Dois homens armados intimidaram a equipe da Base de Proteção Etnoambiental (Bape) da Fundação Nacional do Índio (Funai), no Vale do Javari, no Amazonas, segundo a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). O caso ocorreu no sábado (15), mas a informação só foi divulgada pela entidade nesta terça-feira (19).
A base está localizada no rio Jandiatuba, em uma região próxima ao local onde o indigenista Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips foram assassinados, em junho.
Segundo a Univaja, era por volta das 17h de sábado (15), quando os homens armados chegaram ao local e perguntaram quantos funcionários estavam trabalhando na base. A entidade contou que eles chegaram a perguntar por indígenas do povo Matis.
Conforme os relatos da equipe que estava na base, o objetivo explícito era intimidar e assediar os servidores que atuam na região. A Univaja não informou o que aconteceu com os dois homens após a ameaça.
A Terra Indígena Vale do Javari abriga a maior quantidade de informações e referências confirmadas de indígenas isolados. É área de constantes conflitos entre pescadores, madeireiros, garimpeiros com indígenas e defensores do meio ambiente.
Ameaças continuam ‘após caso Bruno e Dom’
Mesmo após a forte comoção e repercussão em torno do duplo assassinato de Bruno e Dom, indígenas e servidores da Funai afirmam que continuam sendo alvos constantes de ameaças na região do Vale do Javari.
Além da ameaça registrada no último sábado, outro caso semelhante aconteceu no início do mês, na na sede da Funai, em Atalaia do Norte, município que concentra parte do território do Vale do Javari.
Naquela ocasião, dois homens de nacionalidade colombiana foram à unidade para procurar por um funcionário, em tom intimidador. Após o episódio, servidores disseram que suspenderam o atendimento ao público, por causa do “clima de tensão” e “insegurança”.
O caso também foi denunciado à Funai.
Rio Jandiatuba
Entre fevereiro e março, uma equipe da Frente de Proteção Etnoambiental (FPE/Funai) Vale do Javari realizou monitoramento da área do rio Jandiatuba, e registrou a presença de 19 balsas de garimpo em atividade.
Os agentes identificaram movimentação logística saindo do município de São Paulo de Olivença (AM), além de pontos de retirada de madeira para a construção das balsas próximos da localidade habitada por indígenas isolados. Na ocasião, a equipe também constatou que pessoas que operam as balsas de garimpo no rio Jandiatuba portavam armas de fogo.
Univaja reivindica medidas das autoridades
Diante dos sucessivos casos de ameaças a integrantes da Funai e indígenas, a Univaja voltou a reforçar pedidos de medidas de segurança ao governo brasileiro. No documento, divulgado nesta terça-feira (19), a entidade sugeriu:
Ao governo federal:
- a criação de um Plano Emergencial de Proteção para o Vale do Javari;
- a atuação conjunta da Polícia Federal, do Exército e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) por, no mínimo, seis meses com a Funai nas Bape’s localizadas nos rios Ituí, Curuçá, Quixito e Jandiatuba.
Ao governo estadual:
- a atuação do Batalhão de Polícia Militar Ambiental por, no mínimo, seis meses no trecho do rio Itaquaí entre a cidade de Atalaia do Norte (AM) e a Terra Indígena Vale do Javari – para combater os crimes ambientais.
*G1 Amazonas
- Foto: Divulgação