O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, enfrenta crescente desgaste político e social após o anúncio das medidas que elevam alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A medida, que incide sobre operações de crédito, câmbio e seguro, provocou forte reação negativa nas redes sociais e entre setores econômicos, reacendendo o apelido pejorativo de “Taxad”, atribuído ao ministro desde o início do governo.
O termo ganhou força especialmente após iniciativas como a taxação de offshores, fundos exclusivos — os chamados “super-ricos” — e encomendas internacionais, popularmente conhecidas como “blusinhas”. Agora, com o aumento do IOF, a crítica se amplia para a classe média, que será diretamente impactada em viagens ao exterior, além de grandes investidores, empresas e microempreendedores individuais (MEIs).
Foco na arrecadação reacende críticas
Analistas avaliam que o governo perdeu uma oportunidade de destacar a recente contenção de despesas de R$ 31,3 bilhões, ao optar por anunciar simultaneamente mais uma medida arrecadatória. O próprio presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, admitiu que o objetivo central da elevação do IOF é perseguir a meta de déficit fiscal zero em 2025.
Inicialmente, a equipe econômica projetava arrecadar R$ 20,5 bilhões com as mudanças no IOF, mas, após a repercussão negativa e críticas internas, parte do aumento foi revertida na noite da última quinta-feira (22/5).
“Mais uma vez, vemos o governo buscando arrecadar sem mexer nos fundamentos. Aumentar o IOF significa elevar custos operacionais, especialmente para empresas que dependem de crédito rotativo e financiamento”, analisou Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio.
Na visão do executivo, o governo deveria priorizar a redução de custos estruturais, incentivar a eficiência na gestão pública e fortalecer o compliance fiscal, como alternativas sustentáveis de equilíbrio entre arrecadação e competitividade empresarial.
Especialistas alertam para efeito regressivo
Júlio César Soares, especialista em direito tributário e sócio da Advocacia Dias de Souza, também criticou a medida, classificando-a como mais um exemplo da “velha lógica arrecadatória” disfarçada sob o discurso de neutralidade e isonomia fiscal.
O Ministério da Fazenda, por sua vez, defendeu a mudança, afirmando que ela corrige distorções históricas, promovendo igualdade nas alíquotas entre pessoas físicas e jurídicas. Porém, especialistas alertam que a equiparação desconsidera as diferenças essenciais de risco e finalidade entre esses dois grupos.
Além disso, há preocupação com o viés regressivo das alterações, que tendem a afetar de maneira proporcionalmente mais severa as pequenas e médias empresas, especialmente aquelas enquadradas no Simples Nacional.
Para operações de crédito para empresas em geral e para as do Simples Nacional, a alíquota fixa do IOF foi elevada de 0,38% para 0,95%, com pequenas variações na taxa diária. No caso dos MEIs, a alíquota de 0,38% foi mantida, seguindo a regra aplicada às pessoas físicas.
Fogo amigo no Planalto
Além das críticas da oposição, Haddad também tem enfrentado resistência dentro do próprio governo. Integrantes do Planalto avaliam que o ministro falhou na comunicação da medida e expôs desnecessariamente a imagem da gestão Lula, já pressionada por questões fiscais e pela necessidade de aprovar pautas econômicas no Congresso.