O governador do Amazonas, Wilson Lima, marcou presença na manifestação realizada na Avenida Paulista, em São Paulo, atendendo a um convite do ex-presidente Jair Bolsonaro e do governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos). O ato teve como pauta central a defesa da anistia para os presos e investigados pelos ataques às sedes dos Três Poderes, ocorridos em Brasília no início de 2023.
O Portal Manaós conversou com especialistas políticos e sociólogos para uma avaliação a respeito dos movimentos do governador.
Wilson Lima está “dizendo publicamente” que vai concorrer ao senado
Diferente da mobilização anterior, realizada em Copacabana, no Rio de Janeiro, da qual não participou, Wilson Lima agora se junta publicamente ao grupo de governadores que têm se posicionado a favor do movimento pró-anistia, reforçando sua aproximação com a base bolsonarista. O cientista político Helso Ribeiro avalia que o governador diz publicamente no ato que está projetando a próxima eleição.
“Eu vejo o Wilson Lima dizendo que vai ser candidato, porque se não fosse candidato ele não participaria disso, né, final de mandato, né, e provavelmente ao Senado. E aí a gente sabe que Manaus, a cidade de Manaus tem um público bolsonarista, não sei nem se continua da mesma forma que era três anos atrás, e um aceno para esse público é sempre interessante, né. Agora, o fato de uma pessoa pedir anistia, o que que é anistia? Anistia representa um perdão, um esquecimento para um erro cometido. Não significa que está questionando a decisão do STF, não. Eu não vi em momento algum o governador Wilson Lima questionar a decisão do STF”, inicia.
Em outro trecho, cientista político Helson Ribeiro também comenta a respeito dos outros nomes que estão ao lado de Bolsonaro no mvimento na Av. Paulista. “Vamos ver se essa postura dele permanece até as próximas eleições. É isso, então, eu penso que boa parte, a quase totalidade, na verdade, das pessoas que estavam lá na Paulista, são apoiadores do Bolsonaro, né. Ronaldo Caiado, que já teve divergências, Tarcísio de Freitas também, Ratinho Junior, isso aí são governadores do PSD, do Kassab, do Omar Aziz, do União Brasil, enfim, do Republicanos, todos partidos que também estão no governo Lula”, completa.
Movimentação para o senado e tiro no pé pelos ideais que já defendeu
Marcelo Dias, advogado especialista em direito público e analista político também avalia a participação do governador do Amazonas no ato pela anistia do ponto de vista político. Para o analista, a participação do chefe do executivo no ato seria um “tiro no pé”, pelos ideais que ele defendia no ramo do jornalismo, que o levaram até a vida pública.
“Primeira coisa, o primeiro objetivo do governador Wilson Lima é o aspecto político. Uma movimentação política visando o senado, no ano que vem, 2026, tendo em vista que nas últimas eleições presidênciais que o ex-presidente Bolsonaro teve a maior porcentagem de votos pelo menos aqui na capital. Um aspecto que eu não vi ninguém comentando sobre, que eu achei interessante, é que é um tiro no pé com a história do próprio Wilson Lima, né? Ele dá um tiro no pé dele porque um dia antes do dia do jornalista, que foi 7 de abril, ele participa de um ato que representa a anistia aos acusados e processados por tentativa de… por um ato, né? Que em tese seria uma tentativa de golpe. Isso não são palavras minhas, isso já está dentro do processo, o STF chama de tentativa de golpe. Então ele esquece o que o último golpe que aconteceu no Brasil, de 64 a 85, que durou 21 anos, fez com jornalistas. E esquece da carreira que o projetou a ser hoje o governador do Amazonas. Por mais que uma carreira curta ainda, com 8 anos aí, uma carreira política curta, terminando agora esse segundo mandato, ele foi governador do estado do Amazonas, o que é muito importante. Então é uma carreira importantíssima e que ele foi projetado para essa carreira, para o que ele é hoje, através do jornalismo”, declara o advogado.
“Wilson Lima é um sujeito que sempre fez política nos palcos”
Sociálogo pela Universidade Federal do estado do Amazonas, Dr. Luiz Antonio Nascimento, avaliou a cena do governador Wilson Lima na manifestação pela anistia na Avenida Paulista com duras críticas. O sociólogo classificou a postura do governador como alguém que sempre realizou política “nos palcos”.
“O governador Wilson Lima é um sujeito que sempre fez política nos palcos de um programa de televisão de uma rede importante de televisão. Num momento do oportunismo da ascensão da extrema-direita, se apresentou à opinião pública e à sociedade se dizendo um não político, vence as eleições do Estado e passa a usar a máquina pública como todos os outros políticos o fizeram. Não deixou até hoje nenhuma marca de governo — olha, isso foi feito pelo Wilson Lima — nada. Nos meteu num pior cenário do ponto de vista da segurança pública em décadas. Nós temos hoje os registros policiais, a taxa de homicídio em Manaus é quase cinco vezes superior à taxa de homicídio da maior cidade da América Latina e uma das maiores, uma das dez maiores no mundo. Estou falando de São Paulo. A taxa de homicídio em Manaus é assustadora”, inicia o sociálogo.
Em outro trecho, o soci[oogo Luiz Antônio relembra a trajetória dos políticos que acompanham o governador ao lado de Bolsonaro na Avenida Paulista e relembra ainda as próprias polêmica que envolvem o secretário do governo do Amazonas.
“Ele tem dois secretários, dois líderes da Secretaria de Segurança Pública que foram envolvidos, presos por roubo de ouro de mineradores ilegais. A gente tem três massacres envolvendo inclusive polícia e que ele não tomou providência: o massacre do Rio Abacaxi no Baixo Amazonas, o massacre aqui do Crespo, aqui de Manaus, e o massacre lá de Tabatinga. É esse o governador que vai a São Paulo abraçar outros governadores igualmente envolvidos com crimes de saúde pública. Vai abraçar outros governadores igualmente envolvidos com massacres e estímulos à violência policial. O Tarcísio, que assume o governo paulista promovendo o massacre no litoral paulista, que aumentou em mais de 400% o número de homicídios praticados por policiais militares. São esses camaradas que estão pedindo anistia para quem tentou um golpe de Estado no Brasil. E como disse o Flávio Dino, o ministro Flávio Dino, golpe de Estado mata. É esse camarada que está vindo para a televisão dizendo que quer pacificar. Imagina um rambo com um fuzil na mão dizendo “vamos falar de paz”. Não há como falar de paz para esses senhores da morte”, finaliza.
Wilson Lima sustenta pacificação
O governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), se pronunciou nessa segunda-feira (7/4) sobre sua participação no ato realizado no último domingo (6/4), na Avenida Paulista, em São Paulo, em apoio à anistia dos condenados pelos atos antidemocráticos de 8 de Janeiro. O governador sustenta que sua presença no evento foi uma sinalização clara da necessidade de diálogo e pacificação política no Brasil.
“A minha participação [no ato] é uma demonstração minha pro diálogo, da necessidade que se tem da pacificação política no Brasil. Entendo que o processo democrático brasileiro se fortalece quando há respeito à justiça, quando há espaço para um debate legítimo. Essa é uma questão que precisa ser discutida com muita profundidade pelo Brasil”, afirmou o governador durante coletiva de imprensa.