terça-feira, novembro 12, 2024

Estudo confirma a transmissão vertical do vírus Oropouche

A pasta apontou dois casos de transmissão vertical confirmados e mais de 20 em investigação

Um estudo publicado na revista científica New England Journal of Medicine confirmou a transmissão vertical do vírus Oropouche em um caso de morte fetal registrado no Ceará. Este é o terceiro caso confirmado no país. A transmissão vertical ocorre quando um microrganismo passa da mãe para o bebê durante a gestação.

O trabalho contou com colaboração do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), por meio do Laboratório de Arbovírus e Vírus Hemorrágicos, que atua como referência regional em arboviroses para o Ministério da Saúde.

A detecção da transmissão vertical foi realizada pelo serviço de vigilância da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa/CE). Colaboraram com o estudo: Sesa/CE; Universidade de Fortaleza (Unifor); Universidade Federal do Ceará (UFC); Serviço de Verificação de Óbitos do Ceará Dr. Rocha Furtado (SVO/Sesa/CE); Laboratório Central de Saúde Pública do Ceará (Lacen-CE); IOC/Fiocruz; Faculdade São Leopoldo Mandic; e Escola de Saúde Pública do Ceará Paulo Marcelo Martins Rodrigues (ESP/CE).

De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil registrou 8,2 mil casos de febre Oropouche em 2024. Em boletim com dados até 19 de outubro, a pasta apontou dois casos de transmissão vertical confirmados e mais de 20 em investigação. Os dois registros confirmados correspondem a um caso de óbito fetal em Pernambuco e um caso de anomalias congênitas no Acre.

Linhagem viral 

O estudo traz informações sobre o quadro clínico da gestante, que começou a apresentar sintomas compatíveis com Oropouche, como febre e dores no corpo e de cabeça, no dia 24 de julho, durante a 30ª semana da gravidez. No dia 5 de agosto, ocorreu diagnóstico de morte fetal. Com autorização da família, os especialistas realizaram procedimentos minimamente invasivos para coletar amostras do bebê.

No Lacen-CE, o vírus Oropouche foi detectado em diversas amostras fetais, incluindo líquido cefalorraquidiano e tecidos cerebral, pulmonar e hepático, além do cordão umbilical e da placenta. A infecção pelo patógeno também foi confirmada em amostra de sangue da mãe.

Como laboratório de referência, o Laboratório de Arbovírus e Vírus Hemorrágicos do IOC/Fiocruz recebeu amostras para nova bateria de testagem. Após confirmação do resultado positivo, foi realizado o sequenciamento genético do vírus detectado no feto. A análise apontou a presença da linhagem chamada de OROVBR_2015-2024, que emergiu recentemente no Brasil e foi caracterizada em artigo publicado na revista científica Nature Medicine, liderado pelo IOC/Fiocruz e pelo Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazônia).

“A análise desses genomas mostrou que o vírus pertence à linhagem que emergiu na Região Norte, se espalhou pelo Brasil e chegou a diferentes países como Bolívia, Cuba, Estados Unidos e Itália”, aponta o virologista Felipe Naveca, chefe do Laboratório de Arbovírus e Vírus Hemorrágicos do IOC/Fiocruz. “Esse é mais um estudo que evidencia que o vírus Oropouche é capaz de fazer infecção vertical. O mecanismo como isso acontece ainda é desconhecido, mas já existem evidências robustas de que o Oropouche pode causar danos severos em fetos, incluindo o óbito”, completa o pesquisador.

 

 

 

 

 

 

 

 

Com informações da Fiocruz*

Foto: Reprodução / Elena Goosen / Istock

Leia mais: Cenário de Mpox no Amazonas chega a 44 casos confirmados

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