Pela primeira vez na América Latina, uma mulher que havia nascido sem o útero, devido a uma síndrome rara de má-formação congênita, recebeu o órgão da própria irmã em um transplante entre pessoas vivas, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. O procedimento representa um avanço significativo nas alternativas da medicina reprodutiva.
O transplante aconteceu no mês de agosto e foi conduzido pela Divisão de Ginecologia e pelo Serviço de Transplante de Fígado e Órgãos do Aparelho Digestivo do HCFMUSP. O responsável pela cirurgia, doutor Luiz Augusto Carneiro D’Albuquerque contou que a cirurgia correu bem e sem imprevistos.
“As pacientes encontram-se em ótimo estado geral, mostrando recuperação completa e tendo a receptora apresentado ciclo menstrual pela primeira vez”, disse.
A paciente que recebeu o útero seguirá sendo acompanhada por uma equipe de Ginecologia do HCFMUSP e poderá realizar a primeira fertilização in vitro (FIV) em aproximadamente seis meses após o transplante uterino.
O diretor de Ginecologia do Hospital das Clínicas, Edmund Baracat, explica que o transplante é psicologicamente muito importante para mulheres que não possuem útero, mas ressalta que a indicação é restrita.
“Trata-se de um procedimento inovador, complexo e de alto custo. É preciso que a mulher tenha boas condições clínicas e que o casal possa gerar embriões saudáveis. Na fase pré-transplante, foram efetuadas a estimulação ovariana e a coleta dos óvulos da paciente, bem como do sêmen do marido, para a fertilização in vitro”, afirma.
O dr. ainda frisou que esse é um projeto experimental e que, ao menos por enquanto, não está aberto à população em geral, embora tenha sido aprovado em todas as instâncias éticas do HC da Faculdade de Medicina e do Conep (Conselho Nacional de Ética e Pesquisa) e conte com apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
A iniciativa ocorreu em parceria com uma equipe médica sueca chefiada por Mats Brännström, precursor na realização de transplante uterino no mundo e que possibilitou o nascimento do primeiro bebê a partir de um útero transplantado, em 2014.
Ilustração: Marcus Reis
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