Faltando apenas nove dias do fim da Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite, menos de 50% das 141 mil crianças de 1 a 4 anos que fazem parte do público-alvo da mobilização foram levadas a uma unidade de saúde da capital para receber a vacina.
O levantamento da Prefeitura de Manaus aponta para o risco de retorno da doença, erradicada no Brasil em 1994.
Em Manaus, a campanha é executada pela Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) e foi iniciada em agosto. A ação deveria ter sido encerrada no início de setembro, mas foi estendida pelo Ministério da Saúde até o próximo dia 30 deste mês, por conta da baixa procura em todo o país. Na capital, 171 unidades básicas têm a vacina disponível, sendo que parte delas atende à noite e aos sábados.
A diretora de Vigilância Epidemiológica, Ambiental, Zoonoses e da Saúde do Trabalhador da Semsa, enfermeira Marinélia Ferreira, ressalta que o município deve ter uma cobertura vacinal de 95% para ter uma população protegida. “O fato de não termos esse índice causa uma população de suscetíveis ou vulneráveis para a doença”, orienta a enfermeira.
Das 141.139 crianças esperadas para a vacinação, apenas 65.005 foram vacinadas durante a campanha, o que representa cobertura de apenas 46,1% do público esperado. A meta é que 95% das crianças sejam imunizadas contra a doença.
O Distrito de Saúde (Disa) Rural apresenta o melhor desempenho, com 90% das crianças vacinadas. O número cai consideravelmente na área urbana, com 53,3% de cobertura no Disa Leste; 47,7% no Disa Oeste; 42,6% no Disa Norte; e 37% no Disa Sul.
Vulnerabilidade
Apesar do vírus da poliomielite ter sido eliminado do Brasil, ele está circulando de forma ativa em outras partes do mundo, como em Israel e nos Emirados Árabes. No dia 9 de setembro, o estado de Nova York (EUA) declarou situação de emergência depois da descoberta de amostras do vírus e confirmação de um caso em uma pessoa adulta.
“A ilusão de que o vírus não circula mais no mundo é um dos fatores que afeta a adesão. O vírus existe, circula e se adequa a qualquer ambiente, e hoje não se conhece mais fronteiras no mundo. As pessoas estão em um país ou continente, e horas depois podem estar em outro continente, e ela pode sim levar a doença e o vírus se ela não tiver a proteção adequada” conta a enfermeira, Marinélia Ferreira.
A dirigente também ressalta que os pais da nova geração nunca viram alguém diagnosticado com a poliomielite, e por isso, muitas vezes, acabam negligenciando a vacina. Além disso, a propagação de fake news também atrapalham o avanço da imunização.
“Na década de 70 e 80, era comum termos colegas com sequelas da pólio, com algum tipo de paralisa nos membros. Até certo período, o ‘Dia D’ de vacinação era uma grande festa nas cidades, onde a meta de 95% chegava de ser alcançada em um único dia”, lembra a enfermeira.
Os últimos casos de poliomielite registrados no Amazonas foram em 1988, com quatro casos confirmados, sendo dois em Manaus, conforme o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde.
Orientação
A orientação é que os pais ou responsáveis busquem qualquer sala de vacina de Manaus, levando um documento oficial de identificação e a caderneta de vacinação da criança, para que os vacinadores da Semsa avaliem qual dose ele precisa tomar. Se a família perdeu o cartão, também deve buscar a unidade básica para atualizar a situação.
“O vírus da poliomielite pode ser contraído por meio da água ou alimentos contaminados, e também é eliminado pelas fezes. Ele é mais agressivo em crianças menores de 5 anos de idade, por isso é muito conhecido como paralisia infantil, podendo afetar inclusive órgãos vitais, como pulmão, com sequelas permanentes. Precisamos urgentemente vacinar nossas crianças para protegê-las”, reforça Marinélia.
A Semsa oferta 171 salas de vacina para receber esse público, cujos endereços e horários podem ser conferidos no site da Semsa.
- Fonte: G1
- Foto: Divulgação