Após firmar parceria, Governo do Amazonas encaminha primeira criança cardiopata para cirurgia em São Paulo.
Paciente será atendido no Hospital da Criança e Maternidade de São José do Rio Preto e receberá assistência por meio do Tratamento Fora de Domicílio (TFD)
O pequeno Yran Lucas, de 1 ano e cinco meses, será o primeiro paciente amazonense com cardiopatia congênita a ser encaminhado para cirurgia no Hospital da Criança e Maternidade (HCM) de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, após parceria firmada pelo Governo do Amazonas. A iniciativa, que é uma das ações promovidas pela gestão estadual para reduzir o tempo de espera na fila do Hospital Universitário Francisca Mendes (HUFM), na zona norte de Manaus, vai permitir que o hospital paulista opere crianças amazonenses por meio do Tratamento Fora de Domicílio (TFD).
Com a liberação da equipe médica do Francisca Mendes, Yran e a mãe dele, Mairucy Alencar de Sousa, embarcam para São Paulo na madrugada de segunda-feira (03/02) – a primeira consulta no HCM de São José do Rio Preto está marcada para quarta-feira (05/02). A família mora no ramal do Pau Rosa, na BR-174 (Manaus-Boa Vista), e está hospedada na casa da irmã de Mairucy, no Jorge Teixeira 4, desde que recebeu a notícia de que a cirurgia seria feita fora do estado.
“Ligaram para mim dizendo que era para eu ir no médico porque o governo tinha feito uma parceria, que tinha uma redução na fila de espera e ele havia sido escolhido para fazer a cirurgia para fora. Para mim isso foi muito bom, foi uma esperança, porque eu pensei que isso não ia acontecer como estou vendo que está acontecendo. Na mesma hora eu aceitei ele fazer lá para fora, com o coração na mão, mas mesmo assim eu vou, porque é a saúde do meu filho que está em jogo”, afirmou a mãe.
O Tratamento Fora de Domicílio (TFD) conta com todo o apoio da Secretaria de Estado de Saúde (Susam), que mobilizou a equipe chefiada pela assistente social Maria Mazzarello para atender as famílias que viajarão por meio da parceria com o Hospital da Criança de São José do Rio Preto. Para Mairucy, esse acompanhamento tem sido essencial.
“Está sendo ótimo, a dona Mazzarelo, junto com o pessoal do TFD, está me apoiando e me ajudando em tudo para eu poder viajar com ele. Estão trabalhando para eu ter uma viagem boa e uma estadia boa, porque é a primeira vez que eu saio da cidade, é a primeira vez que eu vou de avião para um canto que eu não conheço. Nisso aí eles estão todos me ajudando e eles estão me apoiando, me dando esperança em ir para lá para que dê tudo certo e, se Deus quiser, que ele volte sarado, com o coração dele renovado”.
Diagnóstico –
Yran Lucas foi diagnosticado ainda na maternidade com uma cardiopatia congênita conhecida como comunicação interventricular, ou sopro no coração, que consiste numa abertura na parede que separa os ventrículos direito e esquerdo. A maioria dessas más-formações se fecha com o tempo, mas muitas precisam de cirurgia corretiva, como no caso do filho de Mairucy.
“Ele é muito sapeca, tenho que cuidar dele direto porque se ele correr, se ele cair, ele chora, ele se cansa rápido. Se ele brincar muito ele já fica cansado. Quando ele come, se come rápido, também ele já fica cansado. Com os remédios que ele toma alivia, mas não é muito”, conta a mãe, que se dedica 24h aos cuidados com o menino.
“Isso é muito difícil para mim, porque eu vejo que o meu filho assim não é uma pessoa normal. Ele é por fora, mas por dentro ele não é como as outras crianças, que podem correr, brincar, fazer o que quiserem. Para mim ele não é assim, para mim ele é como se fosse aquele bebezinho recém-nascido, que eu tenho que estar com ele todo tempo no colo”.
Acompanhamento – A liberação de Yran Lucas para a cirurgia no Hospital de São José do Rio Preto foi precedida por uma bateria de exames e avaliações feita no Hospital Francisca Mendes, em Manaus. Segundo o diretor-clínico da unidade amazonense, Dr. Mariano Terrazas, um Tratamento Fora de Domicílio desse tipo deve durar de 15 a 30 dias.
