As parteiras chamadas tradicionais são mulheres que prestam assistência a parturientes antes, durante e após seus partos. Essa prática foi institucionalizada nos documentos oficiais do Ministério da Saúde (MS), e é atribuída a parteiras índias, não índias e quilombolas que atuam na assistência ao parto domiciliar, com base em saberes e práticas tradicionais, tendo o reconhecimento da sua comunidade conforme Christine Ranier Gusman, organizadora da obra: Paradoxos do programa de parteiras tradicionais no contexto das mulheres Krahô.
No sábado (27/8), o Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) e a Associação das Parteiras Tradicionais do Amazonas (APTAM) Algodão Roxo validaram o conteúdo final da nova edição do Guia das Parteiras Tradicionais, durante a primeira reunião da nova diretoria da entidade.
O guia deverá ser publicado até o final deste ano, pela Editora Rede Unida, e faz parte das atividades do Projeto Redes Vivas e Práticas Populares de Saúde: Conhecimento Tradicional das Parteiras e a Educação Permanente em Saúde para Fortalecimento da Rede de Atenção à Saúde da Mulher no Estado do Amazonas, desenvolvido pelo Laboratório de Pesquisa em História e Ciências da Saúde na Amazônia (Lahpsa), da Fiocruz Amazônia, com apoio do Ministério da Saúde, Secretaria de Estado da Saúde (SES-AM), Projeto Inserção das Parteiras tradicionais nas equipes da Atenção Básica no Estado do Amazonas e Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá – IDSM. O projeto é coordenado pelo pesquisador e chefe do Lahpsa, Júlio César Schweikardt.
O guia é um material adaptado à realidade amazônica e poderá ser utilizado pelas próprias parteiras e profissionais da rede de saúde. Ele reúne informações referentes aos procedimentos, direitos e ações das parteiras, com linguagem acessível e o olhar das parteiras sobre conceitos ligados ao corpo da mulher, da gestação ao pós-parto, entre outros aspectos. A publicação foi o resultado do trabalho de uma equipe multiprofissional, composta por pesquisadores do ILMD/Fiocruz Amazônia, alunos de pós-graduação, profissionais de saúde com especialização em atenção à saúde da mulher e as parteiras.
No Amazonas, a parteira tradicional ainda representa uma referência sobre os tipos de conhecimento que convergem em distintos momentos de atuação, antes, durante e após o parto, mantendo um acompanhamento direto nas comunidades.
A relação de confiança e de solidariedade estabelecida pelas redes de parentescos e compadrio nas comunidades rurais coloca as parteiras num lugar especial e central nessas conexões de cuidados com a saúde das parturientes. Ela é alguém que divide um cotidiano de vida e cultura, história, costumes e cultura.
Ultrapassando gerações, o papel das parteiras nessa dinâmica de constantes mudança implica em viabilizar seus papeis como agentes de mediação. o papel das parteiras, embora ressignificado, ainda é fundamental para a saúde reprodutiva das mulheres em comunidades rurais.
No contexto da medicalização do parto, a parteira assume também um papel de mediação, ideia esta ligada a um movimento entre territórios sociais com suas lógicas distintas. O acompanhamento das parteiras, com suas habilidades, técnicas corporais, seus remédios caseiros e suas formas de ver, estar e atuar no mundo, ainda faz parte do cotidiano das mulheres. Assim, a interação entre os conhecimentos científicos e os tradicionais acontece mesmo quando invisibiliza as práticas e os conhecimentos das parteiras. Todavia, reconhecer essas outras práticas deve ser um caminho para o desenho de políticas públicas que sejam mais adequadas à realidade social das mulheres na Amazônia conforme Rônisson de Souza de Oliveira; Nelissa Peralta e Marília de Jesus Silva e Sousa.
Fonte: ILMD – Fiocruz Amazônia e artigo científico: As parteiras tradicionais e a medicalização do parto na região rural do Amazonas.
- Fonte: Assessoria de comunicação
- Imagem: Divulgação / Ilustração Marcus Reis