Divulgado na quinta-feira (12), o novo Boletim InfoGripe da Fiocruz mostra o espalhamento da Covid-19 em diversas regiões do país, conforme alertado na atualização da última semana. A análise aponta o aumento de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por Covid-19 não mais apenas em Goiás e São Paulo, como anteriormente pontuado, mas também nos estados do Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e Distrito Federal.
O estudo constatou ainda a manutenção do crescimento de casos de SRAG por rinovírus em muitos estados das regiões Nordeste e Centro-Sul, e especialmente no estado do Amapá (chama atenção que a maioria dessas ocorrências graves por rinovírus estão concentradas principalmente entre crianças e adolescentes de até 14 anos). A atualização é referente à Semana Epidemiológica (SE) 36, que compreende o período de 1 a 7 de setembro, e tem como base os dados inseridos no Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe).
Pesquisadora do Programa de Computação Científica da Fiocruz, Tatiana Portella alerta que, devido à alta movimentação de pessoas entre o estado de São Paulo e outras regiões do país, o aumento de casos de SRAG por Covid-19 em São Paulo pode, nas próximas semanas, continuar impulsionando a disseminação e o crescimento dos casos do Sars-CoV-2 (Covid -19) em outros estados. Diante desse cenário, Portella reforça a importância de que todas as pessoas do grupo de risco – como idosos, crianças e pessoas com comorbidades – estejam em dia com a vacinação contra a Covid-19.
“Nessa época do ano, começam as campanhas de vacinação contra a influenza na região Norte. E é muito importante que todas as pessoas elegíveis nos estados do Norte também estejam em dia com a vacina contra a influenza”.
Nas quatro últimas semanas epidemiológicas, a prevalência entre os casos positivos foi de 14,4% para influenza A; 3,2% para influenza B; 9% para vírus sincicial respiratório (VSR), 34,7% para rinovírus, e 32% para Sars-CoV-2 (Covid-19). Entre os óbitos, a prevalência entre os casos positivos foi de 25,4% para influenza A, 4,1% para influenza B, 3,7% para VSR, 9,8% para rinovírus e 50,2% para Sars-CoV-2 (Covid-19).
“Com esse quadro preocupante, é fundamental seguir recomendações como uso de máscara em locais fechados com maior aglomeração de pessoas e com menor circulação de ar, assim como dentro dos postos de saúde. Em caso de aparecimento dos sintomas, o recomendado é ficar em isolamento em casa, se recuperando da infecção e, assim, evitando transmitir esse vírus para outras pessoas. Mas, se não for possível fazer isolamento, o recomendado é sair de casa usando uma boa máscara”, orienta e pesquisadora.
Estados e capitais
No agregado nacional, há indícios de aumento de SRAG na tendência de longo prazo (últimas seis semanas) e de curto prazo (últimas três semanas). Esse incremento deve-se ao crescimento das SRAG por rinovírus e Covid-19 em muitos estados do país. Quinze unidades federativas (UFs) têm sinais de aumento de SRAG na tendência de longo prazo: Amapá, Ceará, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.
Quanto às capitais, 15 apresentam crescimento de casos de SRAG: Brasília (DF), Campo Grande (MS), Curitiba (PR), Florianópolis (SC), Fortaleza (CE), Goiânia (GO), João Pessoa (PB), Macapá (AP), Palmas (TO), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Teresina (PI) e Vitória (ES).
Os vírus VSR e rinovírus permanecem como as principais causas de internações e óbitos em crianças de até dois anos, embora os casos de SRAG por VSR já demonstrem queda nas últimas semanas. O rinovírus também se destaca na incidência entre crianças e adolescentes de dois a 14 anos.
Em muitos estados das regiões Centro-Sul, Nordeste e no Amapá, o aumento dos casos de SRAG em crianças e adolescentes de até 14 anos está associado ao rinovírus. No entanto, em alguns outros estados, como São Paulo, Sergipe e também no Distrito Federal, já se verifica uma desaceleração no crescimento ou o início de queda nos casos de SRAG causados pelo vírus.
No Distrito Federal, Goiás, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul e São Paulo, o crescimento de SRAG também está associado ao aumento das notificações de Covid-19. Já os casos de SRAG por VSR e influenza A mantêm uma tendência de queda ou baixa na maior parte do território nacional.
Entre crianças e adolescentes de 2 a 14 anos, há uma desaceleração no crescimento dos casos de SRAG. Os dados laboratoriais sugerem que, no grupo de adultos e idosos, o aumento das hospitalizações está relacionado à Covid-19. Já entre crianças e adolescentes, a redução no ritmo de crescimento dos casos de SRAG está associada a uma desaceleração no aumento dos casos de rinovírus em alguns estados do país.
Referente ao ano epidemiológico 2024, já foram notificados 126.904 de SRAG, sendo 61.015 (48,1%) com resultado laboratorial positivo para algum vírus respiratório, 51.248 (40,4%) negativos, e ao menos 7.845 (6,2%) aguardando resultado laboratorial. Dados de positividade para semanas recentes estão sujeitos a grandes alterações em atualizações seguintes por conta do fluxo de notificação de casos e inserção do resultado laboratorial associado.
Dentre os casos positivos do ano corrente, 18,6% são influenza A; 0,7%, influenza B; 40,8%, VSR; 23,5%, rinovírus; e 18,2%, Sars-CoV-2 (Covid19).
Mortalidade
A incidência e mortalidade semanal média, nas últimas oito semanas epidemiológicas, mantêm o cenário típico de maior impacto nos extremos das faixas etárias analisadas. Em crianças de até 2 anos de idade, a incidência e mortalidade de SRAG é mantida em maior parte pela circulação do VSR e rinovírus. Na análise de mortalidade, a população a partir dos 65 anos continua sendo a mais impactada, fundamentalmente por conta dos vírus Sars-CoV-2 (Covid-19).
Em relação aos casos de SRAG por Sars-CoV-2, a incidência tem apresentado maior impacto em crianças pequenas e idosos, enquanto a mortalidade tem sido mais elevada entre idosos a partir de 65 anos. No entanto, entre as crianças, os impactos tanto em hospitalizações quanto em óbitos são inferiores aos observados atualmente para os vírus VSR e rinovírus.
Com informações da Fiocruz*
Ilustração: Marcus Reis
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