“A seleção está sendo feita pelos cardiopediatras do serviço, levando-se em conta, primeiro, o tempo que eles estão aguardando; segundo, o tipo de doença que eles têm, se essa doença e o estado clínico permitem a locomoção deles daqui via aérea para São Paulo, porque eles vão em avião normal via TFD, avião comercial, então eles têm que ter condições clínicas seguras para fazer uma viagem; em terceiro lugar, a Secretaria, preocupada com a situação dessas famílias que vão ser deslocadas, está colocando o serviço social da Susam para acompanhar essas crianças, para dar suporte, para que elas não tenham nenhuma dificuldade nesse tempo que elas vão ficar lá”, explicou o médico.
“Estamos selecionando com calma para que na hora que começarmos a mandar não haja nenhuma falha, nenhum risco para a família ou o paciente que vai ser deslocado. A grande coisa é que já houve a iniciativa do governo, o governador viajou e visitou as instituições para que ele visse in loco para onde está mandando essas crianças, e aí nós agora vamos operacionalizar. A fase de operacionalização tem que primar pela segurança do paciente, o paciente só vai ser deslocado quando a gente achar que há segurança para que ele seja deslocado”, completou o diretor-clínico.
Segundo o Dr. Mariano Terrazas, caso algum fator de risco seja identificado durante os exames com as crianças pré-selecionadas pela equipe do Francisca Mendes, esses pacientes permanecerão em Manaus para serem operados no próprio hospital, que tem recebido aportes do Governo do Estado para ampliar a capacidade instalada tanto do centro cirúrgico quanto das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).
“O Francisca Mendes é um hospital que na atualidade está fazendo duas cirurgias cardíacas de adultos e uma cirurgia cardíaca de pacientes pediátricos (por dia). Isso é insuficiente, e nós já solicitamos da Susam o aumento da nossa capacidade instalada, o que já está sendo feito. Nós prevemos que dentro de três meses a gente possa aumentar essa capacidade de atendimento”.
Francisca Mendes reestruturado – De acordo com o secretário Estadual de Saúde, Rodrigo Tobias, a realização de cirurgia por TFD não foi a única medida tomada pelo governador Wilson Lima para reduzir o tempo de espera de quem está na fila da cirurgia cardíaca. O governo iniciou ainda no ano passado um plano de reestruturação do Hospital Francisca Mendes.
As primeiras medidas já trouxeram resultados. O hospital realizou 52 cirurgias cardíacas em janeiro de 2020, um aumento de 67% em comparação com janeiro de 2019, quando 31 cirurgias foram realizadas.
Após o conserto das duas máquinas de hemodinâmica, 202 procedimentos também foram realizados no mês de janeiro, entre cateterismo, colocação de marca-passo, angiografia, arteriografia e outros.
De imediato, foram investidos R$ 1 milhão para instalar seis monitores multiparamétricos, quatro ventiladores pulmonares adultos e 130 acessórios de equipamentos. Os equipamentos começaram a ser instalados na última semana.
O reforço vai possibilitar a ampliação de sete leitos, sendo três infantis, além de aumentar o número de cirurgias cardíacas adultas e pediátricas de 15 para 25 por semana.
Sobre o HCM – Com uma estrutura de oito andares, além de térreo e subsolo, com capacidade para 180 leitos, o Hospital da Criança e Maternidade (HCM) de São José do Rio Preto ocupa uma área de 18 mil metros quadrados e integra um dos maiores complexos hospitalares do estado de São Paulo. A unidade já tratou mais de 4 mil crianças cardiopatas de todo o Brasil, incluindo de estados da região Norte, como Tocantins e Rondônia.
O HCM de São José do Rio Preto também tem uma parceria com a fundação Children’s HeartLink, especializada no tratamento de crianças com doenças cardíacas. A fundação treina equipes médicas locais nos países em que atua, possibilitando que as crianças sejam tratadas em seu próprio país.
- Imagem: Michell Mello e Tácio Melo/Secom
- Fonte: Secom