Na manhã desta terça-feira, 15 de abril de 2025, Manaus amanheceu sem ônibus nas ruas. Mais uma greve geral dos trabalhadores do transporte coletivo escancarou o que o usuário sente todos os dias: o caos silencioso de um sistema que opera muito abaixo das necessidades reais da população. Os motoristas e cobradores reivindicam o básico reajuste salarial, condições dignas de trabalho e o direito de manter seus postos diante da ameaça de substituição por máquinas. Mas o problema é muito maior.
A conta (que já é alta) não fecha para quem usa o transporte
Manaus tem uma frota de 1.166 ônibus distribuídos em 218 linhas. Em horários de pico, apenas 880 veículos estão em operação. Para uma capital com mais de 2 milhões de habitantes, isso é uma afronta à dignidade urbana. A superlotação, os atrasos e a má conservação dos veículos já são rotina. O salário médio de um motorista gira em torno de R$ 2.777,14 e não raro, enfrentam jornadas pesadas, estresse e insegurança.
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Privatizado, mas precário: quem lucra com isso?
Há décadas, empresas privadas detêm contratos milionários com a prefeitura de Manaus para operar o transporte coletivo. Mesmo com todos esses recursos, não há melhoria real. Frota velha, ausência de acessibilidade, terminais degradados e linhas mal distribuídas. A promessa de que a privatização traria modernização e eficiência virou ilusão , o que se vê é lucro para poucos e sofrimento para muitos. E onde está o poder público nessa equação?
Reajuste na tarifa: mais um peso para quem já carrega o sistema
Desde 2023, a passagem custa R$ 4,50. Mesmo com esse valor elevado, a prefeitura afirma que o sistema acumula um déficit mensal de R$ 44 milhões. O prefeito David Almeida insiste em aumentar a tarifa, mas o Ministério Público do Amazonas (MPAM) tem barrado a medida, exigindo transparência e qualidade antes de qualquer reajuste. A pergunta que não cala é: o que está sendo feito com o recurso arrecadado diariamente de uma população que depende do ônibus para trabalhar, estudar, cuidar da saúde?
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Até mesmo a meia passagem estudantil depende de repasses do Governo do Estado para não comprometer o orçamento municipal. A cidade subsidia um sistema ineficaz e deixa de cobrar resultados concretos das concessionárias. A prefeitura, ao invés de buscar soluções inovadoras e investimento público, aposta no aumento da tarifa como resposta à crise. Isso é administrar?
Sai prefeito, entra prefeito… e o problema continua rodando
A precariedade do transporte coletivo não é novidade. É uma ferida aberta que atravessa gestões. Mas David Almeida foi reeleito. E com a reeleição vem a responsabilidade redobrada. Não há mais espaço para desculpas nem promessas vazias. A população precisa de soluções urgentes. Queremos ônibus limpos, pontuais, acessíveis, com trabalhadores valorizados e um sistema integrado de verdade e não mais improvisos e aumentos.
Chega de empurrar a responsabilidade para o passageiro
A população de Manaus já paga caro com tempo perdido, dignidade ferida e orçamento comprometido. O transporte público não é só um serviço: é direito, é política social, é ferramenta de desenvolvimento urbano. Não dá mais para continuar tratando o passageiro como se fosse ele o responsável pelo colapso do sistema. Chega de deixar o lucro acima da vida de quem depende desse serviço para sobreviver.
É hora de parar o ônibus da omissão e pegar a linha da coragem política. Ou vamos continuar assistindo, no ponto, a cidade travar todos os dias, enquanto poucos andam de carro oficial?
Por: Érica Lima
Diretora de Redação do Portal Manaós, Érica Lima recebe homenagem na CMM