A morte do Papa Francisco não encerra apenas um pontificado, mas nos convoca a refletir sobre o futuro de uma das instituições mais antigas, influentes e controversas da humanidade: a Igreja Católica. Que Igreja será essa sem Francisco? Que Papa ocupará o trono em meio a um mundo em ebulição ética, tecnológica e cultural?
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O conclave que se aproxima, previsto para o início de maio, não é só um ritual ancestral que fascina o mundo, ele é também uma batalha silenciosa entre visões distintas de fé, poder e humanidade. Com 149 cardeais nomeados por Francisco entre os 252 votantes, há uma forte expectativa de continuidade em relação à linha progressista. Mas como sabemos, o Espírito Santo sopra onde quer… e o conservadorismo e a politicagem ainda habita os corredores do Vaticano.
O Novo Papa: Guardião da Tradição ou Pastor das Feridas?
Entre os nomes mais fortes estão o italiano Matteo Zuppi, o filipino Luis Antonio Tagle e o africano Peter Turkson, todos ligados, em diferentes graus, ao espírito de diálogo que marcou o pontificado de Francisco. Do Brasil, sete cardeais participarão do conclave, incluindo Dom Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus. Ainda que nenhum nome brasileiro figure entre os mais cotados, a presença amazônica no colégio cardinalício é, por si só, um sinal da relevância das periferias globais para a Igreja de hoje.
Mas o que está em jogo não é apenas a nacionalidade ou o perfil político do novo papa. O que se discute, nos bastidores e entre os fiéis, é se a Igreja será capaz de responder às perguntas mais urgentes da contemporaneidade.
Fé na Era Digital: Entre Pornografia, Suicídio e Inteligência Artificial
Hoje, jovens católicos do mundo inteiro não estão apenas lotando vigílias, missas e eventos como a Jornada Mundial da Juventude, eles estão questionando. E esses questionamentos, por vezes incômodos e até escandalizantes, já não podem mais ser silenciados. A Igreja que quiser permanecer viva não pode ignorar a realidade: aborto, suicídio, homossexualidade, pornografia, pedofilia clerical, violência e solidão digital são temas que invadem os confessionários, as redes sociais e as consciências de milhares de jovens católicos.
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Como lidar com os dilemas da sexualidade num mundo dominado por algoritmos pornográficos? Como acolher sem condenar? Como preservar a doutrina e, ao mesmo tempo, ser canal de cura e escuta?
O novo papa terá que lidar com uma juventude conectada, informada e profundamente espiritual, mas que não tolera hipocrisias, abusos ou omissões e que manifesta uma ansiedade crescente. Uma juventude que lê a Bíblia e o Instagram, que reza o terço e milita contra o racismo, que ama a Tradição mas quer também um novo tempo.
O Que Está em Risco: A Credibilidade da Fé ou o Controle da Instituição?
Francisco compreendeu que o futuro da Igreja não está nos palácios romanos, mas nas margens do mundo, nas favelas, nos igarapés, nas periferias urbanas e nas vozes antes silenciadas. O próximo pontífice terá que decidir se seguirá esse caminho, ou se optará por retroceder.
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E aqui faço uma provocação ao leitor: e se o novo Papa for um jovem africano, negro, formado em teologia digital? E se for uma liderança inesperada da América Latina, herdeira dos ventos amazônicos e das dores dos povos indígenas? Isso pode ser apenas utopia? Ou nos falta fé? A igreja é realmente nós? Ou para nós?
Seja quem for o sucessor de Francisco, ele terá em mãos não apenas o timão de uma Igreja com mais de 1 bilhão de fiéis, mas o destino moral de um mundo que, mesmo cético, ainda espera da Igreja Católica um mínimo de lucidez, coerência e amor. As pessoas estão carentes, estão carecendo de tudo um pouco, estão carecendo de compaixão.
Não se trata apenas de quem será o próximo Papa, mas de qual Igreja sobreviverá ao século XXI. Alguém arriscaria falar sobre o que será ou o que seremos no futuro?