quinta-feira, outubro 17, 2024

Pessoas que usam cannabis com THC de 10% ou mais têm cinco vezes mais chance de desenvolver um transtorno psicótico, aponta pesquisa

A pesquisa combinou dados de dois grandes estudos de caso-controle iniciais: o estudo Genética e Psicose, realizado no sul de Londres, e o estudo EU-GEI, que incluiu participantes da Inglaterra, França, Holanda, Itália, Espanha e Brasil

Um estudo recente, Publicado na revista científica Molecular Psychiatry, demonstra que a cannabis de alta potência pode causar marcas distintas e impactos biológicos no DNA de usuários. Além disso, o estudo também aponta que essas alterações são diferentes em pessoas que estavam sofrendo o primeiro episódio psicótico, em comparação com usuários que nunca haviam sofrido de psicose, com isso, o uso da maconha traz um maior risco de desenvolvimento destes tipos de surtos.

A maconha é uma das drogas mais usadas no mundo. No entanto, ainda há muita coisa que não sabemos sobre ela e sobre seus efeitos no cérebro.

Os estudos mostraram que quanto maior a concentração de THC, mais fortes serão os efeitos no usuário. Por exemplo, uma pesquisa descobriu que as pessoas que usam maconha de alta potência (com THC de 10% ou mais) diariamente, possuem cinco vezes mais chance de desenvolver um transtorno psicótico, em comparação com aquelas que nunca usaram a droga.

Os transtornos psicóticos associados ao uso diário de cannabis de alta potência (com alta porcentagem de THC), costumam se manifestar por meio de uma série de sintomas. Entre eles, estão alucinações auditivas (ouvir vozes que outras pessoas não conseguem escutar), delírios de perseguição (sentir que é alvo de uma conspiração sem qualquer evidência) e paranoia (perceber o ambiente como hostil e interpretar as interações de forma suspeita).

O estudo analisou as marcas que o uso recorrente do entorpecente produz sob o DNA.

Para isso, os pesquisadores investigaram os efeitos do uso de maconha em um processo molecular chamado metilação do DNA. Trata-se de um processo químico que regula a atividade dos genes, ativando ou desativando os genes, e controlando como os genes são expressos sem alterar a estrutura do próprio DNA. A metilação do DNA é um dos muitos mecanismos que regulam a atividade dos genes, e faz parte de um importante processo biológico conhecido como epigenética.

A epigenética é base da interação entre o nosso ambiente, as escolhas de estilo de vida que fazemos (como o uso de cannabis ou a prática de exercício físico) e a nossa saúde física e mental.

Embora estudos anteriores tenham investigado o impacto do uso de maconha ao longo da vida na metilação do DNA, eles não analisaram o efeito do uso regular de diferentes potências da droga neste processo. Tampouco exploraram como isso afeta as pessoas que têm psicose.

A pesquisa combinou dados de dois grandes estudos de caso-controle iniciais: o estudo Genética e Psicose, realizado no sul de Londres, e o estudo EU-GEI, que incluiu participantes da Inglaterra, França, Holanda, Itália, Espanha e Brasil.

Ambos os estudos coletaram dados de pessoas que estavam sofrendo o primeiro episódio psicótico e de participantes que não apresentavam problemas de saúde e representavam a população local.

No total, foram analisados 239 pessoas que estavam sofrendo o primeiro episódio psicótico e 443 voluntários saudáveis. Cerca de 65% dos participantes eram do sexo masculino. Eles tinham idades entre 16 e 72 anos. Todos forneceram informações sobre o uso de cannabis, assim como amostras de DNA do sangue.

Cerca de 38% dos participantes usavam maconha mais de uma vez por semana. Daqueles que usavam a droga, a maioria consumia cannabis de alta potência mais de uma vez por semana — e havia começado por volta dos 16 anos.

As análises de metilação do DNA foram então realizadas em várias partes de todo o genoma. A análise levou em conta o potencial impacto de diversos fatores de confusão biológicos e ambientais que podem ter afetado os resultados — como idade, sexo, etnia, tabagismo e a composição celular de cada amostra de sangue.

As descobertas revelaram que o uso de maconha de alta potência altera a metilação do DNA — sobretudo em genes relacionados às funções de energia e do sistema imunológico. Isso ocorreu com os participantes que haviam usado maconha de alta potência. No entanto, as pessoas que haviam sofrido de psicose apresentavam uma marca diferente de alteração no seu DNA.

Estas mudanças epigenéticas mostram como fatores externos (como o uso de drogas) podem alterar o funcionamento dos genes. É importante destacar que estas alterações não foram explicadas pelo tabaco — que normalmente é misturado nos cigarros de maconha por muitos usuários, e é conhecido por alterar a metilação do DNA.

Esta descoberta também evidencia as alterações epigenéticas como um possível elo entre a cannabis de alta potência e a psicose. A metilação do DNA, que faz a ponte entre a genética e os fatores ambientais, é um mecanismo chave que permite que influências externas (como o uso de substâncias) afetem a atividade dos genes.

Ao estudar as alterações epigenéticas, os pesquisadores podem ser capazes de desenvolver uma compreensão melhor sobre como o uso de maconha — especialmente de alta potência — pode influenciar vias biológicas específicas.

Isso pode, por sua vez, ajudar a entender por que é que alguns usuários de cannabis apresentam um risco maior. O estudo deve ajudar cientistas a compreender melhor como o uso de maconha pode afetar a biologia do corpo humano.

As futuras pesquisas devem agora investigar se os padrões de metilação do DNA associados ao uso de cannabis podem servir como biomarcadores para identificar usuários com maior risco de desenvolver psicose. Isso pode auxiliar no desenvolvimento de estratégias de prevenção mais direcionadas e orientar práticas mais seguras de uso de cannabis.

 Com informações da The Conversation e Molecular Psychiatry*

Foto: Reprodução / Freepik / JCOMP

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