O Grupo Montesanto Tavares, um dos maiores exportadores de café do Brasil, entrou com um pedido de recuperação judicial na 2ª Vara Empresarial da Comarca de Belo Horizonte. A solicitação foi feita após tentativas frustradas de renegociação das dívidas, que somam R$ 2,13 bilhões.
O conglomerado é composto pelas empresas Cafebras Comércio de Cafés do Brasil, Atlântica Exportação e Importação, e suas controladoras Companhia Mineira de Investimentos em Cafés e Montesanto Tavares Group Participações. Suas unidades operacionais estão distribuídas em diversos municípios de Minas Gerais, incluindo Varginha, Manhuaçu, Caparaó, Patrocínio, Alto Caparaó e Belo Horizonte.
Determinação de constatação prévia
O juiz Murilo Silvio de Abreu, da 2ª Vara Empresarial da Comarca de Belo Horizonte, determinou a realização de uma constatação prévia antes de decidir sobre a recuperação judicial. Essa verificação, prevista na legislação, será conduzida pelo perito Wagner Miranda Rocha, da WMR Peritos Associados, que terá cinco dias para apresentar um laudo detalhado sobre a real situação financeira do grupo.
Motivos da crise financeira
De acordo com a petição assinada pelo advogado Daniel Vilas Boas, do escritório VLF Advogados, as dificuldades financeiras do Grupo Montesanto Tavares foram agravadas por uma combinação de fatores: perdas de safra, alta nos preços internacionais do café e desvalorização do real frente ao dólar.
A crise teve início na safra 2021/22, quando a seca, geada e granizo impactaram fortemente as lavouras no sul de Minas Gerais. Com isso, muitos produtores não conseguiram entregar a produção contratada previamente, forçando o grupo a comprar café no mercado físico por preços elevados para cumprir os acordos de exportação. Para financiar essas aquisições, o grupo contraiu dívidas por meio de operações de adiantamento em contratos de câmbio (ACCs).
Em 2024, a situação se agravou ainda mais com a valorização do café arábica no mercado internacional e a desvalorização da moeda brasileira. Isso resultou em frequentes “chamadas de margem” das corretoras e bancos, exigindo que o grupo cobrisse o aumento dos preços.
Em maio de 2024, os compromissos com derivativos representavam 74% do volume de recebíveis do grupo. Em novembro, esse número saltou para 158%, elevando o valor dos derivativos de R$ 50 milhões para R$ 470 milhões.