sábado, outubro 5, 2024

Saúde – O Franco espalhamento da Covid19 no mundo e a flexibilização do distanciamento social em Rondônia: É a melhor opção?

A união europeia e os EUA estão de joelhos diante de um “inimigo invisível”, o novo coronavírus.

O Presidente dos EUA, que já minimizou o potencial avassalador do que seria só mais “uma gripe” ou “uma nova farsa” política de seus adversários, não consegue esconder seu espanto ao observar, na última semana uma média diária de quase 30 mil novos casos e mais de mil óbitos.

Recentemente, a Suécia, até então descrente em relação à eficácia das medidas de distanciamento social, eximiu-se da responsabilidade do Estado sobre as consequências da epidemia, repassando-a aos seus cidadãos. Resultado? Entre os países nórdicos, embora tenha a maior população, é o que mais notifica mortes e casos novos de COVID-19, o que muito em breve pode levar o governo a mudar o tom e a política, assim como outros líderes já fizeram.

Enfim, o mundo praticamente duplicou o número de novas notificações na última semana e o Brasil quase triplicou as suas.

E no que se refere aos estados brasileiros fronteiriços com Rondônia (RO)? Façamos de conta que casos importados do exterior ou de grandes cidades brasileiras como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, que ainda lutam para controlar o problema, não afete a dinâmica de espalhamento da infecção em RO.

O fato é que o Amazonas, tem aumentando a passos largos o número de notificações novas na última semana. No Mato Grosso também há aumento na última semana e no Acre, embora tenha sido detectada uma redução, isso não significa que estejam controlando a epidemia.

Em resumo, no mundo, no Brasil e nos estados fronteiriços com RO o espalhamento da COVID-19 segue a passos pulsantes e amedrontadores.  Mas, em RO, o padrão de espalhamento do novo coronavírus também está assim?

Não! No último “boletim diário sobre coronavírus em RO” há dados que relacionam o número de casos descartados e casos confirmados para Covid-19. De um total de 697 (descartados + confirmados), 2% apresentaram resultado positivo (14 ao todo) para Covid-19. Ainda há 25 casos suspeitos aguardando resultados laboratoriais ou potenciais casos a serem confirmados. Nos relatórios não há informações claras sobre possíveis casos suspeitos e que ainda estão em observação e não foram efetivamente descartados, se é que eles existem, obviamente.

Ademais, não podemos desconsiderar que, em certas regiões do planeta, para cada caso confirmado é possível que existam outros 10 assintomáticos. Isso sem dizer que indivíduos infectados pelo novo coronavírus e que poderiam estar em períodos de incubação mais longos, em teoria, poderiam muito em breve favorecer a disseminação “silenciosa” da infecção.

Outra peculiaridade relevante seria lembrarmos que, devido a limitada capacidade de infraestrutura laboratorial, de recursos humanos, financeira, dentre outras, de modo geral, o Ministério da Saúde só tem permitido a testagem de casos suspeitos mais graves, excluindo, então, a clara e ampla maioria de casos que certamente testariam positivo para a doença, mas com sintomas leves e igualmente propagadores da infecção. Aqui também poderíamos falar de falhas humanas ou mesmo limitações esperadas dos testes em uso, o que, na prática, poderia levar à invisibilidade de uma pequena fração de falsos negativos.

Portanto, o fato de não termos muitos casos confirmados em RO, não necessariamente significa que a ameaça se tornou menor e que é hora de relaxar a quarentena. É bom lembrar que a programação do seu relaxamento até o dia 20 de abril, pode não só levar a resultados imprevisíveis, em especial na capital Porto Velho, que tem mais de 500 mil habitantes, como também influenciar outros estados a fazerem o mesmo, inclusive àqueles com maior probabilidade de clara configuração de epidemia e, no limite, naqueles com a transmissão comunitária documentada há semanas e com leve sensação de melhora no cenário mais amplo.

Não há sinais claros de que o Brasil esteja perto de atingir o pico da epidemia, “limiar epidêmico” para epidemiologistas e “ponto de saturação” para matemáticos. Em outras palavras, o número de notificações novas de COVID-19 só tem aumentado no Brasil e não há a menor chance de que nas próximas 4 semanas uma vacina esteja disponível ou mesmo que alcancemos a chamada imunidade de rebanho, um freio natural em epidemias causadas por agente infeccioso de considerável capacidade de disseminação, como é o caso do novo coronavírus.

Por falar em imunidade de rebanho, lembro que temos um número gigantesco de suscetíveis no país, pessoas sem defesas em seu sistema imunológico (defesa do organismo de cada pessoa) para derrotar o coronavírus. Em RO então, que só confirmou 14 casos e que tem uma população total de quase 2 milhões de habitantes, a quantidade de suscetíveis é ainda mais clara.

Além disso, embora várias frentes tenham sido abertas para pesquisas de medicamentos, não há qualquer expectativa de que algum medicamento eficaz esteja disponível em breve. O que parece estar mais próximo são formas de tratamento que se mostrem mais efetivas em salvar vidas e diminuir o sofrimento humano. De novo, embora este pareça o caminho menos incerto, não sabemos se esses tratamentos estarão disponíveis para todos no curto prazo, em especial para os mais vulneráveis, como indígenas, quilombolas, moradores de rua ou populações que ocupam as periferias e favelas de grandes cidades, por exemplo.

Para finalizar, fica o alerta de que novas transmissões locais e a “importação” de casos poderia obrigar o governo de Rondônia e/ou simpatizantes a reestabelecerem políticas de distanciamento social, jogando fora parte do esforço anterior e milhões de reais que foram investidos. Mais grave, porém, serão as consequências para a saúde da população, basta ver o que aconteceu na Itália. Nesse momento, não há uma política alternativa para o distanciamento social. É preciso achatar a curva de casos incidentes, organizar o sistema de saúde, prover os pacientes com o melhor tratamento possível. Não há nada mais valioso do que a vida. Precisamos salvá-las.

Jesem Orellana

Epidemiologista do ILMD/FIOCRUZ

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