quinta-feira, novembro 21, 2024

Artigo Opinião – “Saúde Mental” – BULLYING CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES: Não é brincadeirinha inofensiva ou algo facilmente superável.

Escolhi esse tema para escrever este mês, não por acaso, já que na mesma semana três adolescentes me trouxeram a tona essa temática para dentro da sessão de terapia. E descobri que não seria tão fácil falar de bullying.

Pois é! Vamos falar desse que não é mi mi mi, nem frescura e muito menos bobagem, e as consequências desse fenômeno não devem ser associadas a meras brincadeiras inocentes ou a situações que são facilmente superáveis.

 

Poderíamos ter escolhido escrever neste mês de dezembro do quão bem nos faz o espírito natalino, mas não acredito que mesmo com toda nossa imensa esperança, possamos, considerando que esse ano de 2021 foi e ainda está sendo tão difícil para grande parte da população brasileira, também acabaria sendo triste.

Pensei se queremos tanto construir um mundo melhor para nossas crianças e adolescentes, então! Menos bullying já ajudaria bastante.

O termo bullying é originário do verbo em inglês to bully, não tendo tradução exata e única para nossa língua portuguesa, podendo ser traduzido pelos termos intimidação, provocação e até opressão. Onde a mera e simples tradução já nos dá a ideia de algo bem sério e que pode ter consequências nefastas para crianças e adolescentes em fase de crescimento, descoberta e autoafirmação.

Termo utilizado para caracterizar situações em que uma pessoa agride a outra intencionalmente. Essas agressões podem ser tanto verbais quanto físicas e são feitas com frequência, com o objetivo de deixar a vítima vulnerável e humilhada, utilizando xingamentos, coações, piadas, fofocas, boatos, ameaças, comentários discriminatórios, ofensivos, mentirosos, tentando difamar a imagem da vítima, bem como pactos de silêncio onde se ignora o outro por dias e até semanas, assim como empurrões, tapas, chutes e outros exemplos de violência física, e infelizmente, isso se dá em grande parte no ambiente escolar, onde se supõe que o filho esteja protegido, na instituição que tem também como objetivo desenvolver a civilidade entre seus alunos. Não esquecendo, que também ocorre em ambiente corporativo, porém na fase adulta se apresenta de forma mais sutil e individual.

Ainda temos na atualidade uma nova modalidade de bullying que é o Cyberbullying, em que a vítima fica exposta aos agressores vinte e quatro horas por dia e por uma plateia inimaginável. Segundo Francisco Porfírio, professor de Filosofia e Sociologia na educação básica, enfatiza que, embora o cyberbullying não se configure em agressões físicas, ele é tão danoso quanto o bullying físico. O abuso sofrido pela vítima de bullying virtual, no geral é psicológico, fica na rede por tempo indeterminado e por vezes, é difícil identificar o agressor, que se protege no anonimato.

O Cyberbullying praticado na internet é um dos tipos mais recorrentes na atualidade por conta do uso de redes sociais por crianças e adolescentes (alguns sem acompanhamento ou controle dos pais) e pela rapidez do compartilhamento de dados. Nesse tipo de agressão, pode inicialmente começar presencialmente e evoluir para as redes sociais, se espalhando com maior facilidade e sem controle, assolando ainda mais a vida da vítima.

O bullying escolar tem sido conceituado como a hostilidade de um aluno mais velho ou mais forte, ou grupo de alunos, intencionalmente e com frequência, dirigida a um mesmo aluno, podendo gerar diversas consequências psíquicas na vítima, desde uma angústia acentuada até o assassinato e o suicídio (Pinheiro e Willliams, 2009; Fante, 2005; Freire e col., 2006; Voors, 2006).

Esse problema grave e recorrente no mundo todo, mais comumente no ambiente escolar, seja ele visto como algo antigo ou um sintoma da sociedade moderna, pode afetar a vida de milhares de crianças e adolescentes que o sofre, afetando o dia a dia e futuro das vítimas.

Segundo a ONG Learn Without Fear, 350 milhões de pessoas em fase escolar são vítimas de bullying anualmente no mundo e não podemos deixar de salientar que esses números são subnotificados, considerando que muitos têm vergonha de denunciar esse tipo de violência. Como consequência, as vítimas que sofrem com esses constantes assédios, perdem a motivação para estudar e frequentar a escola perde a confiança nas pessoas, podendo se isolar, mudar o comportamento e em casos mais graves, traumas profundos, levando a um estado depressivo, chegando ao extremo do suicídio ou eliminação dos agressores.

Nesse contexto, é importante que tenhamos em mente que todo bullying é uma agressão, mas nem toda agressão pode ser classificada de bullying, a exemplo podemos pontuar que discussões e brigas esporádicas entre estudantes não podem ser enquadradas como bullying, bem como possíveis conflitos entre professores e alunos, considerando que para que se encaixe no conceito de bullying é necessário que seja entre pares (colegas de classe) e tenha certa frequência.

Embora todos se choquem com os casos de bullying nos telejornais e mídias sociais, pouco se fala sobre o que motivam jovens a praticarem esses atos agressivos contra colegas e por que alguns são mais suscetíveis a se submeterem a essas agressões continuas.

  • O que podemos falar do perfil da vítima:

Os alvos de bullying nas escolas brasileiras e de todo o mundo são facilmente identificáveis. É comum que sejam crianças ou adolescentes com autoestima baixa, tímidos ou retraídos tanto no ambiente escolar quanto em casa. Por apresentarem essas características, se tornam mais vulneráveis e dificilmente conseguem reagir quando são violentados. Assim, tornam-se vítimas constantes e não pedem ajuda.

