“A monkeypox na Amazônia não é mais uma ameaça, mas uma realidade”, essa é a avaliação de Jesem Orellana, epidemiologista da Fiocruz/Amazônia, da qual mostra a preocupação com a capacidade das autoridades em conseguirem evitar que a varíola dos macacos (ou monkeypox) avance pela região. Dois dias após a Organização Mundial de Saúde (OMS) classificar a disseminação dessa doença como emergência global, um caso foi confirmado no Acre, estado que faz fronteira com o Peru e a Bolívia. Há uma outra suspeita também no Amazonas.
Segundo a Secretaria de Saúde do Acre, o Estado tinha seis casos suspeitos de monkeypox. Um deles foi confirmado na segunda-feira (25/7), na capital, Rio Branco. O paciente, de 27 anos, viajou para o exterior, e em seu retorno apresentou febre, cansaço físico e pápulas espalhadas pelos braços e abdômen, sendo notificado no último dia 11, pela Unimed.
De acordo com informações do G1, “o quadro [médico] está evoluindo bem, com poucos sintomas, sendo acompanhado pela Secretaria de Saúde de Rio Branco e pela Vigilância Epidemiológica do Estado”.
“Além de estarmos mergulhados em uma emergência sanitária global, passamos a fazer parte formalmente do problema, em cenário de lenta e ineficaz resposta de saúde pública, o que inclui medidas de prevenção e controle que já deveríamos estar adotando massivamente há semanas, seja nos serviços de saúde ou comunidade”, explica o pesquisador da Fiocruz.
Os outros cinco casos que estavam sendo investigados já foram descartados. Na capital acreana, duas unidades estão aptas a receber pacientes: uma de atendimento intermediário e o Pronto Socorro de Urgência e Emergência.
Já no Amazonas, a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS) informa que o Estado tem um caso suspeito, mas não informaram o município. O órgão aguarda emissão de resultado de exames e afirma que “todas as unidades da rede estadual de saúde estão orientadas para realizar atendimento de casos suspeitos, bem como a notificação à FVS e a realização de tratamento”.
Questionada a respeito de ações preventivas, a FVS informou, por meio de nota, que “o governo do Amazonas também tem prevista a realização de campanhas de orientação para a população quanto à doença, assim como acontece em outras situações de saúde pública”.
Os desafios sanitários na região amazônica, o acesso a serviços de saúde e os cortes orçamentários no Sistema Único de Saúde são uma preocupação. “Ainda que o Brasil tenha capacitado outros países das Américas para o diagnóstico laboratorial de monkeypox, em território nacional, os testes seguem sendo feitos em somente quatro laboratórios de referência, todos concentrados na região Sudeste”, explica Orellana. O histórico de como as autoridades sanitárias e os governantes enfrentaram a pandemia, sendo a região Norte, uma das mais atingidas, colabora para esse alerta.
Nas últimas semanas, especialistas vinculados à Fiocruz e de outras instituições passaram a recomendar o uso da nomenclatura monkeypox ou apenas a sigla MPXV para se referir à doença e assim evitar discriminação e estigmacação do macaco e pelo fato do animal não ser o transmissor. A OMS também informou que estuda renomear o nome da doença oficialmente, mas até o momento ainda não se pronunciou sobre a nova nomenclatura.
813 casos no Brasil
Segundo a OMS, a varíola dos macacos é uma zoonose causada pelo vírus monkeypox, do gênero Orthopoxvirus, pertencente à família Poxviridae. A partir de maio de 2022, quando o mundo ainda vivia sob a ameaça de uma nova onda do novo coronavírus, com a cepa ômicron, casos de monkeypox começaram a aparecer em países onde a doença não era comum, como Reino Unido, Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Itália, Portugal e Suécia. Hoje, a OMS possui 14,5 mil casos confirmados no mundo. A endemia já foi confirmada em 16 países.
O boletim até as 12 horas desta segunda-feira da Sala de Situação, criada em maio pelo Ministério da Saúde, ainda não registrava o primeiro caso da doença na região Norte. O Acre ainda aparecia com três casos suspeitos, dois descartados e nenhum confirmado. No dia 22 de junho, o Brasil tinha 11 casos confirmados da doença. No boletim nº 07, de 25 de julho, eram 813 confirmações, sendo que 73% deles eram de São Paulo (595). Atrás, vinham os Estados do Rio de Janeiro (109), Minas Gerais (42), Paraná (19) e Goiás (16).
A monkeypox é uma doença viral, altamente contagiosa, que causa erupções na pele. A transmissão ocorre por contato direto ou indireto com sangue, fluidos corporais, lesões na pele ou mucosas, gotículas respiratórias e materiais contaminados. O contato físico com casos sintomáticos facilita o contágio. “Esta enfermidade também é transmitida por inoculação ou através da placenta (varíola dos macacos congênita). Não há evidência de que o vírus seja transmitido por via sexual”, informa a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
A OMS descreve quadros diferentes de sintomas para casos suspeitos, prováveis e confirmados. O mais aparente são bolhas na pele de forma aguda e inexplicável e esteja em um país onde a “varíola dos macacos” não é endêmica. “Se este quadro for acompanhado por dor de cabeça, início de febre acima de 38,5°C, linfonodos inchados, dores musculares e no corpo, dor nas costas e fraqueza profunda, é necessário fazer exame para confirmar ou descartar a doença”, informa o Ministério da Saúde.
O vírus foi descoberto inicialmente em macacos em um laboratório dinamarquês, em 1958, enquanto o primeiro contágio humano foi em uma criança no Congo, em 1970. Atualmente, roedores, como ratos e cão-da-pradaria, também podem contrair a varíola e, potencialmente, manter o vírus ativo no mundo.
*Amazônia Real com informações do G1
- Foto: Divulgação/OMS | Capa: Neto Ribeiro