A expectativa de vida ao nascer diminuiu 1,6 ano no mundo no período entre 2019 e 2021, quebrando uma tendência histórica de aumento contínuo. O dado ratifica o impacto da pandemia da Covid-19 sobre a saúde humana ao redor do globo. No Brasil, a queda foi ainda maior, de 2,8 anos. A análise faz parte de artigo publicado na revista britânica The Lancet e foi obtida a partir de trabalho realizado por um grupo de estudo internacional chamado Global Burden of Diseases (Carga Global das Doenças), que conta com pesquisador da Fiocruz Pernambuco.
Os pesquisadores se debruçaram sobre dados de 204 países, além de 811 regiões, Estados e cidades. Globalmente, a expectativa de vida estava em 73,3 anos no ano de 2019. Em 2021, diminuiu para 71,7. No Brasil, a esperança de vida ao nascer era de 76,5 anos em 2019, ficando em 73,7 anos em 2021. A redução nacional foi 75% maior quando se compara com o número mundial.
Entre os 204 países pesquisados, apenas 32 (15,7%) tiveram um aumento na esperança de vida. “É importante entender as características das regiões que, mesmo com a Covid-19, mantiveram a tendência de aumento na expectativa de vida. Entre as que apresentaram redução, é preciso compreender o que motivou a queda ser menor ou maior. É entendendo esses perfis e captando as distinções que poderemos pensar em ações de enfrentamento para futuras pandemias”, afirma o pesquisador do departamento de Saúde Coletiva, da Fiocruz Pernambuco, Rafael Moreira, que integra a equipe de cientistas responsável pelo estudo. Ele ainda reitera que a pesquisa é “uma evidência científica de que a Covid-19 foi um evento grave de saúde pública”.
O estudo também esmiuçou os números de cada Estado brasileiro. Em Pernambuco, por exemplo, a expectativa de vida em 2019 era de 75,7 anos e caiu para 74 anos em 2021, uma diferença negativa de 1,7 ano. Isso significa um índice percentual apenas 6% maior do que o global.
“A partir desse artigo publicado na The Lancet, ficou claro que eventos mundiais em saúde pública afetam a esperança de vida de uma população e, dependendo do nível socioeconômico e do modelo de enfrentamento de cada região, a problemática pode ser ainda maior para salvar vidas. Vários fatores estão envolvidos nessas distinções, mas a pandemia e o manejo dela foram os fatores que mudaram o curso do progresso do aumento da esperança de vida ao nascer”, pontua Rafael Moreira.
Mortalidade geral
Estima-se que 131 milhões de pessoas morreram em todo o mundo entre os anos de 2020 e 2021. Desse total, 15,9 milhões de mortes (12%) foram provocadas diretamente por causa da infecção pelo SARS-CoV-2 e indiretamente devido a outras mudanças sociais, econômicas ou comportamentais associadas à pandemia.
Mortalidade infantil
Apesar da diminuição global na expectativa de vida, os pesquisadores atestaram que a mortalidade infantil continuou em queda mesmo no período pandêmico. Em 2019, foram registradas 5,21 milhões de mortes entre meninos e meninas menores de 5 anos. Em 2021, foram 4,66 milhões de mortes. Ou seja, foram cerca de 550 mil óbitos a menos.
O artigo completo pode ser lido no link da revista The Lancet https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(24)00476-8/fulltext
Fonte: Global Burden of Diseases / Fiocruz
Foto: Divulgação
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