segunda-feira, novembro 25, 2024

Saúde – “Os bastidores são ainda piores” – Especialistas apontam crise sanitária relacionada à erros cometidos pelo Governo Federal.

O rápido avanço da Covid-19 no território brasileiro tem representado uma pressão inédita sobre o sistema de saúde do País, que vive o pior momento da pandemia. Especialistas veem o cenário crítico influenciado pela variante P1 e por possíveis novas mutações do vírus. Para eles, medidas de restrição mais rígidas são de fundamental importância neste momento.

É possível ter noção da profundidade do atual cenário epidemiológico através da média móvel diária de óbitos no Brasil, que estava em 1.056 no dia 16 de fevereiro e pulou para 2.095 um mês depois, uma alta de 98,4%. No geral, só Amazonas, Roraima (Estados que passaram por picos em janeiro e fevereiro) e o Rio não assistiram a uma alta nos registros ao longo do último mês.

Além disso, a taxa de ocupação de leitos de UTI, segundo pesquisa do Observatório da Covid-19 da Fiocruz divulgada no último dia 17, mostra que, no momento, das 27 unidades federativas, 24 estados e o Distrito Federal estão com taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos no Sistema Único de Saúde (SUS) iguais ou superiores a 80%, sendo 15 com taxas iguais ou superiores a 90%. Em relação às capitais, 25 das 27 estão com essas taxas iguais ou superiores a 80%, sendo 19 delas superiores a 90%.

Opinião dos especialistas

O epidemiologista da Fiocruz Amazônia Jesem Orellana explica que as marcas atuais se dão em virtude de um período anterior, de pelo menos 30 dias, em que as medidas restritivas deveriam ter sido mais rígidas.

“A média de agora não é resultado de um agravamento dos últimos 14 dias da pandemia. O número de mortes é um indicador tardio da circulação viral. Na prática, há 30 dias a situação já estava agravada”.

Orellana enxerga que há grande participação do Governo Federal em não ter adotado medidas de contenção do vírus. “Infelizmente houve uma falha estrutural da vigilância laboratorial em não identificarmos as variantes de preocupação sanitária, como a da África do Sul, do Reino Unido e especificamente a P1., a pior de todas. Descobrimos tarde e isso deveria ter levado o governo federal a fazer um bloqueio sanitário rigoroso, fechar aeroportos e não deixar o vírus se espalhar. Mas não foi o que aconteceu.”

Para Pedro Hallal, epidemiologista da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, diz que a situação no Estado se deve a um “monte de erros” da política de contenção da pandemia. “Depois de setembro, a coisa começa a degringolar e o vírus vai infectando muito porque havia mais gente suscetível.”

Crise nas diferentes regiões

No Nordeste, sete dos nove Estados duplicaram o registro de óbitos em 30 dias. No Rio Grande do Norte, as mortes passaram de 7 por dia para 27, aumento de 282%. O descaso do prefeito de Natal, Álvaro Dias (PSDB), em afrouxar restrições e recomenar medicações sem eficácia, se tornou motivo para que ele fosse investigado.

No Ceará, os óbitos foram de 28 para 84 por dia no período, alta de 196%. Alagoas (103%), Maranhão (160%), Paraíba (188%), Piauí (167%) e Sergipe (213%) também viram a situação piorar de forma acentuada. Na Bahia, a alta ficou em 89% e em Pernambuco, 78%, completando a alta em toda a região.

No Centro-Oeste e no Sudeste a situação não é muito diferente. O aumento na média de mortes no último mês em São Paulo foi de 96%, saltando de 230 óbitos diários para 452, a maior marca da pandemia. Goiás (155%) e Mato Grosso (181%) também assistiram ao mesmo movimento na curva recente.

Medidas de restrição

Pedro Hallal reforça que o lockdown é a melhor alternativa para o momento. “O lockdown é uma estratégia para alguns momentos e agora é obviamente necessário. Mas tem de ser feito de forma séria, não de mentirinha. Tem que ser curto, com ampla complementação de renda por parte do governo para pessoas e empresas”, avalia.

A situação também chamou atenção do Conselho Nacional de Secretários de Saúde, que destacou, em carta aberta,  a omissão do Governo Bolsonaro “ausência de uma condução nacional unificada e coerente dificultou a adoção e implementação de medidas qualificadas para reduzir as interações sociais que se intensificaram no período eleitoral, nos encontros e festividades de fim de ano, do veraneio e do carnaval”. O conselho defendeu “restrições em nível máximo” nas regiões com ocupação de leitos acima de 85%.


  • Fonte: Estadão
  • Imagem: Divulgação

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