A breve passagem do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em Manaus, nesse domingo (17), trouxe algumas promessas que foram anunciadas pelo próprio mandatário americano na capital amazonense. Ao O Convergente, o economista Origenes Martins e o cientista político Helso Ribeiro analisaram a importância econômica e política com relação a visita de Joe Biden em Manaus.
Durante a passagem por Manaus, Joe Biden anunciou a consolidação de um pacote de ajuda a iniciativas de conservação da Amazônia. Entre os anúncios formalizados em Manaus, os Estados Unidos doarão US$ 50 milhões para o Fundo Amazônia, dobrando a contribuição do país a esse instrumento internacional de financiamento.
Para o economista Origenes Martins, a visita de Joe Biden a Manaus é de extrema importância, tanto politicamente quanto economicamente. Porém, ele faz uma análise que a vinda do presidente americano à capital amazonense ocorre no final do mandato, no momento em que o governo americano passa por transição para o novo mandato de Donald Trump, presidente eleito no início de novembro.
“A visita do presidente Joe Biden a Manaus, aproveitando a vinda para o G20, inevitavelmente tem uma importância econômica e política para nossa região. A questão é: ele está passando por aqui no final de mandato onde o partido dele, ele particularmente, perdeu as eleições. As ações que ele toma podem ser mudadas quando o Donald Trump assumir”, avaliou.
Ainda de acordo com ele, as promessas e os acordos firmados por Joe Biden durante a visita ao Amazonas – e ao Brasil – dependerá de um posicionamento do novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
“Para nós, tudo vai depender do Donald Trump aceitar ou assumir ou não as ações que ele tomou aqui, como essa doação para o Fundo Amazônia”, pontuou.
Segundo o economista, é comum que os acordos que sejam voltados para a Amazônia sejam mantidos, mas que existe uma expectativa para saber se as ações que foram anunciadas em Manaus serão cumpridas por Trump.
“Economicamente, temos a promessa de um presidente saindo do poder e a expectativa que fica de um presidente que está entrando em honrar essa promessa. Normalmente, se tratando da Região Norte e da Amazônia, há uma tendência que essa promessa possa acontecer”, afirmou.
Proteção à Amazônia
Com relação aos anúncios de ações para a proteção à Amazônia, o economista ainda destacou que o discurso é relativo, uma vez que o presidente eleito Donald Trump já desfez acordos firmados por governos anteriores que visavam a conservação das florestas.
“Essa questão da proteção dos Estados Unidos é muito relativa, porque de novo vem o conflito dessa polarização que existe nos Estados Unidos, onde o partido democrata fala muito da proteção do meio ambiente e o Donald Trump, de certa forma, é contra, inclusive abandonou o acordo de Paris”, disse.
De acordo com ele, o brasileiro pode esperar que o presidente eleito Donald Trump assuma um papel diferente do que o mundo está acostumado e decida seguir em frente com os acordos firmados pelo governo de Joe Biden sobre a proteção da Amazônia.
“Podemos sonhar que o Donald Trump ‘se toque’ um pouco com essa visita do Biden e assuma algumas das ideias, ou dos assessores falarem alguma coisa do pouco que ele viu aqui, e resolva, até por uma questão política, assumir a defesa dessa região, pois ele veio a Manaus, uma parte onde a defesa do meio ambiente é preservado”, comentou.
Ainda segundo o economista, é necessário que o Fundo Amazônia seja beneficiado com as ações anunciadas por Joe Biden. Martins ainda pontuou que, além dos incentivos anunciados por ele à Amazônia, outro ponto que foi destaque na visita foi a visibilidade de Manaus diante de todo o mundo.
“É importante que o Fundo Amazônia seja beneficiado com isso e, pelo menos, tivemos uma visibilidade internacional com essa vinda do Biden aqui, isso para mim foi o melhor dos ganhos com essa visita”, alegou.
Importância da visita
Para o cientista político Helso Ribeiro, a visita de Joe Biden a Manaus é digna de aplausos, uma vez que é o chefe da maior potência econômica do mundo.
“A visita de qualquer presidente a Manaus é algo digno de aplauso. Quando se trata do presidente da maior potência mundial, acho que esses aplausos têm que ser bem fortes. Eu diria que uma visita é algo mais protocolar, nada impede que a partir dali se tente estreitar alguns laços”, avaliou o cientista.
