A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) realizou uma operação de espionagem cibernética contra autoridades paraguaias para obter informações sigilosas sobre as negociações das tarifas de energia da usina hidrelétrica de Itaipu. A ação, iniciada durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), foi efetivamente executada sob a gestão do atual diretor da Abin, Luiz Fernando Corrêa, durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A revelação foi feita pelo portal Uol e gerou preocupação entre autoridades dos dois países.
De acordo com depoimentos obtidos pela Polícia Federal (PF), um servidor da Abin, que participou diretamente da operação, detalhou o uso do software Cobalt Strike para invadir sistemas de instituições paraguaias, incluindo o Congresso, o Senado, a Câmara e a Presidência da República. O objetivo era coletar informações sensíveis relacionadas à revisão do tratado de Itaipu, um tema de disputa histórica entre Brasil e Paraguai. A invasão ocorreu meses antes da assinatura do novo acordo tarifário em maio de 2024.
O Paraguai vinha pressionando o Brasil para aumentar o valor pago pela energia excedente da usina. Em 2023, após intensas negociações, o governo brasileiro concordou com um reajuste, embora não no patamar desejado pelo Paraguai. O depoente não esclareceu se as informações obtidas pela Abin foram utilizadas para influenciar o desfecho das negociações.
A investigação da PF agora busca determinar a legalidade da operação e eventuais violações à soberania paraguaia. Segundo o relato do servidor, a Abin montou servidores virtuais no Chile e no Panamá para dificultar a rastreabilidade da invasão. Ele também afirmou que Luiz Fernando Corrêa, diretor da agência, aprovou a ação e demonstrou entusiasmo com a operação, considerando-a um marco na inteligência brasileira.
A investigação sobre o caso faz parte de um inquérito mais amplo, iniciado para apurar irregularidades na gestão da Abin durante o governo Bolsonaro. O foco inicial era o uso da agência para espionar adversários políticos e proteger interesses pessoais. Com as novas revelações, a PF também investiga se práticas irregulares foram mantidas na administração atual.