sexta-feira, novembro 22, 2024

Estudo aponta que Sífilis na gestação aumenta chance de desfechos negativos para recém-nascidos

Em 2015, o Brasil foi considerado pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) um dos quinze países prioritários para a redução dos casos de sífilis congênita

Para se considerar um recém-nascido saudável, são verificados a estatura, o peso e a idade gestacional que alcançou antes de nascer. No entanto, estes parâmetros podem ser afetados pela presença de outros fatores durante a gestação. Agora, um novo estudo, elaborado por uma equipe de pesquisa do Centro de Integração de Dados e Conhecimento para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), demonstra que a ocorrência de sífilis gestacional também afeta a saúde dos recém-nascidos e aumenta a probabilidade de que a criança apresente baixo peso, seja considerada pequena para a idade ou nasça prematura.

Publicada na última edição do periódico International Journal of Gynecology and Obstetrics, a pesquisa aponta que crianças nascidas de pessoas gestantes com a sífilis apresentaram maior prevalência de prematuridade (14,45%), de baixo peso ao nascer (13,40%), e de serem consideradas pequenas para a idade gestacional (11,66%), em comparação àqueles nascidos de gestantes sem a doença (que apresentaram a prevalência de 10,63%, 7,14% e 7,34% dos mesmos desfechos, respectivamente).

A partir desses dados, a equipe de pesquisa estimou que, quando comparadas às pessoas que não foram diagnosticadas com a doença, as gestantes com a sífilis apresentaram um aumento na probabilidade em 88% de que seus filhos apresentassem baixo peso ao nascer; em 53% de que fossem considerados pequenos para a idade gestacional, e em 35% de prematuridade.

A sífilis pode ser transmitida da gestante para a criança por meio da chamada “transmissão vertical”. Ela pode ocorrer em qualquer período da gestação, e não é necessário que a pessoa contaminada se encontre em um estado clínico mais agravado para a infecção ocorrer. “O tratamento e diagnóstico precoce possuem um papel crucial na prevenção da sífilis congênita e, em consequência, na ocorrência desses desfechos negativos”, comenta Helena Benes, pesquisadora associada ao Cidacs/Fiocruz.

O estudo considerou dados de mais de 17 milhões de nascidos vivos, obtidos do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), vinculados aos dados de notificação de sífilis do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).

Em 2015, o Brasil foi considerado pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) um dos quinze países prioritários para a redução dos casos de sífilis congênita. Porém, entre 2011 e 2021, a ocorrência destes casos foi cerca de 20 vezes maior que a meta de 1 caso a cada 500 nascidos vivos. “Esses resultados destacam as necessidades de triagem e tratamento adequados da sífilis gestacional para mitigar o risco de desfechos adversos ao nascer”, considera a pesquisadora.

Papel do pré-natal contra a sífilis 

A recomendação oficial do Ministério da Saúde é de que a testagem para sífilis seja realizada durante o pré-natal, preferencialmente no primeiro trimestre da gravidez. Ao ser diagnosticada, a doença é tratada através da administração da penicilina, via injeção. O restabelecimento da paciente é determinado através do exame conhecido como VDRL, que, através da indicação da carga de titularidade [a presença de anticorpos] demonstra o quão avançada está a infecção.

Com essas informações em vista, a equipe de pesquisa estimou ainda a probabilidade de desfechos negativos nas gestantes diagnosticadas com sífilis, mas tratadas, e naquelas que não receberam tratamento. Tomando o grupo das mulheres não infectadas como referência, o estudo conclui que a probabilidade de desfechos negativos para a criança aumenta proporcionalmente em relação a carga de titularidade do VDRL. Ou seja, quanto mais avançada estiver a infecção, maiores as chances de a criança apresentar alguma questão em seu desenvolvimento.

Além disso, a análise dos grupos pelo número de consultas pré-natal mostrou que crianças de gestantes que compareceram a menos de seis atendimentos também possuem maior probabilidade de apresentarem desfechos adversos. “Nós notamos que o fortalecimento de políticas para o adequado tratamento da sífilis gestacional e realização de consultas pré-natais, já contribuiriam significativamente para a redução dos casos de desfecho adverso”, completa Helena.

Durante o pré-natal é possível acompanhar se a gestante, e a criança, possui ganho de peso adequado durante a gestação, ou se há alguma complicação. Esses fatores podem ser manejados e prevenidos ainda durante a gestação. A pesquisadora destaca que o pré-natal é o momento de aconselhamento adequado da gestante. Por exemplo, é a ocasião em que se avisa sobre a importância de envolver o parceiro no tratamento, para evitar a reinfecção. “Só o fato de a mulher ir para o pré-natal já ajuda a prevenir, e a tratar, problemas na gestação e, depois, até na criança”.

Outros estudos da equipe de pesquisa também já pautaram outros desfechos associados a sífilis congênita. De acordo com um outro artigo, publicado em 2023, o risco de mortalidade para crianças acometidas pela doença é até duas vezes superior em relação àquelas que não tiveram a doença.

 

 

 

 

Fonte: Fiocruz

Foto: Reprodução / Freepik / Tirachardz

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