Ainda de acordo com ele, os laços que podem ser mantidos a partir dessa visita seriam em várias áreas, tanto comerciais, quanto econômicas, do turismo e até mesmo educação e cultura. O cientista político ainda reforçou que, nos discursos de Biden, o mesmo se centrou em abordar sobre a Amazônia.
“Nos discursos dele, ele se centrou muito numa questão que o Amazonas está nos holofólios mundiais, que é a questão de um desenvolvimento sustentável da preservação ambiental. São vários assuntos que eu penso que continuando as conversações poderiam gerar frutos interessantes aqui pro Amazonas”, disse.
Outro ponto analisado pelo cientista político é Manaus ser uma cidade sede do consulado americano. Para ele, é importante essa construção, uma vez que grande parte dos turistas que visitam Manaus são dos Estados Unidos.
“Eu soube que numa das conversas desse encontro foi a possibilidade de um consulado aqui em Manaus, levando em consideração que, a maioria dos turistas estrangeiros que vêm ao Amazonas são provenientes dos Estados Unidos e também muitos turistas amazonenses visitam os Estados Unidos então seria mais fácil essa logística de vistos”, afirmou.
Helso Ribeiro ainda fez uma comparação com a comitiva presidencial de Joe Biden em Manaus com a Eco 92 no Rio de Janeiro e destacou que Manaus deve ser uma cidade de rota dos destinos de líderes mundiais.
“Eu só vi uma comitiva desse porte na época que não tinha nascido ainda, na época da Eco 92 lá no Rio de Janeiro. Então eu adoraria que Manaus fosse rota agora frequente de paradas de presidentes com bons frutos para a região”, afirmou.
Relação EUA e Amazonas
Durante a passagem de Biden, o governador Wilson Lima destacou a importância da visita do presidente americano em Manaus para fortalecer as relações entre os Estados Unidos e o Amazonas.
“Conversei com o presidente, que está muito feliz de estar aqui no Amazonas. Falei da importância simbólica disso para a Amazônia, da importância que o governo dá para o Amazonas de se deslocar dos Estados Unidos até aqui. Falei da preocupação com o desenvolvimento sustentável, sobretudo com a proteção das pessoas. Naturalmente, fiz um apelo para que pudéssemos fortalecer essas relações, no sentido de beneficiar as populações da Amazônia. E fiz um pedido para que pudéssemos ter um escritório da embaixada americana para suporte aos americanos e emissão de vistos”, afirmou o governador do Amazonas
Na economia, o Amazonas tem 20 empresas instaladas no Polo Industrial de Manaus (PIM) com participação de capital norte-americano. Os Estados Unidos também é o principal emissor de turistas para o Amazonas, representando algo em torno de 28% da movimentação de estrangeiros. Por conta disso, o governador Wilson Lima tem destacado a importância de um escritório da embaixada em Manaus.
Nos últimos anos, Wilson Lima tem buscado estreitar os laços com os Estados Unidos nas áreas de turismo e meio ambiente. Em três oportunidades, o governador destacou a importância da instalação de um escritório da embaixada americana no Amazonas, dada a importância da capital como ponto estratégico para emissão de vistos e, também, para apoiar turistas norte-americanos que desembarcam em Manaus.
Ações anunciadas
Entre os anúncios formalizados em Manaus, os Estados Unidos doarão US$ 50 milhões para o Fundo Amazônia, dobrando a contribuição do país a esse instrumento internacional de financiamento, totalizando as contribuições dos EUA ao Fundo Amazônia para US$ 100 milhões.
O aporte milionário ao Fundo Amazônia foi o segundo anunciado pelo governo Biden, que já havia anunciado anteriormente em 2023, no começo do governo Lula, que havia sido desativado durante o mandato de Jair Bolsonaro.
Biden também anunciou o lançamento de uma coalizão internacional para mobilizar, no mínimo, US$10 bilhões até 2030 para restaurar e proteger 20 mil milhas quadradas de terras, focados em projetos de remoção de emissões e apoio às comunidades locais, além do apoio a iniciativas de geração de créditos de carbono com reflorestamento de áreas convertidas em pastagens.
O anúncio também incluiu três pontos críticos na proteção do bioma: o combate à extração ilegal de madeira, o combate à mineração ilegal e a assistência para o combate ao fogo. O pacote anunciado destaca a participação dos Estados Unidos no financiamento do combate a atividades criminosas com atuação em mineração ilegal e tráfico de mercúrio, com doação de US$ 1,4 milhão.
*Com informações do O Convergente