O presidente da Rússia, Vladimir Putin, durante um pronunciamento televisionado nesta quarta-feira, 21/9, ordenou a primeira mobilização nacional do país desde a 2ª Guerra Mundial. No anúncio, ele ‘alerta’ o Ocidente que, se a “chantagem nuclear” continuar, Moscou responderia com seu vasto arsenal atômico.
A medida prevê mobilização de até 300 mil reservistas para lutar na Guerra da Ucrânia, evidenciando as dificuldades que a Rússia enfrenta em sua invasão do país, com as retomadas de território pelas forças ucranianas e a dificuldade dos russos em tomar Kiev e derrubar o governo do presidente Volodmir Zelenski.
No pronunciamento (pré-gravado) transmitido na TV, Putin disse também que irá proteger as populações de território ocupados que pretende anexar após referendos a serem feitos em quatro regiões ucranianas no leste e no sul do país a partir de sexta, e que está disposto fazer isso com armas nucleares contra os EUA e aliados que apoiam Kiev.
“Se a integridade territorial de nosso país estiver ameaçada, usaremos todos os meios disponíveis para proteger nosso povo – isso não é um blefe”, disse Putin. Segundo ele, a Rússia enfrenta “1.000 km de linhas de frente contra o Ocidente na Ucrânia” — referência à ajuda de bilhões de dólares em armas e inteligência fornecidas à Kiev por EUA e outros países do Ocidente. “Na sua política agressiva antirrussa, o Ocidente cruzou todas as linhas”, disse Putin.
A medida ocorre um dia depois de quatro regiões controladas por Moscou no leste e no sul da Ucrânia anunciarem que farão referendos para se juntar à Rússia. As duas regiões separatistas do Donbas, Donetsk e Luhansk, junto com Kherson e Zaporizhzia pretendem conduzir as votações ainda nesta semana em um ato que busca impedir as investidas ucranianas para retomar essas áreas.
Na prática, caso a população aprove a anexação, Moscou passaria a considerar as quatro regiões como parte de seu próprio território, tornando uma agressão ucraniana a essas áreas um ataque à nação russa, e propícia a retaliações inclusive com armas nucleares – a doutrina nuclear russa prevê o uso da bomba em caso de ataques.
Os anúncios de referendos ocorrem depois de um aliado próximo do presidente russo dizer que a votação era necessária, já que Moscou perde terreno na guerra que começou há quase sete meses. O ex-presidente russo Dmitri Medvedev disse que dobrar as regiões para dentro da própria Rússia tornaria as fronteiras redesenhadas irreversíveis e permitiria a Moscou usar qualquer meio para defendê-las.
“Invadir o território russo é um crime que permite que você use todas as forças de autodefesa. É por isso que esses referendos são tão temidos em Kiev e no Ocidente”, disse Medvedev em um post no Telegram, onde acrescentou que tal ato não poderia ser revertido constitucionalmente por futuros líderes da Rússia.
Ainda durante o pronunciamento, o presidente russo acusou o Ocidente de ultrapassar todos os limites de agressão à Rússia e que o apoio ocidental às forças da Ucrânia é uma forma de transformar o povo ucraniano em “bucha de canhão” e impedir a paz entre os países.
Dentre as medidas anunciadas, estão o financiamento da produção de armas e conferir status legal aos voluntários combatendo no Donbass. Os eventos de mobilização militar devem começar ainda nesta quarta.
O presidente afirmou que o objetivo era “libertar” a região do Donbas, no leste da Ucrânia, e que a maioria das pessoas na região não queria retornar ao que ele chamou de “jugo” da Ucrânia. Ele disse ainda apoiar as pessoas que propõem referendos nas áreas sob controle russo sobre a possibilidade de anexação dos territórios.
Em anúncios anteriores de referendos em regiões como Melitopol, o Ocidente e a Ucrânia afirmaram que não reconheceriam a anexação. Mas é improvável que os países ocidentais permitam o uso de seus equipamentos militares para atacar uma região que a Rússia considera sua. Uma das condições para que os aliados da Otan enviassem armamentos pesados para Kiev era o de não utilizar contra territórios russos – já que Moscou poderia considerar isso um ato de agressão da Otan e envolver os países na guerra.
- Fonte: Cenarium
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