entanto, a que se discute atualmente no Congresso é menor do que a anterior.

“Ela largou mais os crimes políticos contra as mulheres, que nesse ponto é positivo. E tem vários pontos negativos também. Eu penso que o fato de você tirar a obrigatoriedade dos partidos terem 30% pelo menos de candidaturas de um sexo, no caso feminino, eu penso que não é interessante”, comentou.

Helso Ribeiro disse que concorda com a ideia dos partidos que não atingirem o consciente eleitoral não terem direito às cadeiras, uma vez que diminui a pluralidade das siglas no Brasil, mas discorda que o dinheiro destinado às candidaturas femininas possa ser usado por homens e diz que é “conversa para boi dormir”.

“A questão da marcação, da inelegibilidade a partir do momento da condenação e não do cumprimento após o mandato, eu acho que é para beneficiar os políticos. Então, eu diria que têm pontos que, de fato, devem ser adequados à realidade, e outros que você vê que é político legislando para eles mesmo”, frisou.

Leia mais: Michelle Bolsonaro defende fim de cota para mulheres para cargos no Legislativo, mas volta atrás

*Com informações do O Convergente

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Da Redação

Ilustração: Marcus Reis

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