sábado, abril 12, 2025
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Superávit para quem? O milagre diário do brasileiro diante da cesta básica e do custo de viver

Por Érica Barbosa – Portal Manaós | Artigo de Opinião

O Brasil encerrou 2024 com um crescimento econômico de 3,4% e um superávit comercial robusto impulsionado, sobretudo, pelo agronegócio. As manchetes celebraram os US$ 153 bilhões em exportações do setor, que representam quase metade de tudo que o país vendeu ao mundo no ano passado. Mas para o brasileiro que entra no supermercado ou espera pelo ônibus às cinco da manhã, esses números parecem mais uma peça de ficção econômica.

Se a economia vai bem no papel, por que o arroz, o feijão e o óleo continuam pesando tanto no bolso de quem ganha um salário mínimo? A resposta está na desconexão crônica entre o crescimento macroeconômico e a vida real da população.

Enquanto o agronegócio bate recordes de produtividade e exportação, a cesta básica segue em trajetória de alta e, pior, sem controle regional ou política efetiva de regulação de preços. Em muitas capitais brasileiras, o valor da cesta básica já consome mais de 60% do salário mínimo, que hoje é de R$ 1.412. E o que resta para pagar aluguel, luz, água, transporte, internet, gás e remédios?

A equação não fecha e nunca fechou. O brasileiro sobrevive, não vive. Faz milagre com o que tem e com o que não tem. Recorre ao fiado, ao bico, à vaquinha entre familiares, aos programas sociais cada vez mais pressionados por cortes orçamentários. Vive de promoções, de aplicativos que prometem centavos de volta, de parcelamentos de mercado em três vezes no cartão. O carrinho ficou mais leve, mas a dívida ficou mais pesada.

E se o problema fosse só o alimento. O transporte público tem reajustes anuais que raramente consideram o poder de compra da população. A conta de luz oscila a cada bandeira tarifária, enquanto a água, em diversas regiões, já virou artigo de luxo, com fornecimento irregular, qualidade duvidosa e tarifas exorbitantes.

O Brasil é um país onde o superávit convive com a fome. Onde a liderança global em exportação de alimentos não garante a segurança alimentar de seus próprios cidadãos. Onde a política econômica se gaba de metas cumpridas, mas esquece que a meta da maioria é apenas conseguir chegar ao fim do mês com dignidade.

É urgente repensar o que significa “crescer” como país. Crescer para fora, exportar mais, gerar lucro, tudo isso é importante. Mas tão essencial quanto é garantir que o crescimento reverta em qualidade de vida. Que haja comida na mesa, energia para cozinhar, água para beber, ônibus para chegar ao trabalho sem precisar escolher entre passagem e pão.

O milagre brasileiro não está nas exportações. Está na capacidade diária do povo de resistir, de reinventar a sobrevivência, de manter a esperança mesmo quando tudo ao redor parece conspirar contra.

Crescimento sem redistribuição não é progresso. É ilusão estatística.

Érica Barbosa
Érica Barbosa
Assistente social, Prof.a mestra em saúde, empresária e pesquisadora
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