A procuradora federal Márcia Eliza de Souza, conhecida como a “xerifa” por sua atuação rigorosa no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) durante o governo Bolsonaro, foi convidada pelo governo Lula para reassumir a Direção de Benefícios do órgão. A nomeação ocorre em meio ao esforço para conter a crise gerada pelo escândalo da “Farra do INSS”, investigado pela Polícia Federal.
Com 60 anos de idade e 41 anos de serviço público, Márcia Eliza tem uma longa trajetória no setor previdenciário. Ela é procuradora federal desde 1998 e já atuou como procuradora-chefe da Procuradoria Federal Especializada (PFE) do INSS, diretora de Benefícios, presidente do Conselho de Recursos da Previdência Social (CRPS) e diretora do Departamento de Contencioso Previdenciário na Procuradoria-Geral Federal.
Sua atuação no INSS foi mencionada em inquéritos da Polícia Federal, especialmente por ter enfrentado irregularidades envolvendo associações que efetuavam descontos indevidos em benefícios de aposentados. Em 2019, suspendeu os repasses à Associação Brasileira de Aposentados, Pensionistas e Idosos (Asbapi) após receber um grande volume de denúncias. A decisão levou à abertura de um inquérito pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP).
Com o avanço das investigações, o INSS rompeu convênios com outras três entidades: a Associação Beneficente de Auxílio Mútuo dos Servidores Públicos (Abamsp), a Associação Nacional de Aposentados e Pensionistas da Previdência Social (Anapps) e a Central Nacional de Aposentados e Pensionistas do Brasil (Centrape). Entre 2019 e 2020, essas associações viram seu faturamento despencar de dezenas de milhões de reais para menos de mil reais cada, em alguns casos.
O presidente do INSS, Gilberto Waller Junior, afirmou que Márcia Eliza é uma profissional altamente capacitada. “Ela foi a primeira a enfrentar as fraudes de associações. Desconstituiu quatro entidades. É uma pessoa tecnicamente muito preparada e muito séria”, declarou.
Apesar do reconhecimento, Márcia não foi a única a ocupar o cargo nos últimos anos. Entre os governos de Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT), ao menos sete diretores de Benefícios passaram pelo INSS — quatro deles durante o governo Bolsonaro. Juntos, assinaram convênios com entidades suspeitas de realizar descontos irregulares, que somaram R$ 2,1 bilhões. Já sob o governo Lula, três diretores firmaram 18 convênios, totalizando R$ 235 milhões em descontos.
A nova nomeação reforça o esforço do governo para moralizar a gestão dos benefícios previdenciários e retomar a confiança na instituição.