sexta-feira, novembro 22, 2024

Saúde – “Tratamento precoce” da Covid-19 pode estar ligado à insuficiência hepática e mortes.

O “kit Covid”, amplamente divulgado por Jair Bolsonaro para tratamento precoce da Covid-19, pode estar ligado a uma série de complicações médicas que levaram cinco pacientes à fila do transplante de fígado em São Paulo e está sendo apontado como causa de ao menos três mortes por hepatite causada por remédios, segundo médicos.

Hemorragias, insuficiência renal e arritmias também estão sendo observadas por profissionais de saúde entre pessoas que fizeram uso desse grupo de drogas, que incluem hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina e anticoagulantes.

O número de venda dessas medicações aumentou 557% em 2020 em comparação com 2019, segundo Números do Conselho Federal de Farmácia (CFF). O uso de todas estas medicações foi desaconselhado pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA) e pela própria fabricante do produto, a MSD.
A medicação, porém, é o fator comum entre os cinco pacientes que entraram na fila de transplante de fígado. Todos eles haviam tido, semanas antes, diagnóstico de covid e receberam a prescrição do chamado “tratamento precoce”.

Quatro deles foram atendidos no Hospital das Clínicas da USP e o outro no HC da Unicamp. Eles chegam com pele amarelada e com histórico de uso de ivermectina e antibióticos.

“Quando fazemos os exames no fígado, vemos lesões compatíveis com hepatite medicamentosa. Vemos que esses remédios destruíram os dutos biliares, que é por onde a bile passa para ser eliminada no intestino”, diz Luiz Carneiro D’Albuquerque, chefe de transplantes de órgãos abdominais do HC-USP e professor da universidade.

Sem esses dutos, explica ele, substâncias que podem ser tóxicas ficam na circulação sanguínea, favorecendo quadros infecciosos graves. “O nível normal de bilirrubina é de 0,8 a 1. Um dos pacientes está com mais de 40”, conta ele.

D’Albuquerque conta que, dos quatro pacientes colocados na fila do transplante no HC, dois tiveram doença aguda e morreram antes da operação.

“É uma combinação de altas dosagens com a interação de vários medicamentos. A substância desencadeia um processo em que a célula ataca outros células, levando a fibroses, que causam a destruição dos dutos biliares”, diz Ilka Boin, professora da Unidade de Transplantes Hepáticos do Hospital das Clínicas da Unicamp, onde um paciente aguarda transplante.

Os dois especialistas explicam que, nestes casos, as biópsias do fígado desses pacientes evidenciam que a complicação é de origem medicamentosa e não complicações do próprio coronavírus.

“A covid pode atacar o órgão, mas de uma forma diferente. Ela causa pequenos trombos (coágulos) nos vasos. Esse padrão que encontramos é de lesão por medicamentos”, diz Ilka.

“É muito grave, difícil de reverter. Ele morreu no mesmo dia”, diz a neurologista Verena Subtil Viuniski, que disse já ter atendido outros seis casos de hepatite por medicamentos, ainda que menos graves. “Estão dando uma salada de remédios sem avaliar cada paciente individualmente, como se fosse receita de bolo.”


  • Fonte: Estadão
  • Imagem: Divulgação

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