sábado, novembro 23, 2024

Estudo aponta a COVID-19 como causadora de piora nos índices de doenças crônicas

A pesquisa analisa que a partir de 2020, os dados do Vigitel evidenciaram rápida piora nos indicadores de doenças crônicas que vinham em evolução positiva

Um estudo de Malta e colaboradores (2023), publicado na Ciência & Saúde Coletiva (vol. 28, n.º 12) sobre Mudanças nas doenças crônicas e os fatores de risco e proteção antes e após a terceira onda da COVID-19 no Brasil, analisa a associação entre a pandemia e a epidemiologia das doenças crônicas no Brasil, utilizando o Vigitel, uma pesquisa por telefone sobre o tema, realizada anualmente pelo Ministério da Saúde. Esse inquérito atinge uma amostra populacional de cerca de 54 mil habitantes de todas as regiões e se fundamenta nos efeitos do estilo e das condições  de vida sobre a saúde.

No Brasil, o primeiro caso de COVID-19 foi confirmado em 26 de fevereiro de 2020. Até 28 de maio de 2022, registraram-se mais de 30,9 milhões de casos e mais de 666 mil óbitos (CONASS,   2022). A taxa de mortalidade da doença ficou acima da média global durante 2020 e 2021 (OMS, 2022).

O estudo aponta que as desigualdades socioeconômicas e a vulnerabilidade de diferentes grupos interferiram tanto na disseminação como na mortalidade. Mas há evidências conjunturais de que o excesso de mortes e de sequelas graves tenha a ver também com a errática condução política do país no período: politização da situação pandêmica, retardamento das vacinas, propostas de medicamentos sem comprovação e negação da ciência.

Historicamente, sabe-se que as pandemias possuem efeitos deletérios e multidimensionais que vão além das estatísticas de morbimortalidade pelo agravo específico. Por isso, dimensionar o estado de saúde, a morbidade real ou referida e a realização de exames preventivos antes, durante e depois da pandemia da COVID-19 são uma obrigação da saúde pública, sendo essencial para dimensionar e redimensionar serviços e programas no período posterior. É nesse contexto que se insere o estudo de Malta et al.

O Vigitel como estratégia de pesquisa se iniciou em 2006 e, desde então, propiciou campanhas e programas informativos de prevenção de doenças crônicas, associados a hábitos e costumes. De 2006 até 2019, esse processo de conhecimento foi mostrando mudanças positivas na sociedade brasileira, particularmente, redução do número de fumantes e usuários abusivos de álcool, aumento no consumo de frutas e hortaliças, maior cobertura de mamografia, exames de colo de útero e práticas de atividades físicas, hábitos associados à prevenção de câncer, de enfermidades cardiorrespiratórias, de diabetes, de hipertensão e de doenças mentais.

 

A pesquisa analisa que a partir de 2020, os dados do Vigitel evidenciaram rápida piora nos indicadores de doenças crônicas que vinham em evolução positiva. O número de adultos com prática insuficiente de atividade física e comportamento sedentário aumentou. Reduziu-se a cobertura de exames preventivos de câncer e de citologia do colo de útero. Pioraram os indicadores de excesso de peso, de obesidade e elevou-se a prevalência de diabetes, hipertensão arterial e doenças mentais.

Também aumentou o desemprego e, um dos efeitos diretos do distanciamento social, foi a redução das interações sociais e a elevação do tempo em frente à TV, tablet, computador e celular. O comportamento sedentário teve efeitos deletérios na saúde cardiovascular, na saúde mental e no aumento de mortes prematuras e evitáveis. Ocorreu importante incremento no excesso de peso, que atingiu 60% da população do país. E a obesidade subiu para 20%.

A mesma pesquisa identificou também piora na qualidade da alimentação e aumento na insegurança alimentar, que atingiu 100 milhões de brasileiros. Foram encontradas 20 milhões de pessoas passando fome. Há evidências de que a crise sócio-sanitária ocasionada pela COVID-19 tenha sido a “quarta onda” da pandemia, que promete efeitos deletérios ainda por muitos anos.

Em resumo, a piora na prevalência de doenças crônicas decorre simultaneamente dos efeitos sistêmicos da COVID-19, das sequelas resultantes da doença, da queda na qualidade de vida, da redução no acesso aos serviços de saúde preventivos durante o período mais agudo da pandemia. Esse último ponto é crucial.

Nas Américas, uma pesquisa da Organização Pan-Americana da Saúde, de 2020, apontou acesso limitado aos serviços que atendiam a doentes crônicos em 64% dos países durante a pandemia, em função do cancelamento de atendimentos eletivos (58%), da realocação da equipe clínica para dar resposta aos afetados por COVID-19 (50%) e do não comparecimento dos indivíduos aos atendimentos de saúde (50%) com medo de se infectar (PAHO, 2020). Ademais, há estudiosos que, frente à piora da saúde mental da população sequelada pela COVID, preveem o que chamam “quinta onda” da pandemia.

 

 

Fonte: Revista Ciência & Saúde Coletiva

Ilustração: Marcus Reis

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