Como mostrou recente pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), além dos traços psicológicos citados acima, as vítimas desse tipo de violência costumam apresentar particularidades na aparência fora do “suposto padrão” estabelecido pela sociedade atual corroborado pelas mídias sociais. As agressões também podem abordar aspectos culturais, étnicos e religiosos. “Também pode ocorrer com um novato ou com uma menina bonita, que acaba sendo perseguida pelas colegas”, exemplifica Guilherme Schelb, autor do livro “Violência e Criminalidade Infanto-Juvenil”, bem como, gagueira, a língua presa, o uso de óculos ou aparelho nos dentes, excelente aluno, estatura baixa, etc.

Qualquer indivíduo está sujeito a sofrer bullying, pois essa prática não faz distinção de classes. Basta ser alguém que não se encaixa em um determinado grupo ou padrão pré-estabelecido pela sociedade.

Importante observar se a criança ou adolescente apresenta novos comportamentos como os citados abaixo:

  • Dificuldade de socialização;
  • Desinteresse de retorno ao local das agressões;
  • Resistência em ir à escola;
  • Tendência ao isolamento;
  • Rendimento escolar abaixo do esperado;
  • Mudança repentina de comportamento;
  • Agressividade;
  • Vômito, dores de cabeça, febre e taquicardia momentos antes de sair de casa para o local das agressões;
  • Dificuldade de dormir ou insônia;
  • Crises de choro antes ou na volta da escola;
  • Pensamentos suicidas;
  • Depressão;
  • Transtornos alimentares;
  • Ansiedade;
  • Diversos distúrbios de origem psíquica.
  • O que podemos falar do perfil do agressor:

O causador do bullying, ao ser identificado, demonstra claramente ter um comportamento bastante negativo, considerando que em seu perfil de abusador tem como características a falta de empatia, apresentando descaso pelos sentimentos do outro e até sentem prazer pelo sofrimento de sua vítima, ou seja, ele se alimenta da dor do outro.

Podemos destacar que dentre os motivos para a violência está o desejo de popularidade, poder, autoimagem positiva e estravar sua raiva, revolta e/ou sentimentos negativos, motivos esses, que podem levar uma criança ou adolescente acabar cometendo inúmeras e frequentes agressões e humilhações a colegas. Comportamentos esses, que precisam ser trabalhados e/ou coibidos, considerando que podem crescer acreditando que suas atitudes são normais e continuarem perpetuando esse comportamento na vida adulta.

O causador do bullying encontra justificativas para suas agressões ao definir que a culpa dos seus atos violentos ou hostis é da própria vítima, nesse sentido, ele se acha no direito e tendo o poder de maltratar, agredir, inferiorizar, excluir e humilhar a própria vítima, não demonstrando sentimentos de arrependimento.

Entretanto, vale sinalizar que com terapia e a atenção devida da escola e dos pais, eles podem ter a nítida compreensão de que o que fazem é errado e mudarem seu comportamento ou que a própria vítima tome uma atitude e rompa/pare esse ciclo doentio.

  • O que pode ser feito:

A educação em casa é a chave que garante o desenvolvimento de um adulto sadio. Quando uma criança entende o conceito de limites, a existência do outro e a necessidade de respeitar esse outro, diferente dela, ela aprenderá a se relacionar de uma forma respeitosa e saudável com seus pares, bem como, também irá desenvolver a empatia, ou seja, ela passará a se importar com os sentimentos dos outros.

Conhecer e conscientizar-se do problema, falar dele abertamente é o primeiro passo para que pais, educadores, diretores, coordenadores, psicopedagogo, psicólogos e atores envolvidos direto ou indiretamente possam elucidar diversas dúvidas e encontrem saídas de como resolver esse problema da melhor forma possível, porque assim como a vítima, o agressor também pode ter seu futuro comprometido na sua trajetória acadêmica e profissional. No futuro, ele pode continuar com comportamentos não aceitáveis pela sociedade e não conseguir se estabelecer em faculdades, trabalhos e até na própria família. Por essa razão, é imprescindível que haja uma mobilização para intervir e prevenir casos de bullying nas escolas.

Importante criar e dar espaços de escuta para que os alunos possam expor de forma saudável suas reclamações e sugestões de mudanças ou temas a serem abordados de forma ética, fortalecer a autoestima dos alunos, focar em valores essências como respeito ao outro e as diferenças, bem como inclusão, estimular os alunos a informar os casos de bullying que testemunham e em casa é importante que os pais observem atentamente as mudanças de comportamento dos seus filhos e invistam em uma relação de diálogo e confiança para que eles se sintam seguros de expressar o que sentem verdadeiramente.

Viu como o tema “bullying” traz à tona uma gama de questões?

Esperamos que o artigo tenha lhe ajudado a elucidar algumas dúvidas sobre o assunto e acima de tudo despertado para ficar mais atento e buscar mais informações.

  • OBS: Lei sobre o bullying escolar de 2016 foi sancionada no Brasil pela presidente Dilma Rousseff, Lei 13.185, que institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática.
FELIZ NATAL E NOVO ANO e não ESQUEÇAM que a PANDEMIA NÃO ACABOU!

  • Por: Katherine Benevides.
  • Foto: Divulgação